Zanin reforça suspeita sobre atuação de Marcelo Bretas, alvo no TRF2
Responsável pela Lava Jato no Rio, juiz federal que autorizou ação contra advogados de Lula será julgado por participar de ato político com Bolsonaro. “Objetivo era me tirar ou tirar o meu tempo da defesa do ex-presidente e nos outros casos em que eu atuo. Só que isso não vai acontecer”, rechaça advogado. “Estamos às vésperas de um julgamento que pode reconhecer a suspeição do ex-juiz Sergio Moro e que pode restabelecer os direitos de Lula”
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O Tribunal Regional Federal da 2ª Região vai julgar, na próxima semana, a conduta do juiz federal Marcelo Bretas, do Rio de Janeiro. Ele está sob suspeita por participar de eventos políticos ao lado do presidente Jair Bolsonaro e do prefeito do Rio, Marcelo Crivella. Bretas foi quem autorizou, na quarta-feira, 9 de setembro, a operação de busca e apreensão, protagonizada por agentes da Polícia Federal, no escritório e na casa dos advogados Cristiano Zanin Martins e Roberto Teixeira, que atuam na defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
No material recolhido do escritório de Zanin estava a única cópia do disco rigído de computador com os grampos ilegais autorizados por Sérgio Moro, que capturaram de maneira abusiva conversas de Lula com seus advogados. “Estamos às vésperas de um julgamento que pode reconhecer a suspeição do ex-juiz Sergio Moro e que pode restabelecer os direitos do ex-presidente Lula”, reforçou, na entrevista concedida à Folha.
Zanin e Teixeira estão sendo investigados sob o pretexto que teriam participado de supostos desvios na Fecomércio do Rio. Os advogados negam e acusam Marcelo Bretas de atuar para intimidá-los por conta das denúncias que têm feito contra os abusos cometidos pela Lava Jato de Curitiba. “Violaram o sigilo da nossa profissão, a inviolabilidade do escritório e do material de trabalho do advogado”, reagiu Zanin, em entrevista à Folha, publicada nesta sexta-feira, 11 de setembro. “Isso é crime: desde 2019 está tipificado em lei”.
O julgamento de Bretas está marcado para a próxima quinta-feira, 17. O juiz começou a ser investigado em maio pelo TRF2 por determinação do atual presidente do Superior Tribunal de Justiça, Humberto Martins, então corregedor nacional de Justiça. Na operação de quarta-feira, Bretas ordenou a ação de busca e apreensão também na casa do filho do presidente do STJ, o advogado Eduardo Martins, além de colocar Zanin e Teixeira como alvos. O filho do ministro é investigado sob suspeita de ter recebido R$ 82 milhões. Ele foi delatado por Orlando Diniz, ex-dirigente da Fecomércio do Rio.
Na entrevista à Folha, Zanin reitera que prestou todos os serviços como advogado, ao colocar seu escritório para atuar na defesa da Fecomércio. Ele diz que tem provas de que os serviços foram prestados e se irritou com as alegações feitas pelos procuradores da Lava Jato do Rio. “O que posso dizer, e poderia ter dito para a Lava Jato, se não tivessem invadido o nosso escritório e a minha casa antes de fazer a pergunta, é: nós contratamos com uma entidade privada e prestamos todos os serviços descritos no contrato”, declarou à Folha.
Está tudo interligado. Não há essa independência que você está dizendo. Basta ver a Vaza Jato, que a Folha cobriu. Todos eles [procuradores e juizes] ali têm comunicações paralelas e agem com uma sintonia de atuação entre essas forças-tarefas”
“O momento em que essa operação ocorreu mostra bem a sua finalidade, de intimidar advogados que atuam na Operação Lava Jato”, acusa Zanin. “De outro lado, tenta ofuscar as vitórias que obtivemos recentemente, que reconheceram as ilegalidades e a atuação com caráter político da Lava Jato”. Ele aponta que a operação da PF teve como objetivo ofuscar as vitórias que a defesa tem obtido em cortes, inclusive no Supremo Tribunal Federal, no caso de Lula. “A ação da PF tenta esconder o que está sendo reconhecido pelos tribunais”, sustenta.
Zanin lembrou que as provas dos abusos cometidos por procuradores da Lava Jato e pelo ex-juiz Sérgio Moro surgiram ao longo do ano passado, quando o Intercept Brasil e outros órgãos de imprensa, inclusive a Folha de S.Paulo, revelaram a troca de mensagens entre membros do MPF e o juiz paranaense, no que se convencionou chamar de Vaza Jato. “Está tudo interligado. Não há essa independência que você está dizendo. Basta ver a Vaza Jato, que a Folha cobriu. Todos eles [procuradores e juizes] ali têm comunicações paralelas e agem com uma sintonia de atuação entre essas forças-tarefas”, destacou.
Da Redação, com informações da Folha de S.Paulo