4º Relatório de Transparência Salarial: mulheres recebem 21,2% a menos que os homens
Entre 2023 e 2025, número de mulheres no mercado de trabalho aumentou; se os rendimentos acompanhassem essa evolução, seriam adicionados R$92,7 bilhões à economia
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Os Ministérios do Trabalho e das Mulheres apresentaram na tarde de ontem (3), os resultados do 4º Relatório de Transparência Salarial e Critérios Remuneratórios. Nas empresas avaliadas com 100 ou mais empregados, foi constatado que as mulheres recebem, em média, 21,2% a menos que os homens.
A remuneração média das mulheres é de R$3.908,76, enquanto a dos homens é de R$4.958,43, ou seja: as trabalhadoras recebem R$1.049,67 a menos, considerando o salário médio nas 54.041 empresas avaliadas.
O estudo analisou 19.423.144 vínculos trabalhistas, sendo 30% de mulheres e 70% de homens, com base nas informações prestadas na Relação Anual de Informações Sociais (RAIS). A divulgação do relatório é obrigatória, conforme previsto na Lei 14.611/2023 de promoção da igualdade salarial entre mulheres e homens que exercem a mesma função. No Brasil, a igualdade salarial já é garantida pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) desde 1943, porém não é cumprida em diversos segmentos.
Os estados com maiores diferenças salariais são Paraná (28,5%) e Rio de Janeiro (28,5%), seguidos de Santa Catarina (27,9%), Mato Grosso (27,9%) e Espírito Santo (26,9%). Os estados com menores diferenças são: Piauí (7,2%), Amapá (8,9%), Acre (9,1%), Distrito Federal (9,3%), Ceará (9,9%) e Pernambuco (10,4%).
De acordo com o MTE, os principais motivos apontados pelas empresas para a diferença salarial são tempo de experiência na empresa (78,7%), metas de produção (64,9%) e plano de cargos e salários ou carreira (56,4%).
Ao comentar os dados do 4º Relatório de Transparência Salarial e Critérios Remuneratórios, o ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, destacou os avanços e desafios na implementação da Lei de Igualdade Salarial, enfatizando a importância de políticas públicas efetivas para combater a desigualdade de gênero no mercado de trabalho: “Estamos começando a caminhar com a Lei de Igualdade, e isso é resultado da persistência do presidente Lula para criar a norma. Até queríamos uma lei mais abrangente, mas não foi possível”.
A ministra das Mulheres, Márcia Lopes, reforçou a importância de intensificar a mobilização em defesa das pautas femininas, como a legislação da igualdade salarial, que é um direito: “A lei existe e deve ser cumprida, mas é difícil mudar uma cultura e fazer com que mulheres e homens recebam o mesmo salário na mesma função.”
Desigualdade por raça permanece alta
O relatório indica que aumentou em 21,1% o número de estabelecimentos com pelo menos 10% de mulheres negras, passando de 29 mil para 35 mil. No mesmo período, subiu em 6,4% o número de estabelecimentos com diferença salarial de até 5% entre homens e mulheres, de 16,7 mil para 17,8 mil.
Ainda assim, as diferenças salariais entre mulheres negras e homens não negros permanecem elevadas. A diferença nos salários medianos de admissão é de 33,5% (R$ 1.836,00 para mulheres negras e R$ 2.764,30 para homens não negros), enquanto o rendimento médio chega a 53,3% (R$ 2.986,50 para mulheres negras e R$ 6.391,94 para homens não negros).
“É inaceitável que mulheres negras recebam metade do rendimento de homens não negros. Precisamos intensificar medidas que corrijam essas distorções, ampliar políticas de apoio como licença-paternidade e auxílio-creche, e engajar a sociedade na redistribuição do trabalho doméstico e de cuidado”, condenou a ministra das Mulheres.
A representante da ONU Mulheres no Brasil, Ana Querino, também participou da cerimônia de apresentação do relatório. Ela destacou que, globalmente, a desigualdade salarial atinge 20%. “Para as mulheres negras, a realidade é ainda pior: elas recebem 46% menos do que um homem branco”, informou.
Segundo Paula Montagner, subsecretária de Estatísticas e Estudos do Trabalho do MTE, “as empresas precisam discutir um plano de ação que promova a igualdade salarial entre homens e mulheres”. É preciso avançar neste assunto.”
Em dois anos, houve crescimento no número de mulheres trabalhando
Outro dado que o relatório divulgou foi que, entre 2023 e 2025, a proporção de mulheres ocupadas aumentou de 40% para 41,1%, elevando o número de empregadas de 7,2 milhões para 8 milhões.
Apesar do aumento, se a massa de rendimentos acompanhasse a participação feminina no mercado, seriam adicionados R$92,7 bilhões à economia. Ou seja: enquanto as mulheres não ganharem o mesmo que os homens, a economia do país seguirá perdendo, e muito.
Sobre o aumento da participação feminina no mercado de trabalho, o levantamento revelou que dados do IBGE e da PNAD Contínua, mostram que, entre o segundo trimestre de 2016 e o segundo trimestre de 2025, as mulheres ocupadas passaram de 37,9 milhões para 44,6 milhões, enquanto os homens passaram de 51,9 milhões para 57,7 milhões.
Da Redação do Elas por Elas, com informações do MTE
