8/1: “Estavam dispostos a atentar contra nossa vida”, diz PM espancada

Depoimento da cabo Marcela Pinno e novas provas entregues à CPMI do Golpe mostram que o 8 de Janeiro foi uma ação golpista e violenta que contou com a cumplicidade da cúpula de segurança do DF

Adilson Rodrigues/Agência Senado

A policial militar Marcelo Pinno: "Se não fosse os meus colegas de trabalho, certamente eu não estaria aqui"

Como imaginado, a ex-subsecretária de Inteligência do Distrito Federal Marília Ferreira de Alencar aproveitou um habeas corpus concedido pelo ministro Nunes Marques, do Supremo Tribunal Federal (STF), e não atendeu à convocação da CPMI do Golpe, que esperava ouvi-la nesta terça-feira (12).

Sua ausência, porém, não evitou que a comissão parlamentar mista de inquérito avançasse nas investigações sobre a tentativa de golpe de Estado, graças ao depoimento da cabo Marcela da Silva Morais Pinno, que quase perdeu a vida no dia do ataque às sedes dos Três Poderes.

O depoimento da policial militar, somado a documentos recolhidos pela CPMI, deixaram ainda mais claro que o 8 de Janeiro foi um ataque planejado por bolsonaristas, muitos deles militares reformados, e que só ocorreu porque figuras importantes da Segurança do Distrito Federal, especialmente da cúpula da PM, assim permitiram.

Marcela Pinno contou que se tornou policial militar em 2019, sendo imediatamente integrada ao Batalhão de Choque da PMDF. E ressaltou que, nestes quatro anos de atuação, jamais esteve diante de agressividade tão grande quanto a que enfrentou em 8 de janeiro, jogando por terra o discurso bolsonarista de que o atentado foi um simples ato político com alguns excessos.  

“Estavam dispostos a tudo, inclusive atentar contra a nossa vida, como foi feito. Se não fosse os meus colegas de trabalho, certamente eu não estaria aqui”, contou a policial, que chegou a ser lançada de uma altura de três metros e só não morreu porque o capacete blindado que usava protegeu sua cabeça de um violento golpe desferido com barra de ferro.

Avisada pela Abin, PMDF não agiu como devia

O deputado federal Rogério Correia (PT-MG), então, relacionou o depoimento da cabo com alguns documentos entregues à CPMI. O primeiro é um relatório elaborado pela Abin (Agência Brasileira de Inteligência) e enviado, dias antes dos ataques, para o comando da PMDF.

O documento continha avisos sobre planos de invasão das sedes dos Três Poderes por bolsonaristas. “Destaca-se a convocação, por parte dos organizadores, de caravanas para o deslocamento de manifestantes com acesso a armas (CACs) e a intenção manifesta de invadir o Congresso Nacional”, informava um desses alertas, emitido em 6 de janeiro. No dia seguinte, outro aviso: “Mantêm-se convocações para ações violentas e tentativas de ocupações de prédios públicos”.  

O documento da Abin menciona ainda a participação de militares reformados, inclusive alguns ex-membros das Forças Especiais, tanto no 8 de Janeiro quanto na tentativa de invasão da sede da Polícia Federal ocorrida semanas antes, em 12 de dezembro. 

Os informes, concluiu Correia, explicam por que a cabo Marcela foi surpreendida pelo nível de agressividade dos terroristas. “Essas pessoas que feriram a senhora e outros policiais, elas vieram aqui para esse tipo de ato e foram arregimentados por financiadores. Por isso, vocês encontraram tanta dificuldade”, ressaltou o deputado.

Comandantes a favor do golpe

No entanto, outra pergunta se impõe após a leitura do documento da Abin: por que, mesmo avisada, a PMDF descumpriu o planejamento de segurança que havia sido feito e não colocou o efetivo necessário na Esplanada dos Ministérios no dia 8, posicionando apenas algumas dezenas de policiais do choque no local?

A resposta, mostrou o deputado, está na denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) ao pedir a prisão de sete membros da cúpula da PMDF no último 18 de agosto. Nela, o Ministério Público revela algumas mensagens trocadas entre os coronéis que formavam o comando da Polícia Militar de Brasília.

Rogério Correia destacou uma dessas trocas de mensagens, realizada em 7 de janeiro entre o coronel Paulo José Ferreira de Sousa Bezerra, então chefe interino do Departamento de Operações (DOP), e o coronel Marcelo Casimiro Vasconcelos Rodrigues, que chefiava o 1º Comando de Policiamento Regional.

“Tô aqui novamente em frente ao QG. Eu digo que daqui para amanhã, vai ser uma multidão de gente. Pelo que eu entendo, amanhã eles descem para a Esplanada. Eu tô com muita esperança que vamos conseguir reverter essa lambança que esses petistas malditos fizeram aqui no nosso país. Com fé em Deus, nós vamos reverter isso aí”, escreveu o coronel Paulo José.

E o coronel Marcelo Casimiro respondeu: “Vamos avaliando. No final do dia, conversamos para tomar as decisões para amanhã”.

Rogério Correia concluiu, então, que não há mais dúvidas de o 8 de Janeiro contou com o apoio dos PMs hoje presos. “O comandante da Polícia Militar era favorável aos vândalos. Dizia que eles estavam certos. Vocês enfrentaram não apenas os vândalos, mas uma força que agia para que o Brasil sofresse um golpe contra a sua democracia”, disse o deputado a Marcela.

“Horda organizada e violenta” 

Também presente na sessão o senador Rogério Carvalho (PT-SE) ressaltou que o país vive hoje uma disputa sobre como a sociedade deve se organizar: de maneira democrática ou autoritária.

“(O que aconteceu com) a senhora”, disse o senador à policial, “é o retrato de que havia uma horda organizada, violenta, treinada para invadir a sede dos Três Poderes, custasse o que custasse. E a senhora foi vítima da violência, da agressão, e qualquer um que se colocasse à frente seria atingido da mesma forma. A senhora não morreu porque o capacete a protegeu”, disse.

“O golpe foi orquestrado ao longo de quatro anos, todas as provas mostram isso. E o 8 de Janeiro foi um ato de terrorismo contra o Brasil, contra os brasileiros, contra as instituições, principalmente contra o povo do Brasil”, concluiu Carvalho.

Da Redação

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