83,7% dos eleitores de Bolsonaro acreditaram em farsa do “kit gay”
Pesquisa revelou que eleitores acreditaram em farsa amplamente divulgada pelo candidato do PSL e por seus apoiadores pelo esquema do WhatsApp
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As fake news divulgadas por Jair Bolsonaro e por apoiadores podem ter influenciado profundamente o resultado das Eleições 2018. A Pesquisa Ideia Big Data/Avaaz mostrou que 83,7% dos eleitores do candidato do PSL acreditaram na falsa informação de que Fernando Haddad distribuiu um suposto “kit gay” para crianças em escolas quando era ministro da Educação.
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) chegou a proibir Bolsonaro de disseminar a fake news em sua campanha, mas o candidato não acatou a decisão e continuou usando o material falso em sua propaganda eleitoral. Além disso, a pesquisa mostrou que outras quatro notícias falsas foram compartilhadas por seus apoiadores e que 98,2% dos eleitores de Bolsonaro foram expostos a uma ou mais fake news.
Do total, segundo a pesquisa, 40% das pessoas ouvidas afirmaram ter mudado de posição nas últimas semanas de “oposição” ou “com dúvidas” sobre Bolsonaro para “decididos” ou “considerando votar” nele, segundo o Congresso Em Foco. Essa mudança se deu no mesmo período em que as fake news atingiram o ápice nas redes sociais, por meio do esquema ilegal de disseminação de mensagens em massa pelo WhatsApp.
O jogo sujo de Bolsonaro
Além da fake news do ‘kit gay’, a campanha de Bolsonaro foi diretamente responsável por disseminar outros absurdos, todos devidamente desmentidos por Haddad e por veículos da imprensa em geral. A pesquisa mostrou que 74% dos eleitores do candidato do PSL acreditaram que haveria fraude nas urnas eletrônicas, em sintonia com o discurso dele.
O jogo sujo de Bolsonaro foi responsável por fazer com que 74,6% de seus eleitores acreditassem que Haddad defendia a prática de pedofilia e do incesto. Quem votou no candidato do PSL também acreditou que R$ 600 milhões foram pagos a duas revistas para difamar Bolsonaro.
Na propaganda caluniosa do ‘kit gay’, o candidato do PSL afirmou, em vídeo publicado em diversas redes sociais, que um livro que segurava na mão é “uma coletânea de absurdos que estimula precocemente as crianças a se interessarem pelo sexo”. Mesmo com a explicação do Ministério da Educação (MEC) de que a obra mostrada não pertence à pasta, não a adquiriu e nem foi distribuída, Bolsonaro continuou a mentir sobre o ‘kit gay’ até o fim da campanha e nos seus primeiros discursos após eleito.
Redes sociais, ‘terra de ninguém’
A pesquisa revelou ainda que 29% dos entrevistados estão muito preocupados com a disseminação de notícias falsas. Outros 31% estão preocupados, mas 40% não tem nenhuma preocupação a respeito. Ainda segundo o Congresso em Foco, quase 80% das pessoas acreditam que as empresas de redes sociais deveriam enviar correções de notícias falsas, após verificação de plataformas de checagens independentes.
O fundador e CEO da Avaaz, Ricken Patel, acredita que o Facebook e o WhatsApp precisam tomar medidas urgentes para impedir que eleições sejam fraudadas com notícias falsas. “Não podemos deixar que a criptografia do WhatsApp seja uma “terra de ninguém” para atividades criminosas”.
“Ativistas pela democracia em países autoritários usam aplicativos mais bem encriptados como o Signal. No mínimo, o WhatsApp deveria ter como padrão uma ‘proteção contra a desinformação’, dando aos usuários a opção de protegerem suas democracias e a si mesmos das fake news. Outras eleições se aproximam, como nos EUA, Índia e Europa; Zuckerberg tem semanas, e não meses, para tomar uma atitude”, afirmou em entrevista.
Da Redação da Agência PT de Notícias, com informações do Congresso em Foco