Elas Por Elas TVPT | ‘A nossa luta não é moda de hashtag. Quem quiser vir conosco, vai ter que saber da nossa história’, Ieda Leal
Resistência e emoção marcaram a live do Elas Por Elas na TVPT dessa semana com Preta Ferreira, do movimento Sem Teto, e Ieda Leal, do Movimento Negro Unificado
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Nesta tarde, o programa Elas Por Elas da TVPT recebeu Preta Ferreira, ativista pelo Movimento Sem Teto, e Ieda Leal, do Movimento Negro Unificado. Com o tema “Nem fome, nem execuções, nem Covid: povo negro quer viver”, a âncora Anne Moura, secretária nacional de mulheres do PT, conversou com as convidadas sobre a situação da população negra frente à pandemia.
“O Covid é só mais uma arma para matar a população preta e indígena”, abriu Preta Ferreira que falou sobre a necropolítica vigente no Estado brasileiro que visa ‘vigiar, punir e matar a população preta’. Segundo a ativista, a população preta sempre encontrou meios para sobreviver diante de uma política estatal hostil e genocida, portanto desenvolveu as próprias políticas de sobrevivência. Portanto a vulnerabilidade dos negros e negras à Covid-19 não é culpa apenas do vírus, mas de todo uma estrutura estatal que aprofunda a desigualdade e o genocídio dessa população de diversas formas.
Ieda Leal, do MNU, corrobora com Preta Ferreira e explica que o Covid é uma arma letal como tantas outras que o Estado utiliza para atacar o povo negro. Ou seja, quando o governo não faz nada e diz que a ‘a culpa é do vírus’, eles tiram a própria responsabilidade.nessa tragédia.
Nesse sentido, o Coronavírus deixa ainda mais evidente o genocídio da população negra, fortalecido pela estrutura dos brancos da direita fascista.
“Uma fila de auxílio emergencial hoje é criminosa. Uma demora no dinheiro é crime. As pessoas voltarem para a sala de aula é crime. Eles sabem o que precisa fazer. O Brasil tem dinheiro que precisa dividir e eles não fazem. Um país sem gente não é nada. Essa história ‘Eu quero respirar’ acontece desde o dia que nós negros chegamos aqui. E hoje nós temos ditadores e fascistas, nós temos que derrubar quem está querendo nos matar.”, Ieda Leal, MNU
Mobilização virtual e hashtags
Anne Moura, secretária nacional de mulheres do PT, que é manaura, de raízes indígenas, falou sobre a vulnerabilidade dos povos das águas e da floresta e trouxe um elemento importante para reflexão: os ataques aos povos indígenas e à população negra vem acontecendo há séculos e acontecem todos os dias, indiscriminadamente, como lidar com um ou outro caso que toma repercussão, as pessoas se mobilizam virtualmente e depois voltam ao silêncio, como se todos os casos se resumissem apenas àquele. “Fica parecendo que a luta começa a partir do fato que vira evidência. Quando, na verdade, isso vai sendo banalizado. A solidariedade não pode ser só na hashtag”, evidenciou Anne.
Preta Ferreira abriu o debate relembrando pessoas importantes que só foram reconhecidas depois que morreram como Marielle e Gabriel e reforçou esse incômodo de ações pontuais.
“Se a cada 23 minutos morre um jovem negro nas mãos dos fascistas, temos que falar disso o tempo todo”, pontou a ativista.
Ela explicou o processo de deslegitimação das lutas nacionais e locais e a legitimação das lutas externas, como o caso de George Floyd nos Estados Unidos.
“A luta pela moradia não é modinha. A luta pela sobrevivência do povo negro não é modinha. Há quantos anos, estamos em luta. É preciso primeiro valorizar primeiro nossos povos. Tem muitas lideranças na favela há anos falando, lutando. Todos os nossos ganhos são das revoluções que fizemos. Eu não vou pra rua, eu não vou ocupar, porque é moda, eu vou porque preciso. É porque se eu não vou, as pessoas vão morrer”, sintetizou Preta.
Ieda complementou o fenômeno da mobilização que se limita às hashtag comparando ao “passaporte para entrar no céu”, e reforçou a importância de as pessoas assumirem o dever de combater o racismo e, se tiver que falar sobre o tema, que debata com pessoas negras. Além disso, ela apontou outras estratégias como eleger pessoas que realmente representem o interesse da população brasileira e até ocupar espaços na política — seja na Câmara, na Prefeitura, no Congresso, no Senado e até mesmo dentro dos próprios partidos.
“Não é moda ter negro no país”, afirmou a representante do MNU.
A esperança é coletiva
Por fim, a luta coletiva e a resistência foram elementos cruciais apontados pelas participantes para seguir em frente na luta contra o racismo e o governo Bolsonaro.
“Quando a gente faz luta em coletivo é sinal de que há esperança. É partilhar, somar e multiplicar. Quando a gente se levanta, trezentas se levantam”, levanta Preta.
De olho na construção de um projeto político para o país, com direito à escola, casa, comida, saúde, lazer, emprego, essas lutadoras seguem firmes nos movimentos sociais para construir uma alternativa de sociedade melhor, mais justa e mais humana — passando também por renovações nas câmaras e prefeituras.
“Nada de nós sem nós. As pessoas tentam nos derrubar, mas nós combinamos de não morrer. Fora Bolsonaro”, finalizou Ieda.