4.211 mortes, e o que Bolsonaro faz? Mente e ataca lockdown
Jair Bolsonaro insiste na defesa de tratamento sem eficácia ao visitar Chapecó (SC), cidade que, nos últimos três meses, multiplicou por quatro o total de mortes por Covid-19
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Um dia depois de o país registrar a marca de 4.211 mortes em apenas 24 horas, Jair Bolsonaro continua mentindo para não assumir sua responsabilidade na tragédia. Em visita a Chapecó (SC), nesta quarta-feira (7), ele tentou convencer as pessoas de que a cidade é um exemplo a ser seguido no combate à pandemia graças à adoção do “tratamento precoce”. Porém, o município não é um bom exemplo nem obteve resultados positivos com a distribuição de medicamentos sem eficácia contra a Covid-19.
A ida de Bolsonaro a Chapecó foi agendada depois que o prefeito João Rodrigues (PSD), que assumiu a gestão do município em janeiro deste ano, divulgou na internet um vídeo no qual celebrava a redução de internações e atribuía o resultado em boa parte ao “tratamento precoce”. Rodrigues, no entanto, distorceu os dados e deixou de mencionar que, após enfrentar uma explosão de casos, apelou a um lockdown parcial de 14 dias, com restrição de comércio e serviços.
E mesmo com a queda de internações após a medida de isolamento social, João Rodrigues não tem do que se orgulhar. Levantamento feito pelo site Poder 360 a partir dos boletins da própria cidade mostra que, do começo da pandemia até 4 de janeiro deste ano, Chapecó registrou 127 óbitos por Covid-19. Já entre 5 de janeiro deste ano e a última segunda-feira (5), o total foi elevado a 537. “Nos últimos 3 meses, portanto, morreram 409 pessoas no município, quase 4 vezes mais do que o total de mortes por Covid-19 de março a dezembro de 2020”, informa o site.
Rodrigues é um dos prefeitos que comprou o discurso de Bolsonaro. Quando assumiu em janeiro, montou um laboratório com distribuição de remédios sem eficácia contra a Covid-19 e liberou aniversários, batizados, casamentos e festas, além de ampliar o horário de funcionamento de bares e autorizar apresentações musicais, informa a Folha de S. Paulo. Resultado: entre 5 de janeiro e 5 de março, o total de pacientes internados saltou de 69 para 351.
Ainda segundo a Folha, a cidade, então, viveu o caos, passando duas semanas sem leitos de UTI e tendo de transferir pacientes para outros municípios. Foi aí que as medidas de isolamento começaram, o que reduziu o total de internados para 193 (que ainda é 179% mais alto que o de janeiro).
BOLSONARO EM CHAPECÓ: não trouxe recursos para nossos hospitais, nada de vacina ou apoio aos agricultores, não anunciou nenhuma nova obra ou recursos para manutenção e conservação das rodovias federais. Gastou milhões para vir a Santa Catarina fazer o quê? ? #ForaBolsonaro pic.twitter.com/SgsVDHSTZj
— Pedro Uczai (@uczai) April 7, 2021
Ataques ao lockdown
Ao discursar em Chapecó nesta quarta-feira, Jair Bolsonaro disse esperar que Chapecó “seja uma cidade para ser olhada pelos demais prefeitos do Brasil”. “Se bem que tem prefeito que está na linha do João Rodrigues”, acrescentou. Um deles, importante lembrar, é Odelmo Leão (PP), que também assumiu em janeiro passado, apostou em tratamento precoce e abertura do comércio e acabou por levar Uberlândia (MG) ao colapso hospitalar, com fila de sete dias para a UTI.
Bolsonaro aproveitou a distorção dos dados feita por João Rodrigues para vender a ideia de que o combate à pandemia só não foi eficaz no Brasil porque houve oposição ao “tratamento precoce”, que, deve-se sempre ressaltar, não funciona contra a Covid-19, segundo inúmeros estudos científicos. O presidente também voltou a atacar medidas de isolamento social. “Não haverá lockdown nacional”, anunciou, desprezando os ótimos resultados obtidos por prefeitos como Edinho Silva (PT), de Araraquara, que na terça feira (6), celebrou o segundo dia sem registro de mortes por Covid-19.
Incompetente e assassino, Bolsonaro mostra que não está disposto a mudar. Após sabotar o isolamento e o uso da máscara e fazer campanha contra a vacina, segue mentindo e ignorando a ciência. Enquanto isso, o Brasil caminha a passos largos para a marca de meio milhão de mortos, sem hospital, sem vacina e sem auxílio emergencial digno para os mais pobres.
Da Redação, com Folha de S. Paulo, G1 e Poder 360