Mulheres negras foram as que mais perderam direitos sociais, desde o início da pandemia
A pandemia escancarou o abismo das desigualdades de gênero e raça no Brasil. Entenda a importância de eleger um Congresso mais diverso
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Diante dessa conjuntura política, crise econômica, atrocidades no atual governo e desmontes sociais, as mulheres negras estão nos piores marcadores sociais do país. São elas as que representam os maiores índices de pobreza, desemprego e vulnerabilidade socioeconômica, comparado a mulheres e homens brancos.
Um exemplo dessas desigualdades foi durante a pandemia da Covid–19, que se alastrou pelo Brasil no início de 2020. Cerca de dois anos depois, o desemprego e a insegurança alimentar se agravaram e levaram essas mulheres ao adoecimento mental, conforme aponta um levantamento do Estudo Longitudinal da Saúde do Adulto (ELSA), realizado por professores da USP.
Os dados mostram que, no estado de São Paulo, jovens negras, com menores níveis de escolaridade, foram o grupo mais afetado por doenças mentais na pandemia.
A pesquisadora em estudos de gênero, raça e inclusão social, doutora em Psicologia, Maria Palmira da Silva, estudou quais os impactos da Covid-19 na população negra, comparando os índices de óbito entre negros e brancos, antes da chegada da vacina. A pesquisa deu origem ao livro “Racismo na Pandemia da Covid-19- No Brasil, nos EUA e na França”.
A obra traz na capa a imagem de uma mulher negra envolta nas bandeiras desses três países. Justamente porque para a autora, as mulheres negras, em particular, foram o principal alvo da perda dos direitos sociais, nesse período.
No livro, a autora reflete sobre o tratamento desigual na pandemia:
“Muitas vezes, as pessoas se tornam indiferentes à injustiça social, não pelo fato de não se preocuparem com a justiça, mas simplesmente por não enxergarem a injustiça. Desenvolvem um sistema de crenças de que aqueles que estão em situação de pobreza extrema não são dignos de uma vida melhor ou até mesmo que os enfermos devem arcar com a responsabilidade das suas doenças proporciona às pessoas de sucesso”, enfatiza Maria Palmira.
Ausência de políticas públicas para mulheres negras
Para a educadora social, Romilda Neto Pizani, integrante do Fórum Nacional de Mulheres Negras do PT, a sociedade brasileira carece de políticas públicas que atendam às especificidades das mulheres negras.
‘Não havendo políticas públicas precisamos de pessoas negras que entendam e conheçam a realidade da população negra, que trabalhe esse recorte racial de forma eficaz, de forma orgânica. Eleger uma mulher negra é dizer para o restante da sociedade desse país que, sim, é importante ter pessoas negras para que possam falar sobre as demandas da população negra de forma com que a população negra se sinta representada”.
Coordenadora do Fórum Permanente das Entidades do Movimento Negro, Romilda ressalta que a discrepância das mulheres negras nos espaços de poder se dá por conta do racismo estrutural.
“Lutar para que as coisas aconteçam, ou aconteçam de forma positiva, é difícil. É um caminhar com muitos obstáculos. Dizer a todo momento que você é capaz, você reafirmar isso, é muito difícil porque não perpassa só pela ação no momento, uma ação pontual. Essa ação da reafirmação é contínua na vida da mulher negra. A sociedade coloca a todo momento as funções subalternas para que as mulheres negras assumam” , afirma.
Mulheres negras na política
Para reforçar o combate às desigualdades sociais que afetam, sobretudo, mulheres negras, o Partido dos Trabalhadores tem como premissa contribuir para que esse grupo esteja à frente da construção de políticas públicas.
Pretas e pardas somam a maioria das candidatas do partido às vagas nas Assembleias Legislativas, Câmara Federal, Senado, suplências e governos estaduais, nas eleições de 2022. A ativista Romilda Neto ressalta a importância das mulheres negras ocuparem cargos políticos.
“Nessas eleições estamos mais fortalecidas. E creio que vamos fazer uma boa bancada de mulheres de esquerda e de mulheres negras. O voto nas mulheres negras de esquerda nos fortalece”, argumenta.
Dandara Maria Barbosa, Agência Todas