A casa caiu: Operação Nero busca terroristas de Bolsonaro
Polícia Civil e Polícia Federal cumprem 32 mandados de prisão e de busca e apreensão no DF e mais sete estados. “Liberdade de expressão não abrange terrorismo”, lembrou Flávio Dino
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A Polícia Civil do Distrito Federal e a Polícia Federal do DF deflagraram a Operação Nero, que investiga 40 suspeitos de participarem da tentativa de invasão à sede da Polícia Federal e de cometerem atos de vandalismo em Brasília, em 12 de dezembro. Os agentes cumprem 11 mandados de prisão temporária e 21 de busca e apreensão expedidos pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
As ações policiais em curso visam garantir o Estado de Direito, na dimensão fundamental da proteção à vida e ao patrimônio. Motivos políticos não legitimam incêndios criminosos, ataques à sede da Polícia Federal, depredações, bombas. Liberdade de expressão não abrange terrorismo.
— Flávio Dino ?? (@FlavioDino) December 29, 2022
A operação se desenrola no DF e em Rondônia, Pará, Mato Grosso, Tocantins, Ceará, São Paulo e Rio de Janeiro. Os crimes investigados são de dano qualificado, incêndio majorado, associação criminosa, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e golpe de Estado. Somadas, as penas máximas chegam a 34 anos de prisão.
Os grupos de pessoas vestidas com camiseta verde e amarela incendiaram 25 carros e cinco ônibus. Também depredaram comércios, postos de combustíveis e até a sede da 5ª Delegacia de Polícia (Área Central de Brasília). Ninguém foi detido em flagrante, mas as autoridades afirmam que há “provas robustas” da participação dos envolvidos.
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O futuro ministro da Justiça do Governo Lula, Flávio Dino, comentou o caso no Twitter. “As ações policiais em curso visam garantir o Estado de Direito, na dimensão fundamental da proteção à vida e ao patrimônio. Motivos políticos não legitimam incêndios criminosos, ataques à sede da Polícia Federal, depredações, bombas. Liberdade de expressão não abrange terrorismo”, lembrou Dino.
Até o fim da manhã desta quinta-feira (29), as polícias confirmaram o nome de três dos bolsonaristas presos. Klio Hirano foi detida em Brasília ainda na quarta-feira (28). Em redes sociais, ela costuma exibir publicações, vídeos e fotos no acampamento golpista situado em frente ao Quartel-General do Exército, na capital federal.
Nesta quinta, o pastor evangélico Átila Reginaldo Franco de Melo, outro frequentador do acampamento do QG juntamente com a esposa, Carina Mello, recebeu voz de prisão em São Gonçalo (RJ). O terceiro preso é Joel Pires Santana, pastor de Cacoal (RO). Detido em Rondônia, ele também participa com frequência dos atos antidemocráticos em Brasília.
Ainda em Rondônia, os agentes tentaram localizar o bolsonarista Ricardo Yukio Aoyama mas ele não estava em casa, onde os policiais encontraram uma pistola. Considerado foragido da Justiça, Ricardo teria sido o responsável por comprar combustíveis para os atos terroristas em Brasília.
Meliantes frequentavam o acampamento golpista do QG do Exército
Entre os 40 suspeitos já identificados nas investigações, nenhum era originalmente do DF. Por isso, os investigadores afirmam que é mais difícil localizá-los. Pastores, blogueiros e empresários estão na lista de investigados. A polícia confirmou que quase todos os meliantes frequentavam o acampamento golpista no QG do Exército.
“Vários dos indivíduos, quase a totalidade, passou pelo QG. Inclusive, postam foto em rede social no QG”, ressaltou o delegado da Polícia Federal Cléo Mazotti, em entrevista coletiva na manhã desta quinta. “Podem ficar lá, podem só passar”, prosseguiu ele.
O delegado da PF disse ainda que os 11 alvos de mandados de prisão obtiveram os meios para os atos terroristas. “Conseguiram vaselina para incendiar. Fizeram atos de depredação ao patrimônio público e ao patrimônio privado. Incitaram atuação, incitaram e atacaram policiais que estavam atuando”, enumerou Mazotti.
O diretor do Departamento de Combate à Corrupção e ao Crime Organizado (Decor/PCDF), delegado Leonardo de Castro Cardoso, revelou que entre os bolsonaristas procurados estão ainda os suspeitos de participação no armamento de um artefato explosivo perto do Aeroporto de Brasília, no último sábado (24). Um dos envolvidos – George Washington de Oliveira Sousa – confessou o crime e foi autuado por terrorismo.
Outro dos suspeitos – Alan Diego dos Santos Rodrigues, também foragido da Justiça – é alvo de buscas no país inteiro. Mas Cardoso não detalhou quanto bolsonaristas estariam sendo procurados pela tentativa de sabotagem no aeroporto.
“O número não podemos passar até porque nós não vamos passar mais informações sobre a apuração no caso da bomba no aeroporto. As investigações estão com a Polícia Civil em sigilo decretado judicialmente”, justificou o delegado.
Conforme Cardoso, dois dias após os atos, os policiais já haviam identificado nove dos terroristas. “Houve declínio de competência junto ao STF e, no dia 19, já havíamos identificados outras pessoas”, descreve ele.
As investigações ainda não encontraram indícios de planejamento prévio para a depredação em Brasília. Mas uma segunda etapa da apuração pode revelar se houve financiamento para o grupo. “São cerca de 150 horas de gravações, é possível que ao longo das apurações apareçam mais nomes”, ponderou o chefe do Decor.
A operação conjunta foi batizada de Nero em referência ao imperador romano do primeiro século que ateou fogo em Roma. “Trabalhamos em conjunto. As nossas áreas técnicas, a partir do momento que aconteceram esses crimes, começaram a atuar na identificação”, apontou o delegado-geral da PCDF, Robson Candido. “É uma resposta do Estado a essas pessoas que por ventura estão fugindo dos seus limites de manifestação ideológica.”
Da Redação