Contadora confirma ter repassado dinheiro para sobrinho de Augusto Nardes

De acordo com Gegliane Bessa Pinto, repasse teria sido feito a Carlos Juliano Ribeiro Nardes, sobrinho do ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), Augusto Nardes

Foto: PT no Senado

“Tá faltando”. A frase teria sido dita por Carlos Juliano Ribeiro Nardes, sobrinho do ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), Augusto Nardes, após contar o dinheiro que estava dentro de um envelope. O repasse aconteceu dentro do escritório de advocacia de José Ricardo, que prestava serviços de consultoria a empresas suspeitas de pagar suborno a integrantes do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais da Receita Federal (Carf). A revelação foi feita pela então contadora do escritório, Gegliane Bessa Pinto, nesta quinta-feira (15), durante uma audiência na CPI do Carf no Senado.

Gegliane trabalhou entre 2009 a 2012 no escritório de José Ricardo, ex-conselheiro do Carf. Ela disse aos senadores da CPI que não sabia os valores recebidos por Juliano, mas que havia feito “dois ou três” repasses de dinheiro para ele dentro de envelopes. “Sei que tinha dinheiro, porque uma vez o Juliano abriu um envelope e falou: ‘Tá faltando’”, revelou ela.

A contadora não soube explicar a razão dos pagamentos a Juliano, já que ele não prestaria nenhum serviço ao escritório, mas contou à CPI que ele ia com frequência ao local – cerca de duas vezes por semana. Outro participante da audiência no Senado, Hugo Borges, também ex-funcionário no mesmo escritório, confirmou todas essas informações.

A revelação pode comprometer o ministro Nardes, relator das contas de 2014 do governo federal no TCU. Isso porque os valores repassados a Juliano no escritório eram anotados em planilhas – em posse da Polícia Federal – junto com a palavra “tio”. Não bastasse isso, o ministro e o sobrinho são sócios na empresa Planalto Soluções e Negócios.

O Carf atua como uma espécie de ‘tribunal’ onde os grandes contribuintes podem contestar multas aplicadas pela Receita Federal. De acordo com investigações da Operação Zelotes da Polícia Federal, que embasam o trabalho da CPI no Senado, um esquema envolvendo valores milionários manipulava os julgamentos no órgão da Receita. O escritório de José Ricardo seria uma espécie de base onde valores em dinheiro eram repassados aos envolvidos na falcatrua. Foi seguindo o dinheiro repassado pelo ex-conselheiro que os policiais chegaram até o sobrinho do ministro Nardes.

A Zelotes apura suspeitas de que, no Carf, o grupo de José Ricardo atuou para favorecer o Partido Progressista (PP) e o Grupo RBS, do Rio Grande do Sul. Antes de se tornar ministro do TCU, em 2005, Augusto Nardes era deputado federal pelo PP.

Ex-funcionários – A contadora Gegliane Bessa e o contínuo Hugo Borges disseram aos senadores da CPI do Carf, durante a acareação desta quinta, que tinham acesso a valores vultuosos dentro do escritório de José Ricardo. Segundo os depoimentos de ambos, Hugo fazia os saques – de até R$ 400 mil – e Gegliane, às vezes, efetuava os repasses de valores dentro de envelopes a pessoas que iam ao escritório.

Os dois ex-funcionários de José Ricardo já participaram de outras oitivas da CPI do Carf.

Em setembro, o contínuo afirmou aos senadores que que o escritório de advocacia recebeu R$ 13 milhões da empresa RBS – afiliada à Rede Globo – por serviços prestados. Ele disse ainda ter visto no escritório os ex-ministros Silas Rondeau (Minas e Energia) e Erenice Guerra (Casa Civil), mas não soube dizer o motivo dos encontros. Ainda segundo Borges, Erenice já não fazia mais parte do governo quando frequentou o local.

Em julho, Gegliane Maria Bessa Pinto participou de uma oitiva reservada, que contou apenas com a presença de senadores. De acordo com o jornal O Estado de S. Paulo, ela confessou ter recebido parte do dinheiro sacado em espécie por Hugo Borges.

Por Carlos Mota, do PT no Senado

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