Crianças mostram que também têm direito à participação política

Em ato, pequenos afirmaram que política também é coisa de criança e repudiaram ação da PM que ‘prendeu’ menino de 7 anos durante protesto pela democracia

Foto: Lula Marques/Agência PT

Criança também tem o direito à participação política. Com esse entendimento, a Frente Povo Sem Medo organizou uma atividade lúdica para as crianças na tarde do último domingo (3), em Brasília (DF).

“O intuito do ato é falar que política também é coisa de criança. Política, liberdade, respeito ao outro, alteridade. Isso também é coisa de criança”, afirmou a advogada Diana Melo, mãe de João Francisco, de 3 anos.

No ato, as crianças cantaram, brincaram e pintaram cartazes com frases em defesa da democracia e contra o golpe. E é justamente a defesa da democracia, segundo o economista e membro da Frente Povo Sem Medo, Chico Carneiro, que unifica os participantes.

Para ele, crianças também têm direitos e precisam participar para que a democracia se fortaleça no Brasil.

Tamires Gabriele de Jesus, 10 anos, e Daniela Vitória de Souza, de 12 anos, concordam. Para elas, as crianças precisam falar de política e também devem ir aos atos e defender a democracia. “Criança também é para estar na luta”, afirmou Tamires.

crianças-democracia-foto-Lula-Marques-Agência-PT-2

Foto: Lula Marques/Agência PT

“O ato foi protagonizado pelas crianças, onde elas estão mostrando o seu direito de participação política, lutando para que isso possa ser efetivado aqui em Brasília, o direito de estar nos atos, de participar, construir e entender esse momento tão importante para a vida democrática do Brasil”, destacou Chico Carneiro.

Diana Melo acrescentou que não adianta esconder o debate político das crianças. Segundo ela, é preciso fazer uma discussão geral de não violência, de respeito e de democracia. “A discussão está na vida delas, está na escola, está acontecendo o bulling político nas escolas, porque as crianças ‘da direita’ estão com o discurso violento que está sendo repercutido em casa pelos pais. Elas estão reproduzindo o que ouvem dos pais e também nas passeatas”, contou.

“O que a gente não pode aceitar é uma criança desejar a morte de alguém de um grupo adversário, uma criança começar a desenhar alguém sendo enforcado, uma criança falando palavras carregadas de misoginia, de machismo. Isso a gente não admite em lugar nenhum. Nem das nossas crianças, nem das outras”, destacou.

O caso Uirá
A coordenadora do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) do Distrito Federal, Maria José Costa Almeida, acrescentou mais um motivo para a atividade lúdica infantil.  “A gente resolveu fazer essa atividade principalmente depois do que aconteceu no dia 24 de março, com a prisão de uma criança”, enfatizou, lembrando a ação da Polícia Militar do DF durante ato em frente à sede da Rede Globo, que levou pai e filho para a delegacia em um camburão, alegando negligência.

Criança manifestação

A criança em questão, de apenas sete anos, é o filho de Chico Carneiro. “O ato todo era pacífico, meu filho estava brincando, me afastei dele para tirar uma foto e os policiais o pegaram. No que eu fui me apresentar como pai, recebi voz de prisão por levar meu filho em uma manifestação. Me colocaram dentro do camburão e colocaram ele junto comigo. Para ele, é a percepção de que ele também foi preso, não apenas separado do pai, como foi preso pela Polícia por participar de um ato contra a Rede Globo”, contou.

Chico Carneiro lembrou de outras situações semelhantes ao que ocorreu com seu filho no dia 24 de março, como o tratamento que a PM do DF queria dar à Ciranda pela Democracia, ato infantil que aconteceu no dia 31 de março, durante manifestação pela democracia e contra o golpe.

“A PM convocou o Conselho Tutelar para se preparar, porque, segundo a PM, as crianças seriam usadas como escudos. Isso tudo está em documentos formais da polícia”, especificou.

Para a coordenadora do MTST, a alegação da polícia não condiz com a verdade. “Jamais uma mãe vai pegar um filho e fazer de escudo. A polícia está agora com essa estratégia de tentar pegar as crianças da gente para criar o confronto e eles querem se beneficiar disso. Então a gente está fazendo essas denúncias. No dia de hoje, às crianças estão aqui brincando aonde não tem polícia e elas vão voltar para casa feliz. Mas se aparecer polícia aqui, elas já vão ficar com medo, porque elas já têm medo da polícia”, frisou.

coordenadora-do-MTST-DF-Maria-José-Costa-Almeida-2

Coordenadora do MTST DF, Maria José Costa Almeida

Na avaliação de Carneiro, os casos mostram que a polícia não está preparada para essas situações. “Quando são atos que buscam a manutenção e agravamento de uma ordem contra a retirada de direitos, a PM dialoga melhor com esses atos e acolhe os pais, acolhe as crianças, saúda esse tipo de processo, como foi no dia 13 de março, em protestos que vão contra o Estado Democrático. Agora, quando são protestos que tentam reafirmar a democracia, isso não dialoga com uma estrutura militar, e aí a gente vê que ela não está preparada mesmo”, afirmou o economista.

Segundo Diana Melo, que ajudou a organizar a Ciranda pela Democracia, os movimentos sociais sempre levaram as crianças para a rua. “Primeiro porque é um espaço de aprendizado, e segundo porque faz parte da vida da gente, da dinâmica da gente, das crianças estarem junto da gente, participam junto com a gente, até porque algumas mães não têm com quem deixar as crianças. A medida que aquilo não ofereça risco para às crianças e faz parte da vida delas, as mães vão levar seus filhos. E a gente leva”.

Por Luana Spinillo, da Agência PT de Notícias

Tópicos:

LEIA TAMBÉM:

Mais notícias

PT Cast