Anne: “Lula colocou as mulheres de volta na agenda pública”

No programa Café PT desta quarta (19), secretária nacional de Mulheres falou sobre pré-candidatura, conservadorismo no parlamento e mais mulheres nas eleições

Reprodução/TvPT

A secretária Nacional de Mulheres do PT, Anne Moura (PT-AM)

A entrevista desta quarta-feira do Café PT foi a secretária Nacional de Mulheres do PT, Anne Moura. Na conversa, a liderança falou sobre eleições 2024, compromisso do presidente Lula com as brasileiras, atuação da SNMPT, importância de haver mais mulheres nos espaços de poder, e o polêmico PL 1904/24

Inicialmente, Moura destacou o funcionamento da SNMPT: “A Secretaria atua a partir de um coletivo que é formado em torno de 15 companheiras de todo o país, e é estruturada a partir das secretarias estaduais. Temos muito orgulho de dizer que nós somos a Secretaria que está presente e em atuação em todo o Brasil. As companheiras são responsáveis pela organização das mulheres do PT, seja do ponto de vista da atuação política, tanto dentro quanto fora do partido.”

Além disso, a secretária destacou a atuação do projeto Elas por Elas, que nasceu em 2018: “Desde então, sempre um ano antes do processo eleitoral, a gente começa a organizar as mulheres que querem ser candidatas, e começamos a fazer uma preparação que envolve formação política e  de comunicação, além de orientação jurídica. Buscamos dar essas ferramentas para as mulheres se organizarem para fazer a disputa política. Mas é claro que o nosso partido por ser do tamanho que é, estar enraizado no país inteiro, contamos muito com as secretárias estaduais para fazer chegar em cada município essa informação para a candidata”, informou. 

Ela também apontou o papel de formação da TV Elas por Elas, ferramenta que agrega ao processo do partido com foco na preparação das mulheres: “Eu tenho muito orgulho de dizer que nós fomos o primeiro partido a ter um projeto desse tamanho”, celebrou. E o resultado desse trabalho é notório: o PT é a sigla que possui a maior bancada feminina na Câmara dos Deputados.

Desafios para a permanência da mulher na política 

Entretanto, apesar de a bancada feminina do PT ser a maior, o número de mulheres ainda segue abaixo dos 20%. Atualmente, elas representam apenas 17% dos parlamentares na Câmara. 

Questionada de que forma a Secretaria atua para trazer mulheres para o debate político, além de oferecer a assistência em formação nas pré-campanhas, Moura refletiu que é necessário entender que, para mulher fazer política, não basta só ela sair de casa, pois, culturalmente, fica para a mulher a responsabilidade de todo o trabalho do cuidado, que envolve cuidar de uma casa, alimentação e atenção com crianças e idosos. Ela defende que sejam criadas e adotadas ferramentas que possibilitem às mulheres que estão na política meios para elas possam participar das agendas. 

“A gente precisa criar espaços para que as mulheres possam participar e permanecer na política. A gente vai ter a maior representatividade das mulheres na política quando entenderem que os espaços públicos precisam também ser adaptados para a presença das mulheres e daquelas que têm filhos. Caso contrário, seremos sempre empurradas para fora. É preciso mudar essa lógica”, cobrou. 

A liderança do PT revelou que a SNMPT tem feito um trabalho muito importante de conscientização para qualificar o debate de modo que as mulheres saibam aquilo que elas querem construir e também possam ter tranquilidade para estar nesse espaço da política, que foi construído e pensado por e para homens: “Por isso defendo que as mulheres precisam trazer a solidariedade e a empatia na forma de fazer política, porque a gente só muda a política com mais mulheres participando da política, como disse Michelle Bachelet [ex-presidenta do Chile].”

Retomada de políticas para mulheres  

Com um ano e seis meses de atuação do governo Lula, Moura afirmou que a volta do presidente representa a retomada da conquista de direitos para as brasileiras: “Acho que uma das grandes conquistas nossas é ter o Ministério das Mulheres, comandado pela ministra Cida Gonçalves. É muito positivo também contarmos com a atuação da companheira Janja. Então, o presidente Lula vem cumprindo tudo que ele afirmou que faria de colocar as mulheres como protagonistas e trazer de volta programas para dar visibilidade aos que deixaram de ter, como o Bolsa Família e o Minha Casa, Minha Vida. Agora a gente tem um governo que, de fato, respeita as mulheres.”

Na avaliação da secretária, com a nova gestão, as mulheres foram recolocadas como público central no desenvolvimento de estratégias que buscam ofertar mais qualidade de vida. E citou como exemplo a parceria entre os Ministérios das Mulheres e do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, anunciada nesta semana, para capacitar e impulsionar mulheres do Bolsa Família: “Quando o governo do presidente Lula pensa nas políticas públicas sociais, ele tem como base o ponto de partida que quem está no comando daquela família são as mulheres.”

“Ninguém quer que as mulheres fiquem recebendo o Bolsa Família. A gente quer que elas sejam emancipadas. Mas esses programas sociais, numa sociedade tão desigual quanto a nossa, são fundamentais para que as pessoas tenham o mínimo para comer. E as mulheres, na maioria das vezes, são as responsáveis pelos seus filhos, sendo as chefes de famílias. E tanto no governo Lula quanto no governo Dilma, as mulheres sempre foram prioridade. E isso, para nós, é motivo de muito orgulho”, celebrou.  

 Ela destacou também o papel das mulheres na vitória de Lula na eleição de 2022: “Nós estivemos com o presidente Lula antes do processo dele de ser candidato, e ali a gente fez os primeiros atos e ele já fez um compromisso com as mulheres. E de lá em diante nós não temos dúvidas que nós fomos fundamentais para a eleição do presidente Lula”, afirmou. 

Conservadorismo no Parlamento 

Indagada sobre como avalia o PL 1904/24, Moura frisou que, enquanto houver no Congresso homens que querem decidir sobre os corpos e os direitos das mulheres, sem que as brasileiras tenham a oportunidade, pelo menos, de se defender, o cenário tende a permanecer nebuloso. 

“A gente ainda vai estar falando desse lugar, porque eles querem decidir sem saber qual é o lugar de quem foi violentada, de quem já teve, já sofreu abuso, ou que foi estuprada. Precisamos falar da realidade como ela é. Existe uma questão de saúde pública e a gente precisa tratar dela agora, eles não podem usar isso para culpar a vítima, e a vítima tendo uma pena maior do que quem a violentou. Estamos falando de casos de meninas que, às vezes por medo, nem sabem o que aconteceu com elas, porque o agressor é parente, é pai, tio, avô, padrasto, irmão, primo, é da família dentro de casa”, questionou. 

Fundamental destacar que sessenta por cento das vítimas de violência são de meninas de até 14 anos. E muitas dessas vítimas são crianças e meninas que estão se descobrindo, entendendo o seu corpo, que mal chegaram no processo da menstruação. Para a liderança das mulheres petistas, este PL reforça a revitimização da criança, jovem ou mulher: “Eles querem tratar isso como se fosse só uma questão de aborto? Não, é uma questão de saúde pública, mas uma questão de direitos. Há muitos casos de mulheres que têm seus filhos e nem conseguem ter o registro de pai, aí querem obrigar o estuprador a reconhecer o seu filho? Claro que não, isso não existe.” 

Eleições para Câmara Municipal de Manaus 

Nas eleições de 2022, Anne Moura, que é descendente indígena do povo Mura, foi candidata a vice-governadora na chapa com Eduardo Braga (MDB-AM) para a disputa do governo do estado do Amazonas.

Desta vez, em 2024, a missão será concorrer a uma vaga na Câmara Municipal de Manaus: “Estou pré-candidata a vereadora porque eu acho que a gente tem que se colocar e fazer a disputa. Nos tornamos dirigentes partidários para defender o nosso governo, e o que a gente acredita e também para ajudar as pessoas”, defendeu. 

Recado para as companheiras do PT 

Por fim, Moura deixou um recado para as mulheres que irão disputar as eleições de outubro: “Nós precisamos fazer desta eleição a eleição das mulheres. Então, em todo o país, precisamos estar organizadas. Vocês que ainda não se cadastraram, procure a secretaria estadual, dialogue com a direção. Se você não vai ser candidata, procure ajudar uma companheira que será. Esse espírito de solidariedade precisa estar presente nas nossas campanhas, para que a gente consiga eleger o maior número de mulheres. A política só será transformada, e será da forma que a gente quiser, com as nossas pautas, se a gente ocupá-la. E eu te convido a estar nesse espaço!”, encerrou.

Da Redação Elas por Elas 

 

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