Artigo: Mães, mulheres de luta, por Paulo Cayres

Neste texto quero prestar minha homenagem a todas as mães, mulheres de luta, anônimas ou conhecidas, mas sempre lutadoras

Eduardo Di Napol/Mídia Ninja

Todo dia é dia de mãe. Comemorado desde a mais remota antiguidade, em homenagem a figuras maternas, atualmente a comemoração do dia das mães ocorre no Brasil no segundo domingo de maio, a data foi proposta nos Estados Unidos, por Anna Jarvis em homenagem a sua mãe, Ann Jarvis, uma ativista social e foi oficializada em 1914 pelo presidente norte americano Woodrow Wilson.

Neste texto quero prestar minha homenagem a todas as mães, mulheres de luta, anônimas ou conhecidas, mas sempre lutadoras.

Mães que por conta do machismo vigente assumem muitas vezes sozinhas a tarefa de criar filhos e filhas, mesmo que seu companheiro viva com elas na mesma casa.

Mães que por abandono dos companheiros cuidam dos/as filhas e filhos sozinhas.

Mães que enfrentam cotidianamente a tarefa de trabalhar para cuidar dos seus, enfrentando a falta de creches, o transporte público para cumprir percursos demorados até o local de trabalho, enfrentando humilhações e assédios de todo tipo, sexual e moral, jornadas exaustivas, duplas e triplas jornada de trabalho.

Mães que não tem o devido reconhecimento pelo seu exaustivo labor, todos os dias, durante toda a vida.

Mães que lutam contra a violência do estado que ceifa a vida de seus filhos e filhas e criam movimentos que se tornam referência na luta contra as injustiças, o preconceito, a misoginia, o massacre da juventude de maioria negra das periferias deste imenso país.

De norte a sul são muitos exemplos, cito:

Rio de Janeiro – Mães de Acari (1990), Candelária Nunca Mais (2003), Movimento Posso me identificar? (2003), Movimento Moleque (2003), Rede Contra a violência (2004), Casa Mãe Mulher (2011), Rede Nacional de Mães e Familiares de Vítimas do Terrorismo de Estado (2016).

Ceará – Movimento de Mães Vítimas por Violência policial do Estado do Ceará.

Movimentos que lutam contra Violência recorrente que tem endereço certo, a população carente da periferia.

Dados do Fórum Brasileiro de segurança pública, entre 2020 e 2021, o número de mortes de pessoas negras por ações policiais aumentou 5,8% e pretos e pardos são 84,1% das vítimas da violência policial nas periferias, jovens como Luan, menino de 13 anos que saiu de casa para comprar um pacote de bolachas.

Em uma reportagem, Maria Medina Costa Ribeiro, mãe de Luan, conta que ele ‘era um menino meigo, muito família. Uma criança do tamanho de adulto, tinha 1,70m de altura com 14 anos, mas era medroso, em tudo o que ia fazer eu estava presente. Até no Shopping eu levava e buscava’.

Luan saiu para comprar um pacote de bolachas na venda próxima de sua casa e foi morto em uma viela, com um tiro na nuca desferido por um policial, que foi julgado e absolvido por um júri popular, numa clara demonstração de que a justiça dificilmente funciona para os pobres e pretos da periferia.

A quantidade de movimentos criados para enfrentar esse estado de calamidade só mostra a ausência de justiça com que a população pobre convive, por outro lado mostra o quanto essas mães que sofrem com essas perdas são capazes de lutar.

Faz 8 anos que mães de Osasco e Barueri lutam contra a violência policial, nos dias 8 e 13 de agosto de 2015, policias encapuzados mataram 28 jovens da periferia, escolhidos de forma aleatória para se vingar da morte de um guarda municipal morto na região.

Mães lutadoras como Zuzu Angel, que enfrentou a ditadura militar no Brasil, lutando para a procurar o corpo do filho Stuart Angel, assassinado pela repressão militar e dado como desaparecido político. Zuzu também foi morta, após ter o carro sabotado pelos agentes da repressão e sua luta ganhou repercussão mundial.

Também com repercussão mundo afora, o movimento das Mães da Praça de Maio, na Argentina, que em 1977 começou a enfrentar a sangrenta ditadura do país vizinho, na luta contra os crimes cometidos pelos ditadores contra seus filhos e filhas, mostra a coragem dessas mulheres que não se entregam e não se rendem.

Mães que teimam e que ensinam seus filhos a teimarem, como Eurídice Ferreira de Mello, a Dona Lindu, mãe de 12 filhos, quatro dos quais faleceram crianças e que para fugir da fome saiu do agreste pernambucano rumo a São Paulo e que faleceu aos 64 anos, em 1980, quando seu filho mais ilustre, Luiz Inácio Lula da Silva, estava preso por organizar a luta dos trabalhadores e trabalhadoras metalúrgicos/as de São Bernardo do Campo e Diadema, por melhores condições de vida. São essas mulheres guerreiras, que não esmorecem e que ajudam a transformar o mundo.

Encerro prestando merecida homenagem a minha mãe que criou, e bem, três filhos e duas filhas, Dona Marlene Silva Cayres, obrigado Mãe pelo exemplo de abnegação, coragem e luta que você nos ensinou.

Paulo Cayres é secretário Nacional Sindical do PT

 

 

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