Artigo: Acidentes no trabalho, um massacre contra a classe trabalhadora, por Paulo Cayres

Só em 2022 foram registradas mais de 600 mil notificações de acidentes, ou sequelas provocadas nos locais de trabalho, apenas com relação a trabalhadores /as formais

Adonis Guerra

Paulo Cayres, secretário Nacional Sindical do PT e presidente da Confederação Nacional dos Metalúrgicos (CNM). Foto: Adonis Guerra

De 2012 até 2021, morreram 22.954 trabalhadores/as vítimas de acidentes de trabalho no Brasil, o ano de 2022 soma a essa trágica estatística mais 2500 mortes, um verdadeiro massacre promovido pela insegurança nos locais de trabalho e por condições inadequadas de transporte de trabalhadores e trabalhadoras.

Só em 2022 foram registradas mais de 600 mil notificações de acidentes, ou sequelas provocadas nos locais de trabalho, o mais grave é que esses números referem-se apenas aos trabalhadores e trabalhadoras formais, aqueles/as que tem registro em carteira e contribuem para a previdência social.

Considerando que o trabalho informal e desregulado cresceu de maneira assustadora nos últimos anos, fruto da desregulação do trabalho promovida após o golpe de 2016, podemos considerar que o número de vítimas de condições ruins de trabalho é muito maior, com consequências desastrosas para as pessoas, suas famílias e para o estado brasileiro.

Para a família que perde alguém acidentado no trabalho, além da dor da perda, muitas vezes pode significar uma redução drástica da renda familiar, comprometendo a qualidade de vida da família, para as vítimas de sequelas de acidentes ou doenças profissionais, significa a redução da capacidade laboral, um sofrimento continuado provocado pela sequela, e uma consequente redução da renda familiar.

O estado brasileiro sofre,  também , por conta  desse massacre de trabalhadoras e trabalhadores ao ter que arcar com as consequências desse desastre, no ano de 2022, foram mais de 6000 aposentadorias por invalidez e mais de 140 mil benefícios previdenciários que tiveram que ser concedidos, o que significa bilhões de reais dos cofres públicos, isso em apenas 1 ano, se extrapolarmos essa conta para os últimos 10 anos o número é brutal.

A implantação de novas tecnologias no mundo do trabalho, que deveriam ter como resultado uma melhora acentuada na qualidade de vida de trabalhadores/as, muitas vezes contribui apenas para aumentar a carga de trabalho e produzir novas doenças profissionais, como a síndrome de Burnout, esgotamento extremo provocado pelo excesso de trabalho, com graves consequências emocionais que em muitos casos pode levar ao suicídio.

O desmonte promovido pela contrarreforma trabalhista e sindical promovidas por Temer e Bolsonaro, só agravou esse quadro, de um lado precarizando as relações de trabalho, aumentando a informalidade, e atuando para enfraquecer o movimento sindical e a defesa dos direitos da calsse trabalhadora.

Esse quadro insano precisa ser revertido com urgência, o Brasil não pode continuar assistindo ano após ano esse verdadeiro massacre contra trabalhadores e trabalhadoras, formais ou informais.

Sempre que for constatado que o acidente ou a doença profissional é causada por negligência empresarial, os empregadores tem que ser responsabilizados, respondendo civil e criminalmente pelas perdas causadas às, pessoas, as famílias e ao estado brasileiro.

Reforçar os instrumentos à disposição dos/as trabalhadores/as para que possam defender-se das condições perigosas do trabalho, fortalecendo o movimento sindical, revogar a reforma trabalhista que precarizou as condições de trabalho,  aumentar o poder de fiscalização do estado, promover campanhas de conscientização, melhorar a regulação das condições de trabalho para promover trabalho seguro e digno, estabelecer um conjunto de normas e direitos para trabalhadoras e trabalhadores por plataformas , são medidas  necessárias e urgentes se quisermos em um curto período de tempo salvar vidas e evitar sequelas e doenças profissionais.

Outro debate se faz urgente, a introdução de novas tecnologias no mundo do trabalho, não pode servir apenas para aumentar o lucro das empresas e seus donos ou acionistas, mas tem que servir para melhorar a vida de trabalhadores e trabalhadoras, com  liberação dos trabalhos repetitivos e chatos, com aumento dos períodos de descanso durante as jornadas de trabalho, com redução da jornada semanal e diária, com uma melhor distribuição do incremento da produtividade, melhorando a renda da classe trabalhadora.

Retardar o tempo para ingressar no mercado de trabalho, aumentando o período de escolaridade , antecipar o período necessário de trabalho para aposentadoria, são também medidas que podem contribuir para distribuir os incrementos feitos pelo desenvolvimento e implantação das novas tecnologias, repartindo melhor essa mais valia tecnológica, melhorando a vida de trabalhadores e trabalhadoras.

Para isso, o movimento sindical e os movimentos sociais devem colocar entre seus objetivos,  a implementação de políticas públicas e sociais com o objetivo de criar um estado de bem estar social para todos/as.

A classe trabalhadora não pode esperar , a vida,  a saúde e o bem estar  de cada um,  é um  bem precioso que precisa ser defendido com unhas e dentes.

Paulo Cayres é secretário Nacional Sindical do PT e presidente de CNM/CUT

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