Artigo: Quando O Globo fará uma autocrítica?, por José Chrispiniano
“Será que o Globo pensa em pedir desculpas pelo prêmio “Faz a Diferença” entregue em mãos para Sérgio Moro em 2015?, questiona o assessor de imprensa do ex-presidente Lula
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No sábado, o jornalista Ascânio Seleme escreveu uma coluna que comete uma série de equívocos sobre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e fatos recentes da história do Brasil.
Diferente do que foi publicado na abertura do texto, o ex-presidente hoje não está preparando uma segunda “carta aos brasileiros”, porque já foi presidente da República por dois mandatos exercidos democraticamente, dos quais saiu com 87% de aprovação. O bom momento vivido pelos brasileiros quando Lula foi presidente é mais eloquente do que qualquer carta.
O artigo também promove erros factuais já desmentidos – Lula nunca apelidou Paulo Roberto da Costa de “Paulinho” ou teve qualquer intimidade com ele, como o próprio Paulo Roberto já reconheceu em depoimento na justiça no dia 23 de novembro de 2016 – pra defender a tese absurda de que o ex-presidente teria que se desculpar por ter sido julgado por um juiz suspeito, condenado por “atos indeterminados”, ter sido preso inconstitucionalmente e impedido de disputar as eleições de 2018, em um ambiente de negação da política que levou a eleição de Jair Bolsonaro.
Será que o Globo pensa em pedir desculpas pelo prêmio “Faz a Diferença” entregue em mãos para Sérgio Moro em 2015? Não há dúvidas que Sérgio Moro fez a diferença para eleger Bolsonaro. O Supremo Tribunal Federal já reconheceu que ele publicou na semana da eleição de 2018 trechos da delação de Antônio Palocci – delação sem provas ou fatos, rejeitada até pelo Ministério Público – para influenciar no resultado eleitoral contra o PT. O Supremo também já atestou que Moro conduziu um julgamento incompetente e parcial para tirar das eleições de 2018 o favorito Lula, indo depois ser ministro da Justiça de Bolsonaro, onde tentou processar críticos do seu chefe com a Lei de Segurança Nacional, antes de sair do governo para viver, vacinado, nos Estados Unidos e trabalhar para escritório que lucra com a falência das empresas que ele quebrou.
Lula, por sua vez, foi inocentado em todos os processos julgados fora da vara de Moro, inclusive naquele que analisou, em Brasília, o chamado “quadrilhão do PT”, que indicaria se Lula tinha relação com desvios na Petrobras. O juiz foi claro quando arquivou a denúncia: ela não tinha elementos suficientes para processar Lula e se tratava de clara tentativa de “criminalização da política”.
Vai ficando cada vez mais claro, com amplas provas, que Moro, em conluio com os procuradores de Curitiba, corrompeu a causa do combate à corrupção: fecharam acordos com criminosos, que viraram delatores – nenhum deles hoje está preso – para criar uma narrativa e no processo destruíram empresas, os setores de óleo e gás, as indústrias navais e de construção pesada. Fizeram o contrário do que seria correto, que seria punir criminosos e preservar empregos e empresas, como foi feito na Alemanha com a Siemens, na França com a Alstom e na Coreia do Sul com a Samsung, todas empresas que não foram destruídas por terem tido episódios de corrupção. Segundo estudo do Dieese, a Lava Jato destruiu 172 bilhões em investimentos potenciais e 4.4 milhões de empregos.
A perseguição política contra Lula e o PT, que contou com apoio acrítico de parte da imprensa brasileira, ajudou a levar ao poder Bolsonaro, o pior presidente do mundo no combate à pandemia do Covid, que nega a ciência e estimula a população contra medidas para proteger sua saúde, e é incapaz de uma palavra de solidariedade diante da morte de 500 mil brasileiros. E que também está desmontando todas as medidas de combate à corrupção e transparência implantadas pelos governos do PT.
O Globo até hoje esconde dos seus leitores o conteúdo das mensagens da operação Spoofing, que mostram procuradores da Lava Jato colaborando de forma irregular com autoridades estrangeiras, atuando politicamente contra o Partido dos Trabalhadores e rindo do fato de que quebrariam grupos nacionais que empregavam dezenas de milhares de brasileiros. Trabalhadores brasileiros que, no final das contas, foram os que mais sofreram, e seguem sofrendo, com a perseguição injusta contra Lula e o impacto dela nas eleições de 2018.
José Chrispiniano é assessor de Imprensa do ex-presidente Lula