Ataques à China aprofundam desgaste externo de Bolsonaro
Manifestações do presidente, do clã e agregados ideológicos isolam o Brasil no combate ao Covid-19 e podem comprometer economia pós-epidemia
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A postura infantil e irresponsável do atual governo no front externo está comprometendo a imagem internacional do Brasil. A cada manifestação de Bolsonaro e dos agregados ideológicos, a situação se agrava. O comportamento oficial compromete mercados para as exportações, o trânsito mundial de turistas e a simpatia dos povos, alertam especialistas.
Se Bolsonaro já vinha sendo alvo de chacotas, com a eclosão da pandemia a imagem externa se deteriorou irremediavelmente. Bolsonaro passou a ser o “líder do negacionismo”, segundo a revista norte-americana The Atlantic. A revista inglesa The Economist definiu o presidente do Brasil como um “Bolsonero”.
Nesta segunda-feira, Bolsonaro foi ridicularizado pela mídia da China, nosso maior parceiro comercial. O tabloide Huanqiu/Global Times ironizou Bolsonaro em título de matéria com destaque. “Presidente brasileiro convoca jejum para se livrar do pecado”, em meio à escalada dos números, destacou o jornal chinês.
A nova presepada ocorre exatamente com o principal aliado do Brasil e da maioria dos países do mundo no combate à epidemia. No momento, a China presta ajuda a cerca de 90 países com informações, apoio técnico e produção de equipamentos. O Ministério do Saúde brasileiro tem encomendas de equipamentos de proteção individual junto ao país.
Ignorando essa realidade, e também o fato do Brasil integrar o BRICS, no final semana, o deputado Eduardo Bolsonaro e o ministro da Educação, Abraham Weintraub, patrocinaram um destemperado ataque à China. Reproduzindo as mais rasteiras “teorias da conspiração”, acusaram o país de “fabricar o vírus para dominar o mundo”. Foi a segunda vez que o filho do presidente hostilizou o país asiático.
Em nota pública, a Embaixada da China rechaçou a acusação infundada e cobrou retratação oficial do governo brasileiro. “Instamos que alguns indivíduos do Brasil corrijam imediatamente os seus erros cometidos e parem com acusações infundadas contra a China”, disse o embaixador em post nas redes sociais. O Palácio do Planalto fez vistas grossas para a situação.
As manifestações do governo Bolsonaro também podem trazer graves consequências para a economia nacional. A China é responsável por 37% do total das nossas exportações agrícolas. Após os ataques da família Bolsonaro, a China anunciou que vai comprar soja dos Estados Unidos.
“A inciativa da China de enviar à Itália médicos, materiais e equipamentos é um exemplo de relação solidária entre nações civilizadas”, afirmou a ex-presidenta Dilma Rousseff. Em carta enviada ao presidente Xi Jin Ping, o ex-presidente Lula já havia pedido desculpas ao povo chinês em nome dos brasileiros.
“Este governo passará, sem ter estado à altura do Brasil, mas nada poderá apagar os laços de amizade e cooperação que vimos construindo desde 1974, quando o então presidente Ernesto Geisel restabeleceu as relações entre o Brasil e a República Popular da China”, afirmou Lula.
A relação diplomática e comercial com a China foi restabelecida em 1974, durante o governo Geisel, contrariando a linha dura da ditadura militar. Na época, a relação com a China foi um dos motivos alegados pelo general Sylvio Frota para justificar o confronto com o governo que resultou em sua demissão. Na época, o general Heleno era ajudantes de ordens de Frota.