Ayres: 19 de agosto é Dia do Orgulho Lésbico e de luta pela democracia

Em entrevista à SNMPT, Carla Ayres (PT-SC), uma das poucas deputadas assumidamente lésbicas na Câmara, destaca resistência do movimento de mulheres e defende ampliação de ações federais para a comunidade LGBT

Vinicius Loures/ Câmara dos Deputados

Deputada Federal Carla Ayres (PT-SC)

No dia que marca o Orgulho Lésbico no Brasil, a Secretaria Nacional de Mulheres do PT entrevistou a deputada federal Carla Ayres (PT-SC) para falar sobre a importância da data para o movimento, a necessidade de ocupação de mulheres lésbicas nos espaços de poder e de participação nas eleições.

Para a parlamentar, a data, que surgiu em 19 de agosto de 1983, durante a ditadura militar, representa um dia de resistência: “Todos os dias que marcam alguma visibilidade ou orgulho, reafirmam algum processo de luta. E o 19 de agosto, para nós, lésbicas, é marcado como um dia de resistência. 

De acordo com companheira, o Dia do Orgulho Lésbico surgiu quando integrantes do grupo Ação Lésbica Feminista (GALF) não se intimidaram com as forças policiais e organizaram, no centro de São Paulo, no Ferro’s bar, ponto de encontro de mulheres lésbicas, articularam para organizar um levante contra o preconceito, a opressão, contra as expulsões arbitrárias e a violência dos militares. Portanto, o levante de Ferro’s Bar representa um marco histórico da primeira manifestação lésbica brasileira, incentivando outros grupos LGBTQIA+ e organizações feministas.

“Essa data é, sobretudo, a memória de que o movimento lésbico brasileiro é um movimento de resistência, não só pela nossa própria existência e pelos nossos direitos, mas também pela luta da democracia”, afirmou Ayres. 

Atualmente, a companheira do PT de Florianópolis está como deputada federal na Câmara dos Deputados, um local majoritariamente masculino e heteronormativo. Dos 513 parlamentares, há apenas cinco LGBTs no Congresso, sendo duas lésbicas.

 Questionada como tem sido trabalhar naquele ambiente e como ela enxerga sua presença naquele espaço, Ayres define como “um momento histórico”. O ambiente, ela conta, tem sido como se espera que seja: “entre os nossos há muito acolhimento, entre aqueles que trabalham diariamente para retirar direitos, hostil. Mas a minha presença ali, demarca uma posição, ela demarca primeiro uma posição de que a democracia brasileira e que o Congresso brasileiro não representam na integralidade o povo do nosso país. Não só do ponto de vista LGBT, mas de modo geral”, reflete. 

Para a deputada, existe no Congresso uma sub-representação de várias perspectivas de Brasil e de realidade. Ela defende ser necessária a demarcação do espaço político com a presença de diferentes corpos e perspectivas.

“Quanto mais a gente amplia esses corpos, essas perspectivas, mais a gente busca aprofundar a própria democracia, no sentido de que é importante defender as nossas pautas, mas é importante que, de modo geral, a política brasileira seja pensada com a maior pluralidade possível. Então, a minha presença tem essa perspectiva. Ela tem uma perspectiva histórica também, porque desde o dia 19 de agosto de 1983, lésbicas se organizam para reivindicar politicamente a nossa ocupação em diferentes espaços, desde a ocupação de um bar até a ocupação na Câmara”, defende.

Corrida eleitoral 

Com a campanha eleitoral já vigorando, Ayres deixa um recado para as mulheres lésbicas que vão disputar as eleições em outubro. Ela acredita ser importante que as candidatas tenham muita nitidez dos porquês se colocam em um processo eleitoral.

“A gente, enquanto mulheres lésbicas, tem que ficar atenta à importância para demarcar uma série de coisas, não só a questão da representatividade em si, mas também desse aprofundamento democrático. Nós vivemos um contexto adverso. A confluência histórica que a gente vive agora é a de que nós estamos muito mais organizadas, temos mais nitidez das demandas como saúde, educação, empregabilidade, orçamento, que nós queremos para as nossas políticas”, afirma.

“Pensar tudo que nos toca diretamente e nos colocar como sujeitos integrais. A gente precisa ter nitidez de que ou a gente tem uma perspectiva democrática e que a nossa atuação nos diferentes temas têm essa perspectiva, ou então a gente não vai estar contribuindo para uma busca de mudança na sociedade como um todo, e a nossa tarefa também é essa”, acrescenta. 

Ampliação de ações para a comunidade LGBT

Após anos de governos que invisibilizaram as pautas da comunidade LGBT no país, Ayres reconhece que a atual gestão federal tem executado ações positivas para esta parcela da sociedade. Exemplo da criação da Secretaria Nacional LGBT, vinculada ao Ministério dos Direitos Humanos, e de políticas transversais ligadas aos Ministérios da Saúde, das Mulheres, dos Esportes, e do Trabalho e Emprego, e a organismos internacionais e nacionais. 

“Mas mais do que essa perspectiva específica, eu acho que o centro do poder do governo federal precisa mudar esse entendimento sobre nós, e as nossas pautas, e a nossa própria existência. É preciso entender que tratar das questões de diversidade sexual e de gênero não é uma cortina de fumaças, não é algo menor, não é uma desatenção com as questões muitas vezes lidas como mais importantes ou majoritárias”, questiona.

“O que parte dos nossos companheiros e companheiras entendem como identitarismo, eu entendo como pautas e avanços civilizatórios, que buscam compreender uma parcela da população que hoje é excluída do orçamento, das políticas públicas ou que tem muita dificuldade de se inserir nesse campo. É necessário pensar nessa parcela como cidadão e cidadã, e que os preconceitos que são fundados na religiosidade e na moral, têm cerceado cidadania e integralidade de direitos para a gente”, encerra. 

Da Redação Elas por Elas 

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