Bolsonaristas ameaçam ampliar ainda mais o número de crianças mortas pela covid-19

Responsável pela tragédia de 700 mil óbitos na pandemia no país, extrema-direita usa fake news contra vacinação infantil

Divulgação/Redes Sociais

Bolsonaro e o desdém pela vida: negacionistas têm desferido ataques à Saúde com uma avalanche de fake news sobre a vacinação infantil

Responsável pela tragédia de 700 mil mortes pela covid-19 no país, entre as quais 1.753 de crianças de 6 meses a 5 anos, a extrema-direita bolsonarista, com o mesmo negacionismo e desprezo pela vida, parece empenhada em aumentar ainda mais o número de vítimas. Não há outra interpretação possível para os ataques que essa horda tem feito à inclusão, pelo Ministério da Saúde, da vacina contra a doença no calendário nacional de imunização infantil a partir de 2024.

O ministério fez o anúncio em 31 de outubro, quando informou que a vacinação também será destinada a grupos com maior risco de desenvolver as formas graves da doença, como idosos, imunocomprometidos, gestantes e puérperas, trabalhadores da saúde e pessoas com comorbidades.

Desde então, os negacionistas têm reagido com ataques à pasta e uma avalanche de fake news sobre o assunto. Nessa ofensiva, chegaram a convidar a ministra Nísia Trindade para uma audiência pública na Câmara dos Deputados, para dar esclarecimentos sobre o tema.

A audiência ocorreu na terça-feira (28), na Comissão de Fiscalização Financeira e Controle, quando a ministra da Saúde assegurou que a inclusão da vacina no calendário infantil segue recomendação das sociedades científicas e não representa qualquer ameaça à saúde das crianças. Nísia também alertou que, apenas neste ano, 110 crianças morreram em decorrência da covid-19.

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Ainda segundo a ministra, somente em 2023, o país registrou 3.379 casos de síndrome respiratória aguda grave por covid-19 em menores de 1 ano, e 1.707 casos na faixa de 1 a 4 anos. “A indicação é muito clara e está baseada em um dado muito simples: 110 mortes de crianças por Covid em 2023, é esse o dado que leva a essa determinação”, afirmou.

No entanto, as explicações da ministra não foram suficientes para conter a sanha da extrema-direita, que demonstrou o mesmo desprezo pela ciência que levou a uma gestão desastrada, irresponsável e criminosa da pandemia.

Durante a audiência, Nísia foi obrigada a ouvir e rebater uma série de afirmações descabidas e mentirosas sobre o tema. Segundo uma delas, “há uma epidemia mundial” de morte súbita depois da vacinação contra a covid.

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“Devo dizer da temeridade do que está sendo colocado aqui, por quem está atacando, sim, a proteção à vida que a vacina dá. Não se sabem, inclusive, as implicações neurológicas da covid, não se sabem muitas das implicações no aparelho circulatório, os casos de trombose entre as pessoas que têm covid são muito maiores do que naqueles que não têm”, disse, em resposta ao deputado federal Eduardo Bolsonaro, autor da mentira.

Outra negacionista, a deputada Bia Kicis, que presidia os trabalhos da comissão, disse que já realizou outras audiências públicas com vários médicos especialistas em imunizantes e que todos são contra a inclusão da vacinação infantil no calendário.

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Em mais uma fake news, a bolsonarista disse que a Food and Drug Administration (FDA), órgão que regulamenta a venda de produtos farmacêuticos e alimentos nos Estados Unidos, não confirma a eficácia da vacina da covid-19, por considerar o imunizante uma terapia gênica – intervenção que consiste na inserção de genes nas células e tecidos de um indivíduo para o tratamento de uma doença, em especial, hereditária.

Diante desse absurdo, a ministra da Saúde chamou de “mentirosa” a afirmação da negacionista. “O FDA jamais falou que a vacina de RNA mensageiro é uma terapia gênica. Esse é o problema que nós temos hoje, as falas são feitas como se houvesse verdades por trás, e não há verdade”, respondeu Nísia.

Ação criminosa

O deputado federal Jorge Solla (PT-BA), que foi secretário de Atenção à Saúde do Ministério da Saúde, foi ainda mais duro. Afirmou que a atuação da extrema-direita é “irresponsável e criminosa” por colocar vidas em risco, principalmente de crianças, com interesse de angariar apoio político e votos.

“Vocês sabem que a vacina é cientificamente comprovada, e vocês se utilizam política e partidariamente para falar com suas bolhas. Vocês fazem uso político-partidário da vida das pessoas. Vocês fazem uso eleitoreiro da proteção à saúde da população brasileira”, afirmou o parlamentar.

“Vocês não estão questionando dogmas científicos, vocês não estão questionando práticas médicas. Vocês estão se utilizando, e vou dizer o termo correto, de forma irresponsável, de forma criminosa, se utilizando de um discurso mentiroso”, acrescentou Solla, que também citou o desmonte do Programa Nacional de Imunizações (PNI), do Ministério da Saúde, durante o governo passado.

“Nós não podemos admitir, e eu não posso compactuar com a forma criminosa com que vocês derrubaram a cobertura vacinal nesse país. E a forma criminosa, e mais irresponsável ainda, que vocês continuam se utilizando do discurso antivacina para tentar manter uma bolha de apoiadores. Somente isso, tentando manter votos, tentando manter apoio, espaço próprio, isso é criminoso, isso é irresponsável”, prosseguiu o deputado.

Desmonte

O desmonte do PNI pelo governo passado, citado por Solla, foi responsável por um número elevado de mortes de crianças de 6 meses a 5 anos por covid-19 no Brasil. Segundo a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), foram 1.439 entre 2020 e 2021. Nesse período, diante da resistência de Jair Bolsonaro em adquirir imunizantes, a vacinação contra a doença não estava autorizada para esse público.

Além disso, embora as vacinas sejam aplicadas gratuitamente nos postos de saúde da rede pública, a imunização infantil contra diferentes doenças vem caindo de forma vertiginosa no Brasil, e hoje se encontra nos níveis mais baixos dos últimos 30 anos.

Em 2021, por exemplo, em torno de 60% das crianças foram vacinadas contra a hepatite B, o tétano, a difteria e a coqueluche. Contra a tuberculose e a paralisia infantil, perto de 70%. Contra o sarampo, a caxumba e a rubéola, o índice não chegou a 75%. A baixa adesão se repetiu em diversas outras vacinas.

Para que exista a proteção coletiva e o Brasil fique blindado contra as doenças, o recomendável é que entre 90% e 95% das crianças, no mínimo, estejam imunizadas.

Senado

A ofensiva antivacina também está presente no Senado Federal, onde a extrema-direita já se mobiliza para barrar a vacinação de crianças contra a covid-19.

Ex-ministro da Saúde de Lula, o senador Humberto Costa (PT-PE) se disse espantado por ter que discutir, em pleno século XXI, a eficácia de vacinas que já foram aprovadas por renomadas instituições científicas em todo o mundo. O parlamentar também falou da importância da atuação dos agentes comunitários de Saúde na conscientização da população.

“Quando diz que o sistema de saúde e os agentes comunitários vão abordar os pais, é no sentido de sensibilizá-los, conscientizá-los, da importância da vacinação. Infelizmente, eu tive que chegar aos 66 anos para ver uma discussão onde tem gente que é contra a vacina”, lamentou o parlamentar.

Da Redação

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