Covid-19: Bolsonaro volta a defender tratamento ineficaz e mortal

Presidente anuncia viagem a Chapecó (SC) para promover ‘kit covid.’ Efeitos adversos por uso de cloroquina subiram 558%, aponta Anvisa. 9 pessoas morreram

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No dia 22 de março,  um homem de 69 anos morreu no Rio Grande do Sul após realizar tratamento com nebulização de hidroxicloroquina

Em sua peregrinação da morte, Jair Bolsonaro marcou para esta semana uma visita a Chapecó (SC), onde o prefeito João Rodrigues tem recomendado o’kit covid’, um medicamento sem comprovação científica contra a Covid-19. A utilização do chamado ‘kit covid’ vem se revelando muito mais perigosa e letal do que se imaginava. Levantamento do jornal O Globo mostra que os efeitos adversos por uso de medicamentos como cloroquina subiram 558% em 2020, quando comparados ao ano anterior. E não é só: pelo menos nove mortes foram identificadas pela Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa) após o início da pandemia.

O ‘kit covid’ tem sido citado por Jair Bolsonaro como parte de um “milagroso” tratamento precoce para a doença. Na verdade, trata-se de uma mais uma perigosa ilusão, parte de uma campanha de desinformação cujo objetivo é espalhar o vírus no país.

Os dados integram um levantamento baseado no Painel de Notificações de Farmacovigilância da Anvisa e são informados por profissionais de saúde, empresas e mesmo pacientes. Segundo o Globo,  o aumento também foi registrado em relação a outros medicamentos do “kit”. De acordo com o painel, as notificações por efeitos adversos associados ao uso da cloroquina saíram de 139 em 2019 para 916 em 2020.

No dia 22 de março,  um homem de 69 anos morreu após realizar tratamento com nebulização de hidroxicloroquina, contra a Covid-19, no Hospital de Caridade de Alecrim, na Região Noroeste do Rio Grande do Sul. De acordo com a família do paciente, o médico responsável não informou que realizaria a nebulização.

Não à toa, 96% das notificações de efeitos adversos estão no Amazonas, que enfrentou um colapso hospitalar em janeiro. Segundo revelou o jornal, 13 unidades de saúde de Manaus foram visitadas por equipes do Ministério da Saúde, cujo titular à época, Eduardo Pazuello, pregava o uso do tratamento precoce. Após o episódio, Pazuello passou a ser investigado pelo Ministério Público.

A ivermectina, que também faz parte do kit, também aparece nas notificações registradas pelo painel em 2020. Em 2019, não houve notificações, segundo a Anvisa. Há poucos dias, a imprensa noticiou casos de quatro pacientes que utilizaram a droga e precisaram entrar em uma fila para transplante de fígado. A Organização Mundial da Saúde (OMS) também desaconselha o uso do medicamento no tratamento contra a doença.

Peregrinação da morte em Chapecó

Apesar do alerta das autoridades, Bolsonaro descobriu no fim de semana o palco para seu próximo show de horrores: Chapecó (SC). Lá, o  prefeito João Rodrigues vem atribuindo uma queda de casos de Covid-19 em Chapecó por causa das drogas, algo que não passou longe do radar presidencial.

A realidade, contudo, desmente o prefeito: Chapecó registrou 414 mortes por Covid-19 somente entre janeiro e o começo deste mês, ante a 123 óbitos em 2020. Os números de casos só caíram depois que foi decretado um lockdown no município, entre 22 de fevereiro e 8 de março, informação omitida pelo prefeito Rodrigues.

“[Rodrigues é um] exemplo a ser seguido, por isso estou indo para lá”, anunciou Bolsonaro, na segunda-feira (5). “Para exatamente não só ver, mas mostrar a todo o Brasil que o vírus é grave, mas seus efeitos têm como ser combatidos”.

E seguiu manipulando a realidade para uso político: “Mais ainda, naquele município —com toda certeza em mais [cidades], em alguns estados também— o médico tem a liberdade total para trabalhar com o paciente, total. Esse é dever do médico, uma obrigação e direito dele”, declarou o presidente”.

Resta saber se o médico Marcelo Queiroga, atual titular da Saúde, topará passar pela humilhação de baixar a cabeça para os ataques de Bolsonaro à ciência e associar seu nome a um “tratamento” mortal.

Da Redação, com informações de O Globo, Folha e G1

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