Brasil tem metade dos casos de Covid-19 na América Latina e Caribe
Região supera 500 mil infectados, 245 mil só no Brasil. No domingo (17), país superou 16 mil mortos enquanto presidente Jair Bolsonaro voltou a desafiar regras de isolamento das autoridades comparecendo à manifestação na Praça dos Três Poderes, em Brasília, ao lado de 11 ministros. Diretor da ONU critica países que não seguiram recomendações da OMS
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A América Latina e o Caribe superaram os 500 mil casos de Covid-19. Na região, a doença já ceifou a vida de mais de 28,4 mil pessoas. O Brasil, que chegou a ultrapassar o Reino Unido em números de casos na manhã desta segunda-feira (18), está em 5º no ranking mundial, respondendo por quase metade dos registros, com 245 mil infectados. O planeta já se aproxima dos 5 milhões de infecções: há 4,5 milhões de doentes e 318 mil óbitos. No domingo, enquanto o país chegava à triste marca de mais de 16 mil mortos, o presidente Jair Bolsonaro deu mais uma demonstração de desumanidade ao participar de manifestação na Praça dos Três Poderes, ao lado e 11 ministros.
“Bolsonaro é o maior obstáculo ao fim da pandemia no Brasil”, afirma a deputada federal e presidenta do PT, Gleisi Hoffmann. “Não respeita o isolamento e incentiva seus apoiadores a fazerem o mesmo; quer acabar com a quarentena antes da hora e para isso ataca governadores e briga com ministros; atrasa auxílio emergencial para forçar os mais pobres a voltarem ao trabalho; e faz propaganda de medicamento para a covid-19 sem comprovação científica”, critica. “Pais, mães, crianças, avós, avôs… São tantas histórias que se perdem… No mesmo dia, bolsonaristas voltam a se aglomerar em Brasília, com a presença de Bolsonaro, para debochar dessas mortes. É revoltante”, lamenta o líder do PT no Senado, Rogério Carvalho.
Em número de casos, o Peru é o segundo país mais afetado da região, com 92 mil casos e 2,6 mil mortos. O México vem a seguir, com 49 mil casos e mais mortes: 5,1 mil. O Chile, que iniciou no sábado uma quarentena após um aumento repentino no número de casos e mortes, tem 46 mil casos e 478. mortes. Outros países seguem colhendo frutos de medidas adotadas com antecedência e que resultaram em um maior controle da pandemia e proteção de suas populações. A Argentina tem 8 mil casos e 374 óbitos. Já o Paraguai e Uruguai têm números próximos: 788 e 734 casos, e 11 e 20 mortes, respectivamente.
Venezuela completa um mês sem mortes
Com um dos mais baixos registros de casos da região, a Venezuela tem 541 infectados e apenas 10 óbitos no país. No início da semana passada, o presidente Nicolás Maduro editou um novo decreto presidencial para estender o Estado de Alarme Nacional por mais 30 dias. “Vou renovar o decreto do estado de alarme por mais 30 dias para continuar protegendo nosso povo”, afirmou Maduro em reunião com o gabinete ministerial. O país não registra novas mortes desde 19 de abril.
Segundo o ministro da Comunicação, Jorge Rodríguez, o país tem a menor tava de letalidade do continente americano, com apenas 0,35 mortes por infecção de Covid-19 por milhão de pessoas. Além disso, quase metade dos doentes já estão curados, 241 pessoas. Segundo Rodríguez, entre 70% e 80% dos identificados em maio vieram de fora do país. “Por isso estamos reforçando as instruções do presidente Nicolás Maduro, para que os protocolos de atenção nas fronteiras terrestres, nos portos e aeroportos sejam mais rígidos”, declarou o ministro, na semana passada.
Pandemia em expansão
De acordo com o diretor-geral assistente para Respostas de Emergência da Organização Mundial da Saúde (OMS), Ibrahima Socé Fall, a pandemia ainda está em fase de crescimento, com EUA e Brasil assumindo a condição de epicentro da doença na região. “Há estabilização na Europa Ocidental, mas a curva está subindo na Europa Oriental, em expansão no sudeste da Ásia e diminuindo na região do Pacífico. A doença está em ascensão nas Américas: os países da América são cada vez mais afetados e os Estados Unidos são atualmente o epicentro da pandemia. Finalmente, a África é cada vez mais afetada”, avalia.
Entre 18 e 19 de maio, a OMS realiza a Assembleia Mundial de Saúde (AMS) para discutir ações de resposta ao avanços da pandemia. Em mensagem na abertura da Assembleia, o secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou que a Covid-19 representa o maior desafio desta era e criticou os países que, a exemplo do Brasil, ignoraram as recomendações da OMS no âmbito das ações de combate à pandemia.“
Impacto arrasador nos países do hemisfério Sul
“Vimos expressões de solidariedade, mas pouquíssima unidade em nossa resposta ao Covid-19. Os países seguiram estratégias diferentes, às vezes contraditórias, e todos estamos pagando um preço muito alto”, observou António Guterres. Segundo o secretário-geral, é falsa a dicotomia entre salvar a economia e salvar vidas. E advertiu que não haverá recuperação econômica enquanto o vírus não for contido.
Para Guterres, o impacto da doença nos países do hemisfério Sul será arrasador. Ele chamou a atenção para a necessidade de que a recuperação deve resultar em economias e sociedades mais “inclusivas, sustentáveis, equitativas e resilientes”. Ainda de acordo com o diretor-geral, a população deve estar no centro da ações de resposta e deve ser beneficiada por uma ampla e universal cobertura de saúde.
Imagem devastada no exterior
No exterior, a imagem do país continua sendo devastada pelo governo Bolsonaro. “O Brasil de Bolsonaro habita um mundo paralelo, um teatro do absurdo onde fatos e realidade não existem mais”, aponta editorial do jornal francês ‘Le Monde’ desta segunda-feira (18). “Traindo os fatos, os governantes populistas acabam acreditando em suas próprias mentiras, vemos isso em outras partes do mundo”, observa o respeitado diário francês. “Mas aqui, neste país que surgiu há apenas vinte e cinco anos da ditadura, onde a democracia permanece frágil e até disfuncional, o fato de Bolsonaro politizar dessa maneira uma crise de saúde excessiva é totalmente irresponsável”.
Atingindo o dobro da letalidade em apenas dez dias e já registrando a maior mortalidade diária depois dos EUA, é possível que o país só atinja o pico depois de junho, o período anteriormente calculado por especialistas. Com um quadro de avanço alarmante e longe de retroceder, os países da América do Sul continuam em alerta. O presidente da Argentina, Alberto Fernández, já manifestou publicamente preocupação pelos riscos que o Brasil representa para a região.
“Há muito transporte que vem do mercado de São Paulo, e lá o foco infeccioso é altíssimo e parece que o governo não está encarando com a seriedade que o caso requer. Isso me preocupa muito pelo povo do Brasil, mas também porque pode se transferir para a Argentina”, disse Fernandez, há algumas semanas.
Da Redação, com agências internacionais