Campanha antivacina de Bolsonaro abastece redes de fake news
Levantamento da União Pró-Vacina, ligada à USP Ribeirão Preto, indica que nota da Secom, que oficializou frase do presidente “ninguém pode obrigar ninguém a tomar vacina” foi replicada nas redes sociais de grupos antivacina, gerando milhares de compartilhamentos. Ao contrário da Secom, que divulgou rapidamente a peça de sabotagem ao combate à pandemia nas redes do governo, a página do Ministério da Saúde no Facebook, dedicada a informar a população sobre a importância das vacinas, não divulga qualquer conteúdo desde o início de junho
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Em meio à pior crise sanitária do século, os prejuízos ao combate à pandemia do coronavírus, causados pela máquina de sabotagem de Bolsonaro, são imensuráveis. Nesta quinta-feira (10), o Brasil registra mais de 4,2 milhões de casos e 128.857 mil mortes, informa o consórcio de veículos de imprensa. Ao paralisar a estrutura do Ministério da Saúde, o governo dificulta as ações de enfrentamento em estados e municípios e, enquanto espalha desinformação à população, contribui significativamente para elevar o trágico número de novos casos e de mortes pela doença no país. Levantamento da União Pró-Vacina, grupo de pesquisadores ligados à USP Ribeirão Preto, aponta que a campanha antivacina iniciada por Bolsonaro com a frase “ninguém pode obrigar ninguém a tomar vacina”, abasteceu redes distribuidoras de conteúdo falso nas redes, gerando milhares de compartilhamentos e interações.
O impacto maior ocorreu depois que a Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom) divulgou, no dia 1º de Setembro, material publicitário reforçando a fala do presidente: “o governo do Brasil investiu bilhões de reais para salvar vidas e preservar empregos. Estabeleceu parceria e investirá na produção de vacina. Recursos para estados e municípios, saúde, economia, tudo será feito, mas impor obrigações definitivamente não está nos planos”, diz a nota publicada nas redes do governo.
O resultado, segundo a União-Pró Vacina, foi imediato. Só no twitter, por exemplo, a peça publicitária da Secom gerou, até a quarta-feira (9), 10,6 mil compartilhamentos, 8,4 mil curtidas e 4,7 mil comentários, gerados por grupos antivacinas. No Facebook, rendeu 5,7 mil compartilhamentos, 7,4 mil curtidas e 3,8 mil comentários. Segundo o grupo de pesquisadores, a Secom “demonstra ter uma estrutura ágil para criar e disseminar peças que podem gerar desconfiança sobre as vacinas em um momento crucial [da pandemia]”.
Ao mesmo tempo, a página do Ministério da Saúde no Facebook, destinada a esclarecer a população sobre a importância da vacinação para a saúde coletiva, não gera conteúdo desde o dia 5 de junho. A página tem cerca de 1,1 milhão de seguidores. Um claro sinal de que o ministro interino da Saúde, Eduardo Pazuello, está alinhado com a estratégia negligente de Bolsonaro.
Brasil, 2º no mundo em desinformação sobre Covid-19
A declaração de Bolsonaro, fortalecida e ampliada pela Secom, reforça as campanhas de desinformação que colocam o Brasil como o segundo país do mundo que mais dissemina informações falsas sobre a Covid-19, ao lado de EUA e Espanha, de acordo com pesquisa feita pela agência Lupa.
Entre as notícias falsas disseminadas, estão efeitos colaterais, mortes e teorias da conspiração como o implante de chips eletrônicos para monitoramento e controle de pacientes. Algumas teorias são tão absurdas que lembram os boatos que alimentaram a Revolta da Vacina no país, em 1904. À época, dizia-se que a pessoa que se vacinava contra a varíola passaria a ter feições bovinas, uma vez que o imunizante era feito com líquido de pústulas de vacas doentes.
A União Pró-Vacina também identificou no país um aumento de 383% de notícias com conteúdo falso nas redes sociais entre maio e julho. “Por trás desse triste pódio, está a atuação de grupos que consideram as vacinas como elementos centrais de diversas teorias da conspiração e de possíveis iniciativas secretas para frear o crescimento populacional’’, aponta o grupo.
Brasil não atinge meta de vacinação infantil
As campanhas antivacinação ganham força em um momento delicado do país, que pela primeira vez em 20 anos não conseguiu atingir a meta de nenhuma das vacinas infantis indicadas para crianças de até um ano. Os dados, correspondentes a 2019, são do Programa Nacional de Imunizações do próprio Ministério da Saúde e foram divulgados nesta semana pela ‘Folha de S. Paulo’. As coberturas vacinais têm sofrido uma queda nos últimos cinco anos, com uma redução, dependendo do imunizante, de até 27%.
Curiosamente, o Ministério da Saúde soltou a seguinte nota à reportagem do jornal para explicar a queda no índice de imunizações. Entre os fatores, estão a “falsa sensação de segurança causada pela diminuição ou ausência de doenças imunopreveníveis; o desconhecimento da importância da vacinação por parte da população mais jovem e as falsas notícias veiculadas especialmente nas redes sociais sobre o malefício que as vacinas podem provocar à saúde”. Faltou apenas combinar com os russos, ou melhor, com a Secom e o ocupante do Planalto.
Da Redação, com ‘Jornal da USP’ e ‘Folha de S. Paulo’