Casos e mortes explodem e governo abandona população à própria sorte

Mortes por insuficiência respiratória aumentam 1.012% no País, aponta Portal da Transparência dos Cartórios. Há quase duas semanas no cargo, ministro da Saúde não apresenta plano de ação. País bate novo recorde e já ultrapassa a China em número de mortes, com mais de 5 mil óbitos

Alex Pazuello

Cemitério Público Nossa Senhora Aparecida, em Manaus (AM)

Sem plano de ação, metodologia e afundado no negacionismo, o governo de Jair Bolsonaro colhe os resultados trágicos de sua incompetência no combate à pandemia do coronavírus. O Brasil passa de 71,8 mil casos de infecção pelo vírus e ultrapassou a China em número de mortos: já são 5.017. Só nas últimas 24 horas outro recorde foi batido, com mais 474 óbitos. As subnotificações descortinam o cenário mais assombroso do pesadelo no país. As mortes por Síndrome Respiratória Aguda (SRAG) aumentaram 1.012% desde março. A insuficiência respiratória é a principal causa associada a óbitos por Covid-19. Os dados constam do Portal da Transparência dos Cartórios, organizado pela Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen). O aumento coincide com a explosão de novos casos e mortes no país.

De acordo com o portal ‘Brasil de Fato’, os dados apontam um aumento ainda mais extraordinário em alguns estados. Pernambuco lidera o ranking, com 6.357% de óbitos, seguido por Amazonas, com 4.050%. No Rio de Janeiro, a taxa chegou a 2.500% e, no Ceará, a 1.666%. As mortes por causa indeterminada tiveram aumento de 43%, segundo reportagem do ‘Estado de S. Paulo’. O levantamento cobre o período de 26 de fevereiro, data do primeiro registro de infecção no Brasil, até 17 de abril. Em 2020, o País teve 1.329 mortes por causa indeterminada. Em 2019, foram 925 óbitos registrados pelos cartórios no mesmo intervalo.

Especialistas avaliam que os óbitos podem estar relacionados à disseminação da pandemia em solo brasileiro. Há quase duas semanas no cargo, o novo ministro da Saúde, Nelson Teich parece não se dar conta da gravidade histórica da crise sanitária, limitando-se a dizer que o relaxamento do isolamento social será decidido por região. Em meio ao início do pico da doença, o quadro agrava-se pela total falta de conhecimento sobre o avanço da pandemia.

Os testes não chegam e o governo não divulga o número exato das amostras adquiridas. Teich anunciou o fantasioso número de  46,2 milhões de testes que serão feitos até setembro mas a imprensa noticia que o governo tem dificuldade em coletar e organizar os dados dos testes já realizados por estados e municípios. O Brasil é um dos países que menos testam no mundo; A média é de 1,5 mil testes por milhão de habitantes. Nos Estados Unidos, a média é de 17 mil testes.

Para piorar o cenário, há um descompasso na coordenação das medidas de enfrentamento adotadas por governo, estados e municípios. Secretários estaduais de Saúde reclamam que o ministro não recebe ninguém desde que tomou posse, no dia 17 de abril. Segundo a coluna Painel, da  ‘Folha de S. Paulo’, os secretários de Saúde descrevem Teich como “frio, distante, tutelado e vacilante”. A prática era de reuniões diárias durante o período em que Henrique Mandetta era ministro.

Subnotificações são ameaça grave

Cientistas advertem que as subnotificações constituem grave ameaça para as estratégias de combate global à doença.  Um levantamento do jornal britânico ‘Financial Times’ afirma que o número de  mortes provocado pela Covid-19 pode ser até 60% maior do que o anunciado oficialmente. O jornal reuniu informações sobre óbitos registrados em 14 países desde o início da pandemia.

Segundo o diário, nesses países, durante a pandemia, houve 122 mil mortes acima da média de anos anteriores, bem mais do que as 77 mil mortes oficiais por covid-19 anunciadas no período. “Se o mesmo nível de subnotificações observado estiver ocorrendo em todo o mundo, o número total de mortos por covid-19 subiria de 201 mil, total oficial atual, para 318 mil”, alerta o ‘Financial Times’.

Para calcular o número de mortes acima da média histórica, o  jornal informa que comparou as mortes por todas as causas de cada país nas semanas de epidemia entre março e abril com as médias de fatalidades no mesmo período entre 2015 e 2019. “Em todos os países analisados, com exceção da Dinamarca, o número de mortes acima da média histórica supera amplamente a contagem oficial de mortes atribuídas ao coronavírus”, aponta a reportagem.

Falta de leitos põe sistema de saúde à prova

Enquanto segue o baile de terror, com o silêncio mórbido das subnotificações ecoando por todo o país, o esgotamento dos leitos nos hospitais em capitais e cidades do interior põe à prova o sistema de saúde. Em várias estados, há uma corrida desenfreada de pacientes para conseguir uma vaga na UTI. Profissionais de saúde descrevem um cenário de guerra, com pessoas morrendo em casa ou dentro de ambulâncias. No Rio de Janeiro, a Secretaria de Estado de Saúde informa que, das 2.235 pessoas internadas com suspeita ou confirmação da infecção, 326 aguardam transferência para um leito. Mesmo hospitais de campanha, caso de São Paulo, cuja unidade do Pacaembu pode atingir capacidade máxima ainda nesta semana, não darão conta da demanda. No litoral paulista, a taxa de ocupação se aproxima do limite máximo e o sistema está à beira do colapso.

A face mais perversa da incompetência do governo é sentida de modo mais cruel nas periferias, cujos habitantes vivem o martírio causado pela falta do Estado. “O impacto social e econômico do novo coronavírus é alarmante nas favelas do país, com parte dos moradores flertando com a fome após terem suas fontes de renda, como o trabalho autônomo e informal nas ruas, interrompidas pelo período de quarentena” , afirmou Celso Athayde, fundador da Central Única das Favelas (Cufa), em entrevista ao jornal ‘Valor Econômico’. A apatia do governo federal está custando caro demais.

Da Redação, com agências de notícias

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