Censura ao Enem escancara “amarras ideológicas” de Bolsonaro

Jair tem feito justamente o que diz ser contra e deixa claro que está muito mais preocupado com questões ideológicas do que qualquer outro presidente

Fernando Frazão/Agência Brasil)

Jair Bolsonaro recebe o primeiro-ministro de Israel e acusado de corrupção Benjamin Netanyahu

Passados quase dois meses desde que assumiu o cargo mais alto do país (pelo qual demonstra total despreparo), o discurso de posse de Jair Bolsonaro ainda serve ao menos para confirmar o seu total descompromisso com a verdade. Vago e repleto de promessas imediatamente descumpridas, o texto tenta – em vão – mostrar que o “novo governo” seria livre de “amarras ideológicas”.

Talvez por não saber o real significado da palavra ou por pura má fé, Bolsonaro nada fez até agora que não passasse, notem a contradição, justamente pelo filtro ideológico da direita. A nova investida do presidente das fake news aconteceu nesta quinta-feira (21) com a notícia de que uma comissão especial será criada para fazer “uma análise ideológica” das questões do Enem.

O objetivo, claro, é impedir que qualquer tema que atinja os interesses escusos do governo seja abordado como o que erroneamente chama de “ideologia de gênero”, mas também questões sobre “intelectuais de esquerda” e pautas progressistas como a do feminismo – como esquecer da crise gerada no exame de 2015 quando um texto da escritora francesa Simone de Beauvoir serviu de base para a redação e gerou onda de ataques de religiosos e conservadores pelo simples fato de ela supostamente ser de “esquerda”.

Primeiro, a América

O principal viés ideológico de Bolsonaro, no entanto, vai muito além das causas identitárias: é a política neoliberal de Donald Trump sua principal inspiração – mesmo que a popularidade do presidente estadunidense esteja em seu pior momento. Sua submissão aos EUA é tão constrangedora que, além de prestar continência para a bandeira do país, que a equipe de campanha de Jair chegou a ventilar a notícia de que seu ídolo participaria da cerimônia de posse no primeiro dia do ano, o que não aconteceu.

Mesmo desdenhado por Trump, Bolsonaro não se envergonha em atender ao que quer (e manda) a nação-símbolo do capitalismo. Ainda que carregue “Brasil acima de tudo” em seu slogan de campanha,  sua política externa prova justamente o contrário, é só lembrarmos da proposta de ceder o Centro de Lançamento de Alcântara (MA), da Força Aérea  Brasileira, aos EUA, anúncio que chocou até mesmo os militares que tanto diz defender.

A entrega da exploração do Pré-sal ao capital estrangeiro e a promessa de privatizar empresas públicas federais também são exemplos de que, para Bolsonaro, a América terá sempre prioridade.

Ódio aos “comunistas de Cuba”

Amor aos EUA e ódio aos que cuidaram durante anos dos brasileiros. Muito mais do que simplesmente amar e reverenciar o país de Trump, Bolsonaro sempre deixou explícito o seu ódio a Cuba e aos profissionais do país que faziam parte do Programa Mais Médicos – criado durante o governo Dilma e referência mundial por permitir acesso à saúde em regiões de alta vulnerabilidade.

Com total desconhecimento sobre o revolucionário programa, aprovado por 95% dos brasileiros,  Jair foi o estopim da crise que obrigou os médicos caribenhos a deixar o país e causar crise sem precedentes na saúde pública nacional. A falta de humanidade do presidente é tamanha que não foram poucas as vezes em que, sem argumentos, passou a ofender gratuitamente todos os cubanos que viviam no Brasil. Chegou, inclusive, a compará-los a cobras e chamá-los de mercenários. A secretária de gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, Mayra Pinheiro, foi ainda mais cruel ao criminosamente mandá-los “voltar para a senzala”.

Em suma, por ódio e desinformação Bolsonaro colocou em risco a vida de milhares de brasileiros em nome de um combate ideológico que tem desconstruído importantes relações diplomáticas consolidadas durantes os governos do PT – que fizeram do Brasil líder regional justamente por não se prender a ideologias.

Israel e a debandada do frango

“Juntos mais com outros países como Estados Unidos entre tantos outros que pensam e tem ideologia parecida a nossa temos tudo para nos ajudar e fazer o bem para os nossos povos”, declarou Bolsonaro durante encontro com o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, no Rio de Janeiro no final de dezembro passado. Notem que, ao mesmo tempo em que diz combater as amarras ideológicas, o confuso presidente do Brasil se diz feliz por ter ao lado os países que têm ideologia parecida.

A pretensão de se aliar a um governo cada vez mais envolto em denúncias de corrupção já custou caro a milhares de brasileiros. Ao anunciar a transferência da embaixada brasileira de Tel-Aviv para Jerusalém (atitude que representaria reconhecer a cidade como capital de Israel) fez com que a Arábia Saudita decidisse descredenciar cinco frigoríficos brasileiros que exportam para o país, como retaliação ao governo de Jair Bolsonaro. Mais uma amarra ideológica que pode custar muito caro ao país.

Por Henrique Nunes da Agência PT de Notícias

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