Chile: crise mostra fracasso da política neoliberal, idolatrada por Bolsonaro

Trabalhadores chilenos se insurgem contra desigualdade social, concentração extrema de riqueza, corrupção, precariedade da saúde, educação e das aposentadorias

Tono Carbajo Fotomovimiento

A onda de protestos populares contra a retirada de direitos, aumento de tarifas e outras medidas dos governos que afetam a vida dos trabalhadores chegou ao Chile, após as manifestações no Equador. A revolta dos chilenos, por sua vez, já era anunciada e é mais simbólica, quando se trata da América do Sul, já que o país andino é a nação que abraçou profundamente o receituário de políticas neoliberais. O levante da população evidencia o fracasso das medidas inspiradas na Escola de Chicago, idolatradas por Jair Bolsonaro (PSL) e pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, o ‘Chicago Boy’ tupiniquim.

O estopim das manifestações pode até ter sido o aumento da passagem de metrô, mas os chilenos se insurgem contra a desigualdade social, concentração extrema de riqueza, corrupção, precariedade da saúde, educação e do sistema previdenciário – modelo, inclusive, que Guedes e Bolsonaro ainda querem trazer para o Brasil com a capitalização que, mesmo momentaneamente fora da reforma, segue no horizonte do governo.

Dados do estudo ‘Desiguales’, do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), mostram que o Chile é o país mais desigual entre os integrantes da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e o sétimo em desigualdade na América Latina. Atualmente, 1% da população chilena concentra 33% da riqueza —e 0,1% capta 19,5% do que o país gera.

Privatizações e herança de Pinochet

 

Os problema da sociedade chilena tem origem na ditadura de Augusto Pinochet. Foi nesse período que o Chile fez uma reforma da Previdência e adotou o regime de capitalização, que hoje deixa milhares na miséria. O professor da Faculdade de Economia e Negócios da Universidade do Chile e doutor em Economia pela Universidade de Berkeley Andras Uthoff destacou, em entrevista ao jornalista Leonardo Sakamato, que o sistema de aposentadorias é uma das razões dos protestos.

“Os manifestantes veem que seus pais e avós recebem aposentadorias de miséria, 80% delas abaixo do salário mínimo e 44% da linha de pobreza. Percebem que, dessa forma, não há capacidade de sobreviver dignamente”. Desde a ditadura até os dias atuais, os trabalhadores chilenos são responsáveis individualmente pela sua poupança previdenciária. Por isso, segundo Uthoff,  “depois de 40 anos, percebemos que o sistema de capitalização individual empobreceu os idosos no Chile”.

O modelo implementado por Pinochet exige que os trabalhadores depositem mensalmente cerca de 12% do salário em contas individuais gerenciadas por entidades privadas, que investem no mercado em busca de lucrar, mas não devolvem aposentadorias decentes. Com isso, os aposentados recebem muito menos dinheiro do que ganhavam quando trabalhavam – a média de aposentadorias pagas em agosto foi de US$ 220, pouco mais da metade do salário mínimo (US$ 422).  Militares e policiais, por sua vez, participam de um sistema separado, que oferece aposentadorias muito mais altas – tal como quer Bolsonaro aqui no Brasil.

Uthoff lembrou ainda que as recentes manifestações, que também reivindicam melhores serviços públicos, guardam relação direta com o sistema de aposentadorias daquele país. Ao reformar a previdência, o governo do Chile cortou gastos com saúde, educação e moradia para financiar a transição do sistema. “A qualidade dos serviços públicos se deteriorou e nunca recuperou níveis de dignidade, como prometido”, destacou o professor. Nesse cenário, a educação e saúde do país acabou privatizada.

Educação sem investimento e Saúde precária

 

A educação chilena é outra questão presente nas manifestações. Até 1981, a educação universitária era gratuita, quando a ditadura facilitou a criação de universidades privadas. Paralelamente, os militares cortaram os investimentos em instituições públicas, que passaram a cobrar tarifas. Com isso, os estudantes chilenos afundaram em empréstimos para bancar os estudos – dá até para lembrar do lunático ministro da Educação Abraham Weintraub.

Além da educação privatizada, o Chile sofre com uma saúde precária. Os trabalhadores chilenos devem contribuir com 7% do salário em planos de saúde e podem optar pelo sistema público (Fonasa) ou privado (Isapres). Segundo análise publicada pelo Estadão, 14 milhões são afiliados à Fonasa, que é criticada pelo péssimo atendimento, longas filas e instalações precárias. Já a Isapres, que cobre pessoas com renda mais alta, oferece planos mais caros e menor cobertura para mulheres e idosos, o que causaria inveja no ministro da Saúde brasileiro financiado pelos planos de saúde Luiz Henrique Mandetta.

Os manifestantes chilenos se insurgem ainda contra o alto custo de vida e os problemas de corrupção do país. Os preços dos imóveis subiram 150% em 10 anos. Os salários, por sua vez, cresceram apenas 25%. Além do aumento do metrô, o povo reclama também do aumento de 10% na conta de luz e da alta no preço dos remédios. Outro problema enfrentado pelo país são os casos de corrupção. Nos últimos anos, escândalos envolveram militares e carabineros, além de denúncias de financiamento ilegal de campanhas eleitorais.

Se por um lado Bolsonaro não conseguiu, por hora, trazer a Capitalização e as privatizações da educação e da saúde, por outro, os escândalos de corrupção com financiamento ilegal de campanha ele já importou ao instituir o laranjal do PSL.

Da Redação da Agência PT de Notícias, com informações do Blog do Sakamoto e Estadão

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