Cobertura do caso Fifa pela ‘Rede Globo’ é criticada

Para petistas, a emissora esconde fatos sobre o caso Fifa para proteger próprios interesses

A forma como a “Rede Globo” tem feito a cobertura sobre as investigações do Departamento de Justiça americano e do governo da Suíça sobre o escândalo de corrupção na Fifa, que resultou na  prisão de dirigentes da federação, na última quarta-feira (27), é duramente criticada por parlamentares do PT.

Para o deputado federal Enio Verri (PT-PR), a emissora faz uma cobertura fugaz para não deixar transparecer à população que o grupo de comunicação pode estar comprometido com o caso. “Não tenho dúvidas do envolvimento da Globo, mas ela vai abafar o caso, como sempre faz quando os fatos recaí sobre ela”, declara.

O parlamentar cobra esclarecimento por parte da emissora sobre a compra de direitos de transmissão referentes aos eventos organizados pela Federação Internacional de Futebol (Fifa). “Eles fizeram muitos contratos com a Fifa, vão ocultar os fatos, porque a relação da Globo com a entidade é gigantesca. Quero ver fazerem uma cobertura semelhante como a que fizeram da Petrobras”, afirma.

A justiça americana apura suspeitas de irregularidades na compra dos direitos de transmissão de eventos esportivos. De acordo com a investigação, para transmitir eventos organizados pela Fifa, como a Copa da Mundo ou Copa Libertadores, empresas de marketing esportivo pagavam propinas milionárias aos dirigentes da entidade. Com a  posse dos direitos de transmissão, essas empresas os revendiam a grupos de comunicação do mundo todo.

No Brasil, o ex-diretor de esportes da Rede Globo em São Paulo e fundador da TV TEM (Traffic Entertainment and Marketing), afiliada da emissora que cobre quase metade do estado paulista, J. Hawilla, confessou a justiça americana ser culpado pelos crimes de extorsão, fraude eletrônica, lavagem de dinheiro e obstrução da Justiça. Hawilla permanece nos Estados Unidos, onde mora há dois anos, e está em liberdade

O jornalista se comprometeu a devolver US$ 151 milhões de seu patrimônio – US$ 25 milhões deste total já teriam sido pagos no momento da confissão. O mandatário da Traffic foi classificado diversas vezes pela imprensa nacional como “dono do futebol brasileiro”.

Somente para transmitir a Copa América de 2015, 2019 e 2023, a Datisa, formada pela Traffic e duas companhias sul-americanas, aceitaram pagar US$ 352,5 milhões e mais US$ 110 milhões em propinas.

Apesar de J.Hawilla confessar os atos ilícitos, a Rede Globo procura minimizar sua participação com o caso. Na quarta-feira (27), a emissora soltou apenas um editorial no “Jornal Nacional”.

“A TV Globo, que compra os direitos de muitas dessas competições, só tem a desejar que as investigações cheguem a bom termo e que o ambiente de negócio do futebol seja honesto. Isso só vai trazer benefícios ao público, que é apaixonado por esse esporte, e às emissoras de televisão do mundo todo, que como a Globo fazem um esforço enorme para satisfazer essa paixão”, acrescentou o apresentador do telejornal, William Bonner.

Para a senadora Regina Sousa (PT-PI), a Rede Globo deu pouca ênfase sobre o fato do empresário brasileiro J. Hawilla ser responsabilizado pelos crimes. O fato da Traffic ter exclusividade na comercialização de direitos internacionais de TV da Copa do Mundo da Fifa no Brasil, em 2014 também foi “abafado”.

“Percebemos que a Rede Globo não está fazendo uma cobertura fiel. Para eles se não tiver petista envolvido não tem cobertura”, analisou.

CBF – O Departamento de Justiça americano, cita a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) em “esquema de pagamento de propinas” relacionado a contratos de marketing e transmissão de jogos da Copa do Brasil.

Hawilla, que é amigo do ex-presidente da CBF, Ricardo Teixeira, estaria envolvido nesses pagamentos. Ele inclusive, já admitiu culpa. Foi na gestão de Teixeira que a Traffic começou a atuar como detentora dos direitos de transmissões de TV e publicidade da seleção.

Segundo a polícia federal norte-americana (FBI) e a receita federal, as investigações na Fifa tiveram início durante o processo de escolha das Copas do Mundo de 2018, na Rússia, e de 2022, no Catar, mas foi expandida para analisar os acordos da entidade nos últimos 20 anos. Conforme divulgou o Departamento de Justiça americano, a fraude aconteceu durante muito tempo.

“Duas gerações de dirigentes de futebol abusaram de suas posições de confiança para ganho pessoal, frequentemente através de aliança com executivos de marketing inescrupulosos que barraram concorrentes e mantiveram contratos lucrativos para si mesmos através do pagamento sistemático de propinas. Os dirigentes são acusados de conspiração para solicitar e receber mais de US$ 150 milhões (cerca de R$ 400 milhões) em subornos em troca do apoio oficial dos executivos de marketing que concordaram com pagamentos ilegais”, divulgou o Departamento de Justiça.

Por Michelle Chiappa, da Agência PT de Notícias

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