Com golpe, velhos tempos estão de volta, diz jornalista alemão
“As elites tradicionais voltaram ao poder. E elas fazem o que querem”, afirmou correspondente do “Die Zeit” no Brasil
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O correspondente do jornal “Die Zeit” no Brasil, Thomas Fischermann, fez duras críticas ao processo que culminou com a saída da presidenta eleita, Dilma Rousseff, do cargo. Em análise veiculada neste sábado (15) pela emissora pública alemã Deustchlandfunk, ele diz que a composição do ministério de forma desigual revela que os velhos tempos estão de volta ao país. “As elites tradicionais voltaram ao poder. E elas fazem o que querem”, afirmou.
Para ele, o governo Michel Temer escolheu um primeiro escalão sem mulheres e negros, motivado por “estupidez ou desespero”. “Nenhum negro faz parte dele [do ministério] – e isso neste colorido país de tantas culturas”, disse. “E também nenhuma mulher. O Ministério das Mulheres [e da Igualdade Racial, da Juventude e dos Direitos Humanos] foi até extinto.”
O semanário “Die Zeit” já havia se manifestado com críticas ao golpe, afirmando que o afastamento de Dilma é “a declaração de falência do Brasil”. Para o jornalista Michael Stürzenhofecker, o país queria se apresentar como uma nação moderna com os Jogos Olímpicos, mas o processo de afastamento de Dilma é um “recuo nos velhos tempos” e também os 31º Jogos não serão realizados numa “democracia sem máculas”.
O “Die Zeit” não foi o único veículo alemão a se posicionar sobre o assunto. Grande parte do noticiário local é dedicado ao golpe no Brasil, com tom de preocupação.
O site do “Deutsche Welle (DW)” traz texto intitulado “Um país perde”, em que afirma que “o grande e orgulhoso Brasil terá que se resignar a, no futuro, ser citado por historiadores” junto das nações que tiveram seus presidentes “afastados de forma questionável do cargo”.
No “Süddeutsche Zeitung”, a análise “Estes homens derrubaram a presidente” apresenta uma relação de todos os envolvidos no processo. “Na opinião de muitos juristas, as acusações são tênues, muitos chefes de Estado antes de Rousseff agiram de forma semelhante e não foram afastados do cargo. A queda de presidente é muito mais o resultado de intrigas políticas, costuradas pelos adversários de Rousseff”, avalia a publicação.
Da Redação da Agência PT de Notícias