Começa lobby para manter rico fora do imposto de renda; Gleisi reage

Artigo na Folha de S. Paulo defende privilégios para os mais endinheirados. Por que o pobre, trabalhador, tem de pagar imposto, e super-rico, não?, questiona a presidenta do PT

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A verdade é que, no Brasil, pobres pagam mais impostos que ricos

Como era de se esperar, a decisão do governo Lula de cobrar impostos dos super-ricos acionou a máquina do lobby e da desinformação que está sempre pronta para defender os interesses dos poderosos e impedir que o Brasil se torne um país mais justo. Exemplo é o artigo publicado no fim de semana, na Folha de S. Paulo, pelo dono do grupo Esfera Brasil e presidente do conselho da CNN Brasil, João Camargo. 

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Intitulado ‘Ser rico não é pecado’, o texto faz uma defesa do super-rico brasileiro, definido pelo autor como alguém que “deve ser admirado como o protagonista de uma jornada de sucesso” e “um exemplo de realização”. Em contrapartida, o governo Lula, na visão de Camargo, é composto por gente desinformada sobre as experiências de outros países e com tendência a “rasgos de tirania”.

Camargo cita dois dados para dar força ao seu argumento de que cobrar impostos dos mais ricos é uma medida ineficiente. O primeiro é o de que vários países na Europa fizeram movimento nesse sentido e voltaram atrás nos últimos anos. O outro é de que a taxação faz os ricos fugirem para outros países com seu dinheiro — e aí ele lembra o caso do ator francês Gerard Depardieu, que se mudou para a Bélgica quando a França resolveu endurecer a legislação fiscal.

E aí, espertamente, João Camargo confunde as coisas. O que o governo Lula está propondo não é o mesmo que foi feito na Europa e levou Gerard Depardieu a se mudar da França. Lá, o que se fez foi taxar grandes fortunas, cobrando-se impostos que chegavam a 75% se a pessoa ganhasse mais que US$ 1,3 milhão por ano.

A proposta enviada pelo presidente ao Congresso é bem diferente. O que se quer é apenas taxar o rendimento que pessoas muito ricas ganham com empresas abertas no exterior (offshores) e nos fundos exclusivos (que exigem investimentos acima de R$ 10 milhões). E o argumento é simples: por que esses investimentos não pagam imposto sobre o rendimento todos os anos, como acontece com os demais tipos? Só por que é algo que apenas os muito ricos têm? Ora, se a classe média, quando aplica seu dinheiro num fundo comum, paga imposto, nada mais justo que os super-ricos também paguem.

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Elite insensível

Como muito bem observou a presidenta nacional do PT, Gleisi Hoffmann, nas redes sociais, em resposta ao artigo de Camargo, os privilégios dados aos ricos são a origem da nossa desigualdade. “Ser pobre também não é pecado nem tampouco sinônimo de insucesso, mas sim resultado de diferenças econômicas abissais em nossa sociedade, da falta de oportunidades, decorrente de um modelo concentrador de renda e da insensibilidade da elite rica e ensimesmada”, escreveu Gleisi. 

A também deputada federal continuou perguntado o óbvio: por que o pobre, trabalhador, tem de pagar imposto, e super-rico, não? “Além de pagar sobre consumo, o povo começa a pagar imposto sobre a renda a partir de R$ 2.640”, lembrou (leia aqui sobre a injusta cobrança de impostos no Brasil). 

E prosseguiu: “Qual é a contribuição para o Brasil dessa turma que tira dinheiro daqui pra colocar em paraísos fiscais? Investem no quê? Já não estão com o dinheiro no Brasil. E esses fundos exclusivos, de um só dono, que tem de ter no mínimo R$ 10 milhões, contribuem no que pra riqueza do país, a não ser do seu próprio dono. Que conversa desajeitada e absurda! Não venham falar do que aconteceu na França, falsificando a história. O debate tem de ser sobre o que acontece no Brasil real, a indecente desigualdade que existe aqui mesmo, debaixo do nariz de nossas elites econômicas, que ainda pensam como se o Brasil fosse uma colônia escravagista”. 

Por fim, a presidenta do PT lembrou que outras medidas ainda serão necessárias. “Para promover a agenda civilizatória no Brasil de hoje, tem de incluir a taxação dos fundos exclusivos e offshores (medidas já anunciadas), o fim dessa excrescência dos Juros sobre Capital Próprio  e o fim da isenção dos dividendos”, defendeu.

Da Redação

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