Como criar uma rede de proteção contra a violência, em tempos de quarentena

7 em cada 10 feminicídios acontecem dentro de casa, segundo a ONU. Com o isolamento, os dados de violência doméstica só aumentam. 

Da Redação, Agência Todas

 

A orientação das autoridades sanitárias é ficar em casa, mas o que fazer quando o próprio lar não é um lugar seguro? Se por um lado protegidas do Coronavírus, a quarentena intensifica uma realidade perversa das mulheres: a violência doméstica. 

Diversos países como China, Argentina, EUA, Reino Unido, França, Austrália  já registraram aumento nos casos de violência contra a mulher, durante o período de isolamento. No Brasil, o cenário não é diferente. Curitiba, Rio de Janeiro, Itapetininga, Baixada Santista, São Paulo já verificaram uma tendência de aumento de denúncias e casos de violência contra a mulher. Segundo a Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos (ONDH), do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH), as ligações para canal de denúncia de violência doméstica subiram 8,5% na quarentena

O apelo mundial do secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, realizado ontem, evidencia que o cenário vem se intensificando no mundo todo. Ele fez um pedido público de paz nos lares e proteção às mulheres em suas próprias casas. 

Mesmo em períodos normais, estar dentro de casa nem sempre é sinônimo de segurança para as mulheres. Os dados revelam que, no Brasil, 42% dos casos de violência contra a mulher ocorreram em ambiente doméstico, entre 2018 e 2019, segundo a ONG Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Nesse período, 1,6 milhão de mulheres foram espancadas ou sofreram tentativa de estrangulamento. Após sofrer uma violência, mais da metade das mulheres (52%) não denunciou o agressor ou procurou ajuda.

“Estar em casa nem sempre significa estar segura. Com o cenário econômico que se agrava diante de um governo que não está preocupado com os trabalhadores e os mais pobres, a tendência é a violência aumentar mais ainda. Precisamos exigir políticas públicas de defesa da vida das mulheres e construir alternativas em redes de solidariedade”, afirma Anne Karolyne, secretária nacional de mulheres do PT. 

 

Para minimizar as consequências da quarentena na vida das mulheres, as parlamentares do PT estão engajadas na defesa da população mais vulnerável, de medidas de proteção para combater a violência doméstica e garantia de verbas para investir em políticas públicas para mulheres em todos os âmbitos — federal, estadual e municipal. 

E para orientar as mulheres a construir uma rede de solidariedade, o projeto Elas Por Elas preparou o Guia Vizinha, Te Escuto, com orientações básicas para criar uma rede de proteção em tempos de quarentena. 

1) Identifique os grupos coletivos da sua região (WhatsApp, páginas do facebook, etc): grupos do condomínio, do bairro, da segurança, do ônibus que costumava frequentar, da escola, das famílias de alunos, etc

 

2) Faça o mapeamento da mulheres que são suas vizinhas e/ou mais próximas a você (do seu condomínio, das ruas no seu entorno). Importante é que seja perto. 

 

3) No grupo geral, proponha abrir um grupo só para trocas de informações entre mulheres (uma saída é sugerir um grupo para trocar receitas, dicas de make, maternidade etc)

 

4) Busque informação e organize os canais de denúncia e segurança da sua cidade/região: 180 (disque-denúncia), 190 (polícia militar), telefone da delegacia mais próxima, conselheiros tutelares, plantão de judiciário, baixe os app’s, etc

 

5) Se for possível, identifique uma advogada entre as mulheres. Você pode buscar indicações de amigas de amigas ou procurar apoio na Rede Feminista de Juristas 

 

6) Com o grupo criado, compartilhe informações que são estratégicas para o combate à violência contra a mulher e coloque-se à disposição uma das outras. (pode sondar o perfil @mulherespt que tem bastante coisa)

 

7) Coloque-se à disposição para quem quiser te procurar individualmente também. Muitas mulheres podem não se sentir à vontade de falar em grupo.

 

8) Importante: troquem informações sobre onde moram (qual torre/apto; qual rua, número da casa, como é o acesso se for casa de fundos, por exemplo; etc)

 

9) Cada região possui uma realidade. Cada família uma dificuldade. Crie códigos de comunicação entre vocês — tanto por telefone quanto fisicamente — palavras, batidas na parede, etc de modo que o agressor não perceba que a vítima está informando outras pessoas

 

10) Mantenha contato diariamente com a vítima. Converse com ela sem julgamentos. Pergunte o que pode fazer para ajudar. 

 

11) Não ajam sozinhas. Em caso de violência, avisem as autoridades e umas às outras. Mantenham a distância física uma da outra, caso avaliem uma visita ao local — acompanhada por alguém do condomínio.

 

O guia é uma proposta de sistematização, mas o mais importante é ter em mente:

caso você escute ou veja alguma mulher sofrendo qualquer tipo de violência, não se cale. Denuncie.

 

Canais: 180 Disque denúncia. 190 Polícia Militar. 

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