Conta de luz será 20% mais cara após privatização, estimam técnicos
Programa Brasil de Fato RJ entrevistou Emanuel Mendes, diretor do Sindicato dos Eletricitários do Estado do Rio de Janeiro (Sintergia-RJ) para falar sobre o tema
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Entidades de representação dos trabalhadores do sistema Eletrobras realizaram nesta sexta-feira (13) audiência pública na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) para debater os riscos para a população brasileira da tentativa de privatização da estatal.
A venda da companhia, parte do programa entreguista de Bolsonaro (PSL), está atrasada. O Planalto chegou anunciar que divulgaria o plano para a privatização antes de agosto. Parlamentares e sindicalistas que acompanham o tema, entretanto, afirmam que a questão em torno da tentativa de venda por parte do governo nunca foi “se”, mas sim “quando e como”.
Para saber mais sobre o assunto, o programa Brasil de Fato RJ entrevistou Emanuel Mendes, diretor do Sindicato dos Eletricitários do Estado do Rio de Janeiro (Sintergia-RJ).
Confira os melhores momentos da conversa:
Brasil de Fato: Qual o tamanho da Eletrobras? O que a empresa representa em termos econômicos para o país?
Emanuel Mendes: A Eletrobrás é uma empresa de geração de transmissão e até o ano passado tinha também uma parte da distribuição de energia. Representa 31% da geração de energia do país, temos quase 70 mil quilômetros das linhas de transmissão, ou seja, 64% do total. O sistema Eletrobras é responsável hoje por fornecer uma energia barata para a população brasileira porque vende metade da sua energia, que chamamos de energia cotizada, a um público alvo residencial e industrial. Essa energia é vendida hoje a R$ 60 megawatts/hora. A energia do setor privado é vendida no mercado livre a R$ 200 ou R$ 300 o megawatt/hora. A diferença é muito grande. A Eletrobras deu R$ 13 bilhões de lucro, só em caixa ficou com R$ 3 bilhões para fazer os investimentos necessários. Este é o panorama para as pessoas saberem um pouco do que é a Eletrobras.
O ministro de Minas e Energia Bento Albuquerque disse à Folha de S. Paulo que a privatização da estatal será boa para a população. Como essa privatização afeta o consumidor? A quem interessa?
A privatização só interessa aos grupos privados estrangeiros. Para você ter uma ideia hoje o Conselho de Administração da Eletrobras é composto por pessoas que foram indicadas por quem têm interesse em comprar a estatal. A raposa cuidando do galinheiro. Só um exemplo: Jorge Lemann, dono da Ambev, uma das pessoas que tem mais ações da Eletrobras, indicou um dos conselheiros. E ele é um dos supostos compradores. A coisa não é clara. Quem vai perder é a sociedade brasileira que vai pagar uma conta de energia muito mais cara.
Fazendo um paralelo, nenhuma privatização até agora foi boa para o povo brasileiro. Haja vista as passagens de avião, que disseram que com as privatizações dos aeroportos iam diminuir os preços. O que a gente vê? Triplicou o preço das passagens e piorou, agora a gente paga pela mala. Para privatizar a Eletrobras eles querem eliminar as cotas para atrair o investidor. Não é possível que hoje a gente pague R$ 60 o megawatt/hora e depois pague R$ 300. Quem vai pagar essa diferença? O empresário privado? Ele só quer saber de lucro.
Agora tem se falado em modelo de capitalização ao invés de privatização. É a mesma coisa?
É para dourar a pílula. No momento que você deixa de ser maioria nas ações, passa a ter 35%, 40%, já é privatização. Querem dourar a pílula porque sabem que grande parte da sociedade não concorda com a privatização e isso saiu em recente pesquisa. Capitalização é um nome mais bonito, mas não passa de uma privatização enrustida. Nós, os trabalhadores do setor elétrico, temos denunciado constantemente em diligências no Congresso Nacional para tentar conscientizar os parlamentares com dados técnicos e com informações transparentes. O ministro de Minas e Energia só mostra o lado deles para o deputado Rodrigo Maia, não mostra o lado dos técnicos. A privatização vai trazer reajuste de aproximadamente 20% na conta de luz da sociedade.
Vai ter impacto no fornecimento? Aqui no estado do Rio de Janeiro como vai afetar a população fluminense?
Quem leva a energia para o povo mais carente, nos lugares mais distantes, é a Eletrobras, através do Programa Luz para Todos, porque o setor privado não quis fazer isso. Inclusive no interior do Rio de Janeiro. A Light e a Aneel não quiseram fazer esse investimento. A Eletrobras colocou recurso para que pudesse chegar energia a essas pessoas.
A população carioca vai sentir de duas formas. Primeiro: privatização significa desemprego e terceirização. No Rio, temos 6 mil trabalhadores efetivos em quatro empresas Holding, Furnas, Eletronuclear e Centro de Pesquisas de Energia Elétrica (Cepel) e aproximadamente 3 mil indiretos. Quando falam privatização querem reduzir a folha, reduzir as pessoas e já estão começando a fazer isso. Furnas alugou um novo prédio no Centro da cidade, vai tirar os trabalhadores de Botafogo, para um prédio menor. O que vai acontecer? Demissões de trabalhadores.
Segundo: quando você fala em privatização, você fala em precarização e terceirização. Terceirizando tem uma qualidade de serviço muito pior, vai trocar um trabalhador que ganha R$ 2 mil provavelmente por um que ganha R$ 1 mil. Essas empresas saem contratando qualquer pessoa para mexer no sistema. O sistema Eletrobras, com sua dimensão, não pode ter um trabalhador atuando sem experiência. Não se constrói um trabalhador para linha de transmissão da noite para o dia. A população vai sentir a precariedade do serviço, isso não tem jeito.
Qual a proposta da realização de audiências públicas sobre a Eletrobras?
Faz parte de uma estratégia de luta que a gente vem travando desde o ano passado no Congresso Nacional. Faremos audiências públicas em alguns estados: no Rio de Janeiro, em Minas Gerais e em estados no Nordeste. As entidades que chamam essa audiência pública são sindicatos que representam osa trabalhadores e as associações dos empregados. Conseguimos mobilizar um grande número de deputados estaduais, personalidades, movimentos sociais e os trabalhadores. Trazer o debate para dentro da Assembleia Legislativa provoca o deputado a levar para suas bases o que esta acontecendo com o sistema Eletrobras. Essa é a nossa expectativa.