CPI da Covid transforma Pazuello e Queiroga em investigados
14 pessoas ligadas a Bolsonaro passam à condição de investigadas. Colegiado pretende convocar representantes de plataformas após presidente voltar a disseminar informações falsas sobre vacinas
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Dentre os 14 anunciados estão diversos nomes próximos ao presidente Jair Bolsonaro. O atual ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, os ex-ministros Eduardo Pazuello (Saúde) e Ernesto Araújo (Relações Exteriores) e o ex-secretário especial de Comunicação Social da Presidência da República Fabio Wajngarten.
“Estamos vivendo um momento crucial da investigação. A CPI tem feito sua parte e dado passos significativos no sentido da apuração e consequente responsabilização dos fatos. Nós chegaremos neste final de semana a mais de meio milhão de mortes no Brasil pela Covid-19 diante da mais absoluta irresponsabilidade do chefe de governo”, disse Renan Calheiros, relator da CPI.
O atual ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, foi o único que, até o momento, prestou dois depoimentos à CPI. E os senadores justificaram sua presença na lista pelas contradições detectadas entre o que foi dito e o que foi mostrado pela sua gestão.
“Colocamos o ministro [Marcelo] Queiroga, que teve uma participação pífia, ridícula, aqui na comissão no seu primeiro depoimento quando tentou dizer que teria autonomia que faltou a [Nelson] Teich e faltou a [Luiz Henrique] Mandetta e os fatos logo demonstraram o contrário”, disse Renan. “Ele defendeu vacinação, o presidente [Bolsonaro] no dia seguinte disse que iria encomendar dele um decreto e ele teria que fazer um decreto, para minimização da utilização das máscaras. Mais do que isso, o lote de vacina cuja negociação foi comandada por ele é 20% mais caro do que o contrato anterior”, emendou.
Confira a lista completa de investigados:
– Marcelo Queiroga, atual ministro da Saúde
– Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde
– Ernesto Araújo, ex-ministro das Relações Exteriores
– Fabio Wajngarten, ex-secretário especial de Comunicação da Presidência
– Mayra Pinheiro, secretária de Gestão do Trabalho do Ministério da Saúde
– Nise Yamaguchi, médica negacionista
– Paolo Zanotto, virologista integrante do gabinete paralelo
– Carlos Wizard, empresário bolsonarista
– Arthur Weintraub, ex-assessor da Presidência da República
– Francieli Fantinato, coordenadora do Programa Nacional de Imunização
– Marcellus Campêlo, ex-secretário de Saúde do Amazonas
– Élcio Franco, ex-secretário-executivo do Ministério da Saúde
– Hélio Angotti Neto, secretário de Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde
– Luciano Dias Azevedo, anestesista da Marinha apontado como autor de proposta para alterar a bula da cloroquina
Combate à propagação de notícias falsas
O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), vice-presidente da CPI, anunciou que pretende ouvir no colegiado os representantes do Youtube e do Facebook, depois de Bolsonaro ter afirmado, na noite desta quinta (17), que a contaminação natural é mais eficaz que a vacina contra a Covid-19.
A ideia é compreender quais são normas e diretrizes levadas em consideração pelas plataformas para manter, ou não, conteúdos com esse nível de desinformação no ar. Randolfe lembra que, nos Estados Unidos, o ex-presidente Donald Trump chegou a ter seu perfil tirado do ar por disseminar informações falsas.
Já o senador Humberto Costa (PT-PE) destacou o fato de Bolsonaro ter confessado o crime na transmissão da noite de ontem ao, mais uma vez, atacar as vacinas e mostrar a preferência do governo pela tese criminosa da imunidade de rebanho por contágio que levou o Brasil a quase 500 mil mortes em pouco mais de um ano de pandemia.
“Ontem Bolsonaro fez uma declaração formal de culpa. A hipótese que a CPI tem trabalhado desde o início é a de que o governo, deliberadamente, adotou a estratégia de permitir a transmissão massiva do vírus e a contração dessa doença pela maior parte possível de pessoas com o objetivo de gerar a chamada imunidade coletiva por transmissão. Ele já tinha dito isso de várias formas, de maneira velada. Mas, ontem, ele disse que a imunidade concedida pela doença é melhor do que a imunidade concedida pela vacina. Mais uma vez ele procurou retirar a credibilidade das vacinas e defendeu uma ideia falsa”, disse o senador.
Para Humberto, a recomendação de Bolsonaro leva as pessoas a um comportamento de risco e sabota o combate à pandemia. Assim, as plataformas responsáveis pelas redes sociais deveriam, na sua avaliação, retirar do ar conteúdos que induzem a população ao erro.
“A recomendação que ele deu ontem faz com que as pessoas sigam um caminho perigoso e equivocado. E essas plataformas têm a obrigação de, em situações como essa, fazer a retirada desse conteúdo falso e que induz as pessoas a um comportamento inadequado. Essa confissão de culpa é muito forte. Por si só, ela incriminaria o presidente em tese sanitária. É um crime de dolo eventual. Ele sabe os riscos de adotar uma estratégia como essa e os danos que isso pode gerar”, enfatizou Humberto.
Do PT no Senado