CPMI enterra tentativa bolsonarista de culpar governo Lula pelo 8 de Janeiro

Ex-ministro de Bolsonaro, Anderson Torres admite que responsabilidade de impedir ataque aos Três Poderes era do governo do DF, conforme definido em protocolo assinado por ele mesmo

Geraldo Magela/Agência Senado

Deputado Rubens Pereira Júnior: “A tese da omissão (por parte do atual governo federal) vai por água abaixo. E quem a enterra é o senhor Anderson Torres”

O depoimento do ex-ministro da Justiça de Jair Bolsonaro e ex-secretário de Segurança do DF, Anderson Torres, nesta terça-feira (8), na CPMI do Golpe, demoliu a tese da extrema direita de que o governo Lula poderia ser responsabilizado pelos atentados de 8 de janeiro.

Aos deputados e senadores da comissão parlamentar mista de inquérito, Torres admitiu que a segurança da Esplanada dos Ministérios é responsabilidade do governo do Distrito Federal, por meio da Polícia Militar local. E mais: que essa responsabilidade estava detalhada em um protocolo de ações integradas (PAI), assinado pelo próprio Torres em 6 de janeiro e informado aos órgãos federais.

Por fim, o ex-ministro bolsonarista, que assumiu o comando da Segurança do DF em 2 de janeiro, reconheceu ainda que a PM do DF simplesmente não cumpriu o que estava definido no PAI. 

Diante dessa admissão clara, o deputado Rubens Pereira Júnior (PT-MA) sentenciou: “A tese da omissão (por parte do atual governo federal) vai por água abaixo. E quem a enterra é o senhor Anderson Torres”.

Rubens Júnior confirmou com Torres que, até um dia antes dos ataques, a informação enviada pelo governo do DF a todos os órgãos federais era a de que a PM não deixaria manifestantes entrarem na Praça dos Três Poderes.

“O senhor Anderson Torres, que era secretário de Segurança e foi ministro de Bolsonaro, diz que até o dia 7 o protocolo estava válido. No dia 8, ele deixa de funcionar. A minha dúvida é se foi uma falha ou se foi um boicote”, disse o deputado.

E completou: “Seu depoimento confirmou que 1: era a Segurança do DF que tinha atribuição exclusiva para garantir a segurança na Esplanada; 2: o PAI era suficiente para evitar (o atentado); 3: um PAI nunca havia sido desrespeitado antes; 4: até o sábado (7 de janeiro), estava mantido. Eu estou absolutamente satisfeito com o depoimento que o senhor trouxe hoje a esta comissão”.

O líder do PT no Senado, Fabiano Contarato (ES), reforçou a conclusão de Rubens Júnior. “O senhor disse aqui hoje que, no dia 6, não havia risco se tivesse sido cumprido o protocolo. Então, como atribuir responsabilidade ao governo atual por uma eventual omissão se no dia 6 o senhor sai de férias e está tudo sob controle?”, indagou o senador.

Torres tentou fugir da culpa

Torres, porém, mais de uma vez se recusou a apontar de quem partiu a decisão de não cumprir o que estava estabelecido no PAI. Para o senador Rogério Carvalho (PT-SE), o ex-ministro bolsonarista tentou assim jogar a responsabilidade para a PM do DF e se livrar da culpa.

“Ele tenta responsabilizar aquilo que está sob seu comando, (tenta responsabilizar) como a grande negligente pelos atos que aconteceram no dia 8 de janeiro a Polícia Militar. A PM virou o saco de pancada e o objeto de defesa do inquirido. Quando, na prática, ele era o dirigente maior dessas forças, porque era ele quem indicava quem vai ser o chefe da Polícia Civil, o chefe da Polícia Militar”, lembrou Carvalho.

Tanto o senador quanto o deputado Rogério Correia (PT-MG) lembraram que, ao fazer parte do governo Bolsonaro, Anderson Torres se aliou ao golpismo que marcou os quatro anos de governo do ex-capitão, hoje inelegível.

Torres, lembraram os dois parlamentares, participou de lives ao lado de Bolsonaro para colocar em dúvida as urnas eletrônicas, viajou à Bahia no segundo turno para orquestrar a obstrução do transporte de eleitores de Lula e, ainda por cima, tinha uma minuta golpista guardada dentro de casa (assista aqui a vídeo que relembra a trajetória golpista de Anderson Torres). A sabotagem na segurança do DF foi apenas mais um serviço prestado à turba que tentou atacar a democracia brasileira.

“O senhor quer que eu acredite que isso não era planejado, que essas pessoas vieram aqui rezar com Bíblia, enroladas em bandeira verde e amarela? O senhor quer que a gente acredite numa mentira dessa? A verdade é que o senhor foi ministro e secretário de Segurança (…) para consolidar o golpe”, acusou Correia.

Documentos ignorados para tirar férias

Para piorar ainda mais a situação de Torres e dos bolsonaristas que tentam culpar o governo Lula, os membros da CPMI leram o conteúdo de dois documentos que foram simplesmente ignorados pelo ex-secretário porque este decidiu viajar de férias na noite de 6 de janeiro, embora seu período de descanso só começasse em 9 de janeiro.

Um dos documentos, lido por Rogério Correia, foi elaborado pela Subsecretaria de Inteligência do DF e entregue em 6 de janeiro. A peça alertava que circulavam nas redes sociais planos de “invasão de órgãos públicos e bloqueio em refinarias ou distribuidoras de combustível”, além de convocações “alarmantes” para a “tomada de poder” por meio da “invasão do Congresso Nacional”.

O outro foi revelado pelo deputado Duarte Jr. (PSB-MA). Trata-se de um ofício protocolado pelo ministro da Justiça, Flávio Dino, solicitando, na noite de 7 de janeiro, à Secretaria de Segurança do DF, o uso da Força Nacional para a proteção da Esplanada dos Ministérios até o dia 9.

“O senhor não teve acesso a esse documento porque o senhor saiu mais cedo para ir de férias à Disney. Deixou um vácuo, um espaço descoberto (na segurança do DF). O senhor antecipa suas férias, vai para a Disney trocar ideias com o Mickey, com a Minnie, com o Pato Donald, e deve estar achando que aqui nessa CPMI tem algum pateta”, apontou Duarte Jr.

Da Redação

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