Cruz Vermelha alerta: monopólio de vacinas terá efeito “devastador e fatal”
“A distribuição equitativa das vacinas COVID-19 pelos países é mais do que um imperativo moral: é a única maneira de resolver a emergência de saúde pública mais urgente de nosso tempo”, afirma secretário-geral Jagan Chapagain. Relatório da organização revela que, desde o início das imunizações, quase 70% das doses foram aplicadas nos 50 países mais ricos do mundo. No fim da fila, Brasil corre risco de ficar sem cobertura vacinal. Pazuello terá de explicar no Senado péssima atuação do governo, que até agora só imunizou 1,44% da população
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Desde que o mundo deu início ao processo de vacinação contra a Covid-19, em dezembro, colocando como prioridade profissionais de saúde e pessoas de grupos de risco, o Brasil imunizou pouco mais de 3 milhões de pessoas. O número é baixo e corresponde a apenas 1,44% da população brasileira. Diante do negacionismo do governo Bolsonaro, que resultou em atraso na aquisição de doses e insumos para a fabricação de vacinas , o país corre o risco de não ter acesso a um número suficiente para uma cobertura vacinal segura e eficiente. Além disso, na desigual corrida pelas vacinas, países ricos estão em clara vantagem.
Nesta quinta-feira (4), a Cruz Vermelha emitiu um alerta preocupante: até agora, quase 70% das doses foram aplicadas nos 50 países mais ricos do mundo. A agência alerta que a desigualdade da distribuição pode ter um efeito “devastador e fatal”. Segundo o relatório da Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho (IFRC), apenas 0,1% das doses da vacina foram aplicadas nos 50 países mais pobres.
“A distribuição equitativa das vacinas COVID-19 pelos países é mais do que um imperativo moral: é a única maneira de resolver a emergência de saúde pública mais urgente de nosso tempo”, afirmou o secretário-geral da agência, Jagan Chapagain. “Sem distribuição igualitária, mesmo aqueles que são vacinados não estarão seguros”, advertiu.
Para Chapagain, as consequências diretas serão um prolongamento do surto, além de mais mortes. “Serei claro: na corrida para acabar com a pandemia, estamos todos remando no mesmo barco. Não podemos sacrificar os que correm maior risco em alguns países para que os que correm menor risco possam ser vacinados em outros”.
Outro risco da demora para que as vacinas cheguem aos países mais pobres é de que o vírus continue sofrendo novas mutações, levando ao surgimento de variantes que não respondem às vacinas. O resultado levaria ao caos sanitário, uma vez que o vírus infectaria pessoas já vacinadas.
A Cruz Vermelha anunciou um pacote de U$ 110 milhões para ajudar na distribuição das vacinas. “Não se fazer política e não deve haver ganância em torno da vacina, trata-se de salvar vidas”, disse Chapagain. “Não vamos fazer política”, pediu.
Pazuello terá de se explicar no Senado
Na próxima semana, o ministro da Saúde Eduardo Pazuello terá de explicar no Senado a péssima resposta do governo na apresentação e execução de um plano de vacinação. “A pandemia de Covid-19 vitimou mais de 220 mil brasileiros e ainda não sabemos, com clareza, quais os planos do governo para socorrer os brasileiros e imunizar rapidamente nossa população. Precisamos de respostas”, cobrou o senador Paulo Rocha, líder do PT.
A Procuradoria-Geral da República (PGR) também abriu investigação preliminar para analisar a conduta do governo diante do caos sanitário no Amazonas e no Pará. A Saúde fora alertada sobre o risco de colapso ainda em dezembro. Na quinta, Pazuello prestou depoimento à Polícia Federal, em Brasília.
“Esse governo irresponsável e omisso precisa ser responsabilizado com urgência”, afirmou o senador Humberto Costa (PT-PE).
Da Redação, com informações de ‘Cruz Vermelha’, ‘NY Times’ e ‘PT no Senado’