Deputada estadual Ana Júlia (PT-PR) é vítima de violência política de gênero
História não nega: parlamentares da extrema direita têm como alvo para perseguições e ameaças mulheres do PT
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Nesta semana, a deputada estadual Ana Júlia (PT-PR) foi vítima de violência política de gênero (VPG). Durante sessão na Assembleia Legislativa do Paraná (Alep), o parlamentar bolsonarista Ricardo Arruda (PL-PR) lançou ofensas pessoais e misóginas aos colegas, questionando a inteligência, a sanidade mental e que a deputada só apresenta “projetos inúteis”.
De acordo com o portal Brasil de Fato , “o estopim do conflito foi uma representação apresentada por Ana Júlia que cobra o afastamento de Arruda da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), sob a justificativa de faltas e descumprimento do regimento interno da Casa.
A violência política de gênero refere-se a ações que visam intimidar, desacreditar, silenciar, criar obstáculos ou desencorajar mulheres envolvidas na esfera pública e/ou política. Essa violência pode ser física, verbal, psicológica ou sexual e busca perpetuar estereótipos de gênero, prejudicando a participação das mulheres públicas em suas esferas de atuação. Essa forma de violência prejudica a participação igualitária entre mulheres e homens na política, comprometendo a democracia.
A prática é crime , conforme prevê a lei 14.192/2021 que “estabelece medidas para prevenir, reprimir e combater a violência política contra a mulher”, que criminaliza a violência política de gênero. Além de ser uma violação aos Direitos Humanos, a VPG representa uma grave tentativa de silenciamento das vozes femininas na política.
Vale destacar que esta não é a primeira vez que Arruda ofende uma mulher do PT. Em março, ele foi condenado a pagar R$ 7 mil de indenização por danos morais à ministro da Secretaria de Relações Institucionais do governo, Gleisi Hoffmann, e ao PT, além de se retratar publicamente por ter se referido a ela como “a tal da amante”. Como a decisão foi tomada na primeira instância, ele pode recorrer.
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Em relação aos ataques recentes do deputado Ricardo Arruda, foi protocolada pela oposição uma representação no Conselho de Ética da Assembleia Legislativa do Paraná. “Esses episódios demonstram um padrão de comportamento ofensivo e desrespeitoso por parte do parlamentar. Ontem (13), o presidente da Assembleia destacou que será mais especificamente com relação a casos de ofensas e violência política de gênero. O regimento do Conselho de Ética também deve passar por mudanças, para facilitar a aplicação de sanções aos deputados que quebram o decoro”, informou Ana Júlia.
A deputada paranaense afirma que ser uma mulher jovem e de esquerda em uma casa legislativa é um grande desafio, não apenas pelas disputas ideológicas, mas por um sistema político ainda muito marcado pelo machismo estrutural. A violência política de gênero é uma preocupação que afeta mulheres em posições políticas ou engajadas em atividades políticas.
O ambiente parlamentar, historicamente ocupado por homens, diz a deputada, tende a ser pouco receptivo à presença feminina, especialmente de mulheres que vêm de movimentos sociais, da juventude e da esquerda: “Muitas vezes, enfrentamos a tentativa de deslegitimar nossas opiniões ou de reduzir nossa atuação a estereótipos. Há barreiras simbólicas e institucionais que tornam a atuação mais difícil, e isso se intensifica quando defendemos pautas progressistas. Não se trata apenas de divergência política, mas de uma cultura que ainda resiste à diversidade de vozes nos espaços de poder.”
Questionada sobre por que as mulheres do PT têm sido vítimas recorrentes de casos de violência política de gênero, a parlamentar aponta o machismo estrutural na política brasileira e à crescente polarização ideológica: “O PT, por sua história e posicionamento, é constantemente atacado por setores conservadores. Quando as mulheres representam o partido, esses ataques se tornam ainda mais intensos, pois desafiam duplamente o status quo: por serem mulheres e por serem de esquerda. difamação.”
Vereadora do RN é retaliada em sessão
Também nesta semana, a vereadora Samanda Alves (PT-RN) foi alvo de retaliação durante sessão da Câmara Municipal de Natal. De acordo com a assessoria da companheira, o vereador Léo Souza (Republicanos-RN), que pediu destaque apenas para as matérias do mandato da parlamentar, resultando em 8 votos contrários. O vereador Irapoã Nóbrega (Republicanos-RN) também votou contra os requisitos e minimizou a situação, referindo-se ao episódio como um “puxão de orelha” na vereadora. “Isso é como se fosse um puxão de orelha. Fica no cantinho da parede do castigo”, declarou.
“Isso aqui é uma retaliação. Eu fiz um vídeo explicando que o problema era técnico, mas as pessoas já estavam na Câmara. Dialogamos com a Comissão de Direitos Humanos e foi acordado dar espaço para as falas. Não desrespeitei rito nenhum. Lamento estar sofrendo uma retaliação por defender a educação pública de qualidade em Natal”, afirmou Samanda durante a sessão.
Eleitas do PT são as principais vítimas de VPG
Em 2014, desde que o inelegível ameaçou a deputada federal Maria do Rosário (PT-SC) de estupro no plenário na Câmara dos Deputados, as mulheres do PT foram alvo de atrocidades cometidas por homens de extrema direita. Não se pode esquecer a enorme campanha misógina midiática que antecedeu o golpe contra a presidente Dilma Rousseff; ali, a violência política de gênero ganha ares institucionais.
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É importante ressaltar que a violência política de gênero tem um impacto negativo significativo na participação política das mulheres. Ela pode desencorajá-las de se envolverem na política, limitando suas oportunidades de liderança, minar sua confiança e bem-estar emocional, além de perpetuar a desigualdade de gênero na tomada de decisões políticas.
Com o avanço da extrema direita, cada vez mais casos surgem. E as mulheres do PT estão sempre sendo atacadas. Basta olhar a memória para relembrar alguns casos.
2023
No mês de abril, a jovem vereadora Bia Caminha (PT-PA) recebeu ameaça de morte no Pará. No mês seguinte, as deputadas federais Érika Kokay, Juliana Cardoso e outras 4 parlamentares foram vítimas de violência política de gênero.
Em outubro do mesmo ano, a Secretaria Nacional de Mulheres do PT e a Secretaria Estadual de Mulheres de Minas Gerais emitiram nota de apoio à deputada estadual Beatriz Cerqueira (PT-MG), que recebeu constantes ataques e provocações no exercício de seu mandato na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).
Devido às constantes ameaças de morte, três dos sete parlamentares que integram o bloco Democracia e Luta da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, de oposição ao governo estadual, são obrigados a andar com escolta policial. São elas: Andréa de Jesus (PT), Beatriz Cerqueira (PT), Lohanna (PV) e Bella Gonçalves (Psol).
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Após ter feito o mandato cassado em outubro, no mês seguinte a vereadora Edna Sampaio (PT-MT) recebeu o mandato restabelecido pela justiça . Sampaio é mais uma parlamentar progressista que enfrenta o lawfare de gênero , prática que consiste na perseguição por vias jurídicas que, a priori, são legais, mas que busca deslegitimar as mulheres em seus espaços de poder conquistados democraticamente.
Em dezembro, a vereadora Stefany Carli (PT-MG) da Câmara Municipal de Cataguases apresentou uma ação pública infundada com pedido de cassação de seu mandato. Também no mesmo mês, outra nota denunciando o caso de VPG desta vez crime contra a vereadora de Bauru Estela Almagro (PT-SP),
2024
No ano seguinte, a então senadora Janaína Farias (PT-CE) foi vítima de comentários machistas e misóginos proferidos pelo ex-governador do Ceará e ex-candidato à Presidência, o obtuso Ciro Gomes, amante de Paris e misógino, que há décadas destila ódio e grosserias às mulheres. A deputada federal Carol Dartora (PT-PR) foi vítima de ameaças recorrentes de morte.
2025
Neste ano, a vereadora Vanessa da Rosa (PT-SC) foi vítima de violência política de gênero. Ela denunciou parlamentar do PL no Conselho de Ética da Câmara de Vereadores de Joinville por quebra de decoro parlamentar e conduta machista.
Em março, que marca o mês das mulheres, a ministra do SRI, Gleisi Hoffmann, rechaçou os ataques misóginos de Gustavo Gayer (PL-GO) feitos contra ela e o presidente Lula nas redes.
Também em março, a deputada estadual Larissa Gaspar (PT-CE) destacou a primeira reportagem de violência política de gênero proferida pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
O que fazer para reverter esse cenário?
A prática da violência tem sido cada vez mais sistêmica e recorrente no universo da política. Não importa se é em municípios pequenos ou na Câmara dos Deputados. Se há mulheres ocupando espaços de poder, certamente haverá um homem inconformado com sua presença.
“É fundamental implementar políticas que promovam a equidade de gênero na política e mecanismos de proteção contra a violência política de gênero. Além disso, é necessário fortalecer a educação política e a conscientização sobre o papel das mulheres na política, combatendo estereótipos e preconceitos.
Ela ainda faz um alerta: “É essencial que a sociedade atente e denuncie casos de violência política de gênero. A presença de mulheres na política não é apenas uma questão de representatividade, mas de justiça e democracia. Precisamos construir um ambiente político onde todas as vozes sejam ouvidas e respeitadas, independentemente de gênero, idade ou ideologia. Continuaremos lutando por esse ideal e encorajando outras mulheres a ocuparem seus espaços na política.”
Da Redação do Elas por Elas, com informações do Brasil de Fato e Uol