Desastre de Guedes e Bolsonaro condena Brasil à estagnação econômica
Indicadores setoriais do IBGE revelam perda de fôlego, e economistas projetam recessão no fim do ano. “Única ação de Bolsonaro é entregar o que o dinheiro estrangeiro quer comprar”, critica Dieese
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Enquanto o ministro-banqueiro Paulo Guedes, totalmente descolado da realidade, volta a dizer que o Brasil está decolando “de novo”, a estagnação econômica assume ares crônicos no país. O marasmo atinge serviços, comércio e produção industrial, como uma metástase que destrói emprego, renda e impõe o regime da fome sobre os lares.
Indicadores divulgados recentemente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam a desaceleração ocorrida no segundo trimestre deste ano. Nesta terça-feira (14), o desempenho medíocre do setor de serviços em abril (0,2%) somou-se aos da indústria (0,1%) e do comércio (0,9%) no mês. A inflação de dois dígitos e os juros em patamar equivalente impedem a tal da “decolagem” de Guedes, o vendedor de ilusões.
“Em abril, o nível de atividade econômica do país pouco evoluiu. Foi restringido pela virtual estagnação da indústria e do setor de serviços. O comércio varejista até conseguiu se sair um pouco melhor do que os demais setores, mas ainda assim suas vendas não tiveram um resultado robusto”, avalia relatório do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).
“Passados os efeitos iniciais da retomada de atividades presenciais, pode ser que venham ganhando peso a redução do poder de compra da população e o desemprego ainda elevado”, finaliza o documento.
Alex Agostini, economista-chefe da agência de classificação de risco Austin Rating, segue a mesma linha. “Os indicadores setoriais, mesmo em alta, mostram perda de fôlego”, aponta na Folha de São Paulo.
“A economia entra no segundo trimestre com inflação mais alta com a Guerra da Ucrânia e aceleração dos juros. É uma situação mais difícil para consumo e investimentos”, complementa o economista-chefe da consultoria MB Associados, Sergio Vale. “Os indicadores estão em desaceleração e devem piorar ao longo do ano. Estamos caminhando para ter impactos maiores dos juros.”
Desde março de 2021, o Banco Central (BC) vem aumentando a taxa básica de juros (Selic) a cada reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). Nesta quarta-feira (15) não deve ser diferente. A previsão do mercado financeiro é de que a Selic sofra aumento de 0,5 ponto percentual e chegue a 13,25% – com viés de alta para as próximas reuniões.
O resultado, estimam os economistas, será mais recessão ao longo de 2022. “A perspectiva é de uma desaceleração do Produto Interno Bruto (PIB) daqui até o final do ano, com risco de termos algum trimestre de retração”, aponta Agostine. Vale projeta PIB de 0,4% no segundo trimestre, seguido por estagnação no terceiro (0%) e baixa de 0,5% no quarto. No acumulado do ano, a MB prevê alta de 1,1%.
À deriva, país está nas mãos do entreguismo
“O país está à deriva e a única ação executada pelo governo é entregar o que o dinheiro estrangeiro quer comprar: das riquezas minerais aos produtos agrícolas de exportação; de empresas de saneamento básico e distribuição de eletricidade a ações de empresas e títulos da dívida pública”, descrevem os técnicos do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) no Boletim de Conjuntura de junho.
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Para os pesquisadores do órgão de informações sindical, a estratégia neoliberal de desmonte do Estado, com o enfraquecimento e a eliminação de instrumentos de coordenação de políticas de desenvolvimento autônomas, conduz o Brasil ao abismo. A economia nacional está desorganizada e ultra-liberalizada, com forte desvalorização do real e enorme contingente de trabalhadores desocupados, subutilizados e precarizados.
“A desastrosa hegemonia neoliberal, acelerada com golpe e fúria após 2016, mostrou a rigorosa incompatibilidade entre gerir a economia pela lógica do arrocho fiscal, monetário e de salários e alcançar níveis de crescimento econômico que permitam reduzir o desemprego, a miséria e a exclusão”, apontam. “O cenário de destruição piorou com a persistente pandemia e o morticínio decorrente da atuação (ou falta) do governo federal, e com a escalada inflacionária, impulsionada pela guerra na Ucrânia.”
Ao mesmo tempo, argumentam os pesquisadores do Dieese, a taxa de juros se mostra ineficaz para controlar a inflação, mesmo no horizonte de até nove meses à frente. “Os efeitos imediatos da sequência de 10 elevações na taxa básica são sentidos pelas famílias endividadas (são 77% do total de famílias brasileiras, maior taxa dos últimos 12 anos) e estimulam a atração de capitais especulativos”, descreve o boletim.
Os pesquisadores afirmam ainda que o desgoverno Bolsonaro, “preocupado unicamente com o processo eleitoral e a busca da reeleição”, opera “gestão desastrosa da economia, que mantém o crescimento do país em patamares inferiores aos dos vizinhos da América do Sul”.
Nesta quarta, reportagem do jornal Valor Econômico revela que o Brasil perdeu duas posições no ranking global de competitividade publicado pelo International Institute for Management Development (IMD), feito em parceria com a Fundação Dom Cabral (FDC). O país agora ocupa a 59ª posição em um ranking de 63 países, na frente apenas da África do Sul, Mongólia, Argentina e Venezuela.
“A queda no ranking deve-se à avaliação negativa nos quesitos infraestrutura, mão de obra qualificada e segurança jurídica. Além disso, o Brasil ficou estagnado em quesitos como investimento em inovação e adoção de tecnologias nos setores público e privado, enquanto outros países avançaram nessas áreas”, explica a reportagem. Em estrutura social, o Brasil ficou em último lugar. O Brasil, aponta a pesquisa, é o segundo país mais desigual do ranking, atrás apenas da África do Sul.
“Nos governos do PT, o Brasil, como o grande produtor mundial de grãos, comportava-se como uma fazenda da esperança, a ofertar para todos os brasileiros o direito à alimentação e à segurança alimentar. Com Bolsonaro e o bolsonarismo, o Brasil tornou-se uma fazenda do desespero, indiferente ao sofrimento que atormenta a vida de 33 milhões de brasileiros”, lamenta o especialista em Democracia Participativa da UFMG, Alexandre Aragão de Albuquerque, em artigo no portal Outras Palavras.
Da Redação