Dilma: A luta pela democracia não tem data para terminar

Após seu discurso, a presidenta eleita saiu pela porta da frente do Palácio do Planalto e pediu à população que se mantenha nas ruas contra o golpe

Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

A presidenta eleita Dilma Rousseff deixou o Palácio do Planalto, no final da manhã desta quinta-feira (12), pela porta da frente e se encontrou com manifestantes contrários ao golpe.

Acompanhada do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do presidente nacional do PT, Rui Falcão, e de diversos parlamentares e ministros, Dilma pediu que o povo brasileiro mostre, nas ruas, um não ao golpe do tamanho do Brasil.

“Mantenham-se mobilizados, unidos e em paz. A luta pela democracia não tem data para terminar. A luta contra o golpe é longa, é uma luta que pode ser vencida e nós vamos vencer”, enfatizou.

A petista lembrou que foi a primeira mulher eleita presidenta da República, “depois do primeiro operário eleito presidente”. “Como primeira mulher, eu honrei as mulheres deste País, as mulheres que são determinadas, esforçadas, trabalhadoras, as mulheres mães, as mulheres que querem ter controle de si mesmas. Essas mulheres eu sei que honrei”, completou.

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Foto: Lula Marques/AgênciaPT

Dilma afirmou que vive um momento trágico, mas agradeceu o carinho, a alegria e a emoção transmitidas pelos manifestantes que se reuniram diante da sede do governo federal. “Hoje para mim é um dia muito triste, mas vocês conseguem fazer com que a tristeza diminua e que eu, com o calor, a energia e o carinho que vocês passam para mim, tenha aqui um momento de alegria”, declarou.

“A tristeza é porque nós hoje vivemos uma hora que eu vou chamar de uma hora trágica para o País. A jovem democracia brasileira está sendo objeto de um golpe”, disse.

Para a presidenta eleita pelo voto de 54 milhões de brasileiros, o momento é de dor, mas também de luta. “Eu já sofri a dor indizível da tortura e agora sofro a dor igualmente inominável da injustiça. Mas, não esmoreço, lutei a minha vida inteira pela democracia, aprendi a confiar na capacidade de luta de nosso povo. E tenho a honra de ter sido, no meu governo, fiadora da democracia”, afirmou.

 “Como qualquer pessoa humana, eu posso ter cometido erros, mas jamais cometi crimes”, reafirmou

“Agradeço a cada trabalhador, trabalhadora, aos artistas intelectuais, a todos aqueles que estiveram do lado certo da história, do lado da democracia. Juntos vamos nos manter unidos, mobilizados e em paz. Nós somos aqueles que sabem lutar a luta cotidiana e que não desistem nunca”, afirmou.

Também lembrou que o governo interino de Michel Temer (PMDB) vai revisar e “focar” as políticas sociais possibilitadas pelo PT. Segundo Dilma, essas palavras significam uma coisa: que o governo ilegítimo vai reduzir essas políticas até serem extintas.

Para Dilma, o que está em jogo não é somente a democracia e a Constituição, mas todas as conquistas possibilitadas nos últimos 13 anos, como as cotas nas Universidades, o Minha Casa, Minha Vida, entre muitas outras.

“Quem deu início a esse golpe o fez por vingança porque nós nos recusamos a dar a ele, ao senhor Eduardo Cunha, os votos para que ele fosse absolvido. A própria imprensa noticiou isso fartamente, disse que ele estava fazendo uma chantagem contra o governo. E eu não sou mulher para aceitar esse tipo de chantagem”, afirmou Dilma.

Dilma afirmou que seu governo zelou pelo Estado democrático de direito e que jamais reprimiu movimentos sociais. “O que faz um governo ilegítimo diante de protestos? A história demonstra: caem na tentação de reprimir os protestos, as concentrações, as reivindicações”, afirmou ela.

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Foto: Lula Marques/AgênciaPT

Após o discurso, Dilma, seguiu ao Palácio da Alvorada. Dilma, que continua tendo as prerrogativas da presidência, continuará na residência oficial. Também terá direito a transporte automotivo e aéreo, e a equipe pessoal.

Momento de luta e resistência
Entre as pessoas que se reuniram em frente ao Palácio do Planalto para demonstrar apoio à presidenta Dilma estava Francisco Pereira, 65 anos. Diretor do Sindicato dos Trabalhadores de Rádio e TV do Distrito Federal, Chico Pereira, como é conhecido, afirmou que tem muita energia e experiência de luta pela democracia.

“Eu estou em Brasília desde 1963. Nós enfrentamos a ditadura, então isso não vai nos intimidar. Eu que lutei como jovem em 1968 contra a ditadura, não é agora que eu vou me curvar. A posição daqui para frente é: baixar cabeça jamais. Nós, nesse momento, sofremos um acidente de percurso, mas continuaremos esse projeto da sociedade brasileira, que tem nome, é o Partido dos Trabalhadores e suas alianças com todos aqueles que estão na esquerda”, afirmou.

O mesmo ânimo estava estampado no rosto, na roupa e nos cartazes da artesã Amália Maria Queiroga. “É necessário que nós todos estejamos na luta, porque não vamos deixar que eles roubem o nosso sonho na mão grande. Nós vamos continuar na luta porque nós somos valentes, somos muitos corações valentes e da luta a gente não sai”, garantiu.

Vindo da Bahia para a 4ª Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres, a professora Margarida Alves, da rede estadual de educação da Bahia, enfatizou que a luta não acabou.

“Quando a gente ia para as ruas, a gente dizia que não ia ter golpe, que ia ter luta. Então já que o golpe aconteceu, a luta agora tem que ser redobrada, principalmente para a gente não legitimar esse governo que se impõem aqui hoje por um golpe que não nós representa. A luta agora é dobrada, ditadura nunca mais, queremos a democracia para um Brasil dos brasileiros”, disse a professora do município de Camaçari (BA), que também faz parte da UniNegro.

A juventude estava presente ao ato de apoio a Dilma. O estudante de Direito da Universidade de Brasília (UnB), Vitor Carvalho, 19 anos, mostrou que a presidenta eleita conta com a força da juventude na defesa da democracia.

“Nesse momento, a resistência dos estudantes, da juventude, tem que ser intensificada. O essencial é intensificar a luta, tomar as ruas e mostrar que estamos insatisfeitos com esse golpe, que o Temer não representa os anseios da juventude, que ele representa um projeto político de retirada de direitos. A juventude tem que se posicionar firmemente em defesa da democracia e não desistir. Mesmo com a situação em que nos encontramos, o momento é de estarmos lado a lado, ombro a ombro com os trabalhadores, demonstrando que nós não vamos dar um passo atrás”, declarou.

O presidente da Central Única dos Trabalhadores de Pernambuco (CUT-PE), Carlos Veras, afirmou que o governo golpista de Michel Temer não terá um dia de sossego.

“Nós precisamos continuar nas ruas, continuar intensificando nossas paralisações. Nós não vamos dar trégua nenhum minuto a um governo que tenta se iniciar através de um golpe, uma farsa, de uma trama. Golpistas não têm vez, o povo não reconhece e não admite traição. Não vamos reconhecer um governo traidor. Vai ter muita paralisação, vai ter muita mobilização e vamos organizar uma grande greve geral nesse País. Esses fascistas não terão um da sequer de sossego”, garantiu.

Da Redação da Agência PT de Notícias

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