Dilma lamenta falta de mulheres no governo golpista de Temer
Presidenta eleita garante que lutará para voltar e explicou que o golpe foi dado por quem não tinha condições de ganhar nas urnas
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A presidenta eleita Dilma Rousseff concedeu, nesta sexta (13), uma entrevista coletiva à imprensa internacional, em Brasília, ao lado do ex-ministro da Advocacia Geral da União, José Eduardo Cardozo. Ela lamentou, durante a conversa, a falta de mulheres no governo golpista de Michel Temer e garantiu que não deixará de lutar.
Perguntada por uma jornalista sobre a ausência de mulheres e negros no ministério criado pelo presidente golpista Michel Temer, Dilma afirmou lamentar a falta de representação.
“Temos um problema de representatividade. Além disso, as mulheres têm se mostrado competentes em todas as áreas. Não tem porque não estarem representadas. No Brasil, a desigualdade tem feições marcadas: é negra, é feminina e é infantil. A questão dos negros e das mulheres é algo fundamental se quer de fato construir um país inclusivo”, analisou.
De acordo com ela, a formação do ministério de Temer indica que será um governo liberal na economia e extremamente conservador nas áreas social e cultural.
Luta
A presidenta lembrou que, na verdade, o processo de impeachment acabou de começar. Dilma, também, deixou o recado claro: “Nós lutaremos para voltar”.
“Agora começa de fato o processo. Nós vamos nos defender juridicamente e vamos nos defender politicamente. Essa defesa política se fará para todo o povo brasileiro. Não há base jurídica e, portanto, esse processo de impeachment é um golpe”, afirmou Dilma para 22 órgãos de imprensa estrangeiros, entre os quais a BBC (Inglaterra), Al Jazeera (Catar), Clarín (Argentina), Reuters (Inglaterra), Wall Street Journal (Estados Unidos), Rádio Oriental (Uruguai) e Diário do Povo (China).
De acordo com ela, quem não foi eleito democraticamente por 54 milhões de votos tenta utilizar a prerrogativa do impeachment para executar um programa de governo desaprovado nas urnas. “O programa que eu defendi e dei suporte é o de continuidade das políticas sociais, da inclusão social, da retomada do crescimento econômico”.
A presidenta eleita também expôs que há 15 meses seu governo sofre sabotagem. “A primeira coisa que fizeram: questionaram se os votos tinham sido bem contados. Depois, verificaram se as urnas eletrônicas estavam adequadas. Em seguida, tentaram não me deixar tomar posse. A partir daí, houve um sistemático bloqueio”, afirmou.
Dilma explicou que houve uma estratégica de bloqueio de seu governo para criar um ambiente propício ao golpe. Todas as medidas propostas pela Presidência, segundo ela, ou foram invalidadas ou bloqueadas ou aceitas só parcialmente.
“O impeachment é um processo que, na verdade, encobre uma tentativa de chegar indiretamente ao governo da República, porque eles não teriam condições de chegar à Presidência da República pelovoto direto”.
Dilma comparou os sistemas presidencialistas – sobre o qual vive o Brasil – e o parlamentaristas. “No parlamentarismo, se pode considerar que o primeiro-ministro não está adequado porque cometeu erros políticos e retirá-lo. No presidencialismo, porém, para que isso ocorra, exige que haja consistentes provas e acusações de crimes”.
Os seis decretos suplementarem e o plano safra, afirmou Dilma, dizem respeito a ações corriqueiras do governo, cometidas por todos os ex-presidentes. Para se defender, contou ela, vai viajar pelo País e, se for o caso, pelo mundo.
Reforma política
A presidenta eleita lembrou aos jornalistas ter proposto, após as manifestações de junho de 2013, uma Assembleia Constituinte, mas percebeu que não havia a menor chance de ser aprovada no Congresso. Passou a defender, então, uma profunda reforma política. “Uma reforma política profunda é condição para qualquer pessoa de bem dirigir o Brasil”.
Ainda sobre as manifestações de junho de 2013, a presidenta destacou que o governo passou por aquele período conturbado sem impedir ou cercear as manifestações populares. “Estou enfatizando isso porque acredito que um governo ilegítimo precisa sempre de mecanismos ilegítimos para se manter no poder”, pontuou.
Crise
Sobre a crise econômica em seu governo, a presidenta eleita explicou que em todos os países do mundo as crises econômicas significam que a população vai passar por dificuldades, em maior ou menor grau. Ela lembrou, porém, que durante seu governo não se enfrentou crise tirando direitos sociais.
“Até o último dia enfrentamos a crise preservando todos os nossos programas sociais: Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida, Prouni, Fies, PAA, as cisternas, a integração do São Francisco”, disse aos jornalistas estrangeiros.
Ouça a entrevista, na íntegra:
Por Bruno Hoffmann, da Agência PT de Notícias