Documento de delação da Odebrecht tem seis falsidades

Análise pericial de material apresentado do sistema Drousys, que traz a contabilidade paralela da empresa, mostra adulteração incontestável

As delações de executivos da Odebrecht se baseiam em documentos falsificados conforme atestou perícia

Os documentos que o Ministério Público Federal apresentou à Justiça como sendo provas que acompanhavam delações premiadas de executivos da empreiteira Odebrecht apresentam, pelo menos, seis adulterações incontestáveis, e indícios de falsidade e nítida alteração na matriz original do documento, “restando conspurcada a fidedignidade do material”.

A informação consta em laudo pericial assinado por Celso Ribeiro del Picchia, membro da Associação dos Peritos Judiciais do Estado de São Paulo, da International Association of Forensic Sciences e da Sociedad Internacional de Peritos en Documentoscopia.

O documento em questão contém dados do Drousys, sistema de contabilidade paralelo da empreiteira. Ele foi apresentado pelo seu ex-presidente Marcelo Odebrecht em acordo de delação premiada. Foi com base nas informações contidas neste material que o Ministério Público Federal acusou Luiz Inácio Lula da Silva de ter recebido vantagens indevidas, como o pagamento por parte da empreiteira de um imóvel em São Bernardo que não está nem nunca esteve no nome do ex-presidente.

Veja, abaixo, as principais falsidades encontradas pela perícia:

A pessoa a que se refere o perito é Paulo Melo, ex-diretor da Odebrecht e acusado por Marcelo Odebrecht de ter sido a pessoa que teria negociado com o ex-presidente a doação de um terreno para o Instituto Lula, que jamais veio a ocorrer.

Melo já negou veementemente em juízo, de frente a Sérgio Moro, que tenha participado de qualquer arranjo neste sentido, e que “seria a forma mais estúpida de se pagar uma propina”.

Assim, como mostrou a perícia, o que é imputado como autoria de Paulo Melo na tal planilha das propinas é exatamente a parte do documento que apresenta as falsidades documentais: consta que foi ele quem anotou todas as informações na tabela, mas não foi; contém uma parte que foi incluída no documento por Marcelo Odebrecht, depois que a planilha já estava concluída; contém adulteração de dados feita junto com tentativa de escamoteá-la.

O documento analisado contém partes manuscritas e digitalizadas. Sobre as digitalizadas, nada indica que elas são correspondentes aos arquivos originais da companhia. Não há como saber se houve adulteração posterior, feita pelo delator, pelo MPF ou quem quer que seja, como observa a perícia:

Diante da gravidade das adulterações encontradas nos documentos que serviram de prova das declarações de Marcelo Odebrecht, a Defesa de Lula  apresentou nesta quinta-feira à 13ª. Vara Federal Criminal de Curitiba a perícia que demonstra que “documentos que estão sendo utilizados nos autos da Ação Penal nº 5037409-29.2017.4.04.7000, supostamente extraídos de cópia do Drousys, sistema de comunicação da contabilidade paralela da Odebrecht, apresentam discrepâncias indicativas de manipulação”.

Os advogados do ex-presidente também disponibilizam a toda população o acesso ao documento pericial e à petição enviada à Justiça, na página “A Verdade de Lula“.

Por Vinícius Segalla, da Agência PT de Notícias

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