Em reunião com Lula, varejistas condenam juros extorsivos do BC de Bolsonaro

“A questão dos juros é extremamente preocupante e não há nada que justifique o juro real no Brasil estar em crescimento”, afirmou o vice-presidente Geraldo Alckmin, após o encontro, nesta quarta (14)

Ricardo Stuckert

Empresários do varejo levaram ao governo as dificuldades do setor por causa dos juros escorchantes do Banco Central

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reuniu, nesta quarta-feira (14), com representantes de empresas varejistas, no Palácio do Planalto. O principal item da pauta foi a dificuldade enfrentada pelo setor em razão da insistência do Banco Central, presidido pelo bolsonarista Roberto Campos Neto, em manter a taxa básica de juros (Selic) a 13,75%, a maior praticada em todo o mundo.

Ao final do encontro, em coletiva de imprensa, o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, reafirmou a discordância do governo com a condução de uma política monetária “extremamente preocupante”.

“Eles [empresários] colocaram de forma muito clara: a questão dos juros, que prejudica muito a atividade econômica, ou seja, prejudica o emprego. Porque na realidade o juro não está parado, o juro real está subindo há vários meses. Na medida em que fica parado em 13,75% a Selic e a inflação está caindo, o juro real está subindo no Brasil, sem nenhuma razão para isso”, afirmou Alckmin.

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“Não há demanda crescente. Pelo contrário, acabamos de verificar agora, nos últimos números do varejo, um não crescimento. A questão dos juros é extremamente preocupante e não há nada que justifique o juro real no Brasil estar em crescimento”, acrescentou.

A reunião, solicitada pelo Instituto para Desenvolvimento do Varejo (IDV), contou com a presença de pesos pesados do setor, entre os quais Luiza Trajano, presidente do Conselho de Administração do Magazine Luiza, e Paulo Pompilio, diretor de Relações Corporativas do Grupo Pão de Açúcar. Além dos ministros da Casa Civil, Rui Costa, e da Fazenda, Fernando Haddad, a presidenta da Caixa Econômica Federal, Rita Serrano, a diretora socioambiental do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Tereza Campelo, e o diretor de Planejamento do BNDES, Nelson Barbosa Filho, também estavam presentes.

O presidente do IDV, Jorge Gonçalves Filho, disse aos jornalistas que há expectativa dos varejistas com a queda da Selic “a curto prazo”. Ele pontuou que o juro do cartão de crédito é muito elevado, o que prejudica as vendas.

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“Também notamos que tem uma dificuldade grande em alguns programas por conta dos juros. Realmente a gente tem uma expectativa de que a questão dos juros tenha uma regressão a curto prazo”, disse Gonçalves. “Sabemos que o Banco Central tem o rito para que isso ocorra, mas notamos que vários programas que serão bons para o varejo, para o mercado, dependem disso também. E os juros não só a questão da Selic, Banco Central, mas o juro praticado no cartão de crédito que é muito elevado também”, afirmou o presidente do IDV.

Pressão

O debate sobre a necessidade de redução dos juros foi inaugurado pelo presidente Lula, logo após sua posse, em janeiro. Entre outras manifestações feitas desde então, ele chegou a afirmar, durante evento na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), que a alta taxa da Selic é “uma excrescência”, recebendo o apoio dos empresários.

Na segunda-feira (12), durante evento do IDV, a empresária Luiza Trajano voltou a cobrar a redução da Selic. E o fez diretamente ao bolsonarista Campos Neto, que estava presente. “Vai ter muita gente quebrada”, alertou a executiva.

“A nossa realidade é diferente. O varejo puxa tudo, a indústria, a construção. Estamos tendo excesso de produto, as indústrias não têm onde colocar, nem sempre esse remédio amargo também resolveu a inflação”, afirmou Trajano a Campos Neto. “Se estou defendendo, é pela pequena e média empresa. Queria pedir, por favor, para dar um sinal de baixar esses juros”, afirmou.

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“Sem um sinal, não vamos aguentar. Quantas lojas aqui já foram fechadas? Quantas pessoas já foram mandadas embora? A desigualdade social é muito grande. É o emprego que salva as pessoas. Queria te pedir, em nome dos brasileiros, para dar um sinal. E não é de 0,25 ponto, que é muito pouco. Precisamos de mais”, acrescentou a empresária.

Concorrência

Na reunião com Lula, os empresários também pediram que o governo garanta a concorrência leal entre os produtos brasileiros e o comércio eletrônico estrangeiro. Aos jornalistas, o vice-presidente, Geraldo Alckmin, assegurou que “a Fazenda e a Receita vão agir”

“A questão do comércio, é dever do governo manter uma concorrência leal. A importação de produtos sem pagar imposto chega a R$ 70 bilhões, quase chegou ano passado. Isso é quase 1% do PIB. E não prejudica só o comércio instalado, prejudica a indústria também, indústria brasileira. Esse foi um segundo tema também abordado [na reunião]. A Fazenda e a Receita vão agir”, afirmou Alckmin.

Veja, abaixo, os empresários participantes da reunião:

Luiza Helena Trajano e Frederico Trajano – presidente do Conselho de Administração e membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social e Sustentável. Luiza e Frederico são presidentes da Magazine Luiza

Jorge Gonçalves Filho (Saint-Gobain Distribuição Brasil) – diretor e presidente do Instituto para Desenvolvimento do Varejo (IDV)

Ilson Mateus – controlador e membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social e Sustentável e presidente do Grupo Mateus

Sérgio Herz – CEO da Livraria Cultura

Ronaldo Pereira Júnior – CEO da Ri Happy

Fábio Faccio – CEO das Lojas Renner

Leninha da Paula Pedroso – presidente do Conselho de Administração da Caedu

Marlene Fernandez – vice-presidente de Relações Governamentais do McDonald’s

Celso de Moraes – presidente da Mundo Cabelereiro

Francisco Deusmar de Queirós – Pague Menos

Sérgio Zimerman – presidente da Petz

Peter Furukawa – presidente da Quero-Quero

Antônio Carlos Pipponzi – presidente do Conselho de Administração da RaiaDrogasil

Silvina Mirabella – presidente das Óticas Carol

Artur Grynbaum – conselho de administração do Grupo Boticário

Jordana Rocha Barros – diretora geral de operações da Telhanorte

José Aparecido dos Santos – diretor de departamento jurídico e tributário da Magazine Luiza

Juliana Vansan – diretora executiva de Assuntos Institucionais do Grupo Boticário

Paulo Pompilio – diretor de Relações Corporativas do Grupo Pão de Açúcar

Marciel Eder Costa – consultor em Relações Governamentais do Grupo Soma

Fernando de Paula – diretor de Relações Governamentais do McDonald’s

Cássio Cunha Lima e Guilherme Farhat Ferraz – assessores governamentais do Instituto para Desenvolvimento do Varejo (IDV)

Maria Alicia Peralta – diretora executiva de Relações Governamentais e Engajamento do Carrefour

Ricardo Patah – presidente e membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social e Sustentável da União Geral dos Trabalhadores (UGT)

Fabíola César Xavier e Marcelo Silva (IDV) – diretora executiva e conselheiro do Instituto para Desenvolvimento do Varejo (IDV)

Stéphane Engelhard – conselheira convidada do Instituto para Desenvolvimento do Varejo (IDV)

Da Redação

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