Juros escorchantes do BC de Bolsonaro derrubam atividade industrial

No estado de São Paulo, produção caiu 2,4% na comparação anual feita em março, aponta a Pesquisa Industrial Mensal Regional (PIM Regional), do IBGE. Pacheco diz que juros inibem crescimento e defende queda da Selic

Ricardo Almeida (ANPR)

Iedi: 72% dos parques regionais da indústria brasileira não conseguiram crescer no 1º trimestre de 2023

Apesar de uma alta tímida da atividade industrial no mês de março, de 1,1%, o setor sofre os efeitos das taxas de juros escorchantes praticadas pelo Banco Central, instituição presidida pelo bolsonarista Roberto Campos Neto. O maior parque do país, o estado de São Paulo, por exemplo, apresentou queda de 2,4% na comparação anual, feita entre março de 2023 e março do ano passado. Os dados foram divulgados pela Pesquisa Industrial Mensal Regional (PIM Regional), do IBGE.

De acordo com o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), São Paulo variou apenas 0,2% entre fevereiro e março de 2023, confirmando um quadro de estagnação da atividade do parque, considerado o mais rico e diversificado do país.  

“Vale observar que a indústria paulista está 2,7% abaixo do pré-pandemia (fevereiro de 2020), uma defasagem que é o dobro daquela registrada pelo setor no agregado Brasil (1,3% aquém de fevereiro de 2020)”, destaca nota do Iedi divulgada na semana passada. “Apenas 1/3 das indústrias regionais se apresenta acima deste patamar, com destaque para Amazonas (+16,4%), Minas Gerais (+11,5%) e Rio de Janeiro (+5,6%)”, aponta o instituto.

“Ao todo, 72% dos parques regionais da indústria brasileira não conseguiram crescer no 1º trimestre de 2023, o que sinaliza um processo bastante espalhado geograficamente”, destaca o documento do Iedi. “Quedas intensas marcaram o desempenho do Rio Grande do Sul (-9,2%), que já tinha ficado no vermelho no 4º trimestre de 2022 (-1,8%), Mato Grosso (-7,2%) e Rio de Janeiro (-5,2%), que amenizou suas perdas, mas que também não cresce desde o final do ano passado (-9,9% no 4º trim/22)”.

A raiz do fraco desempenho do setor está no elevado patamar da Selic, estacionado em 13,75% desde agosto do ano passado. Representantes da indústria alertam há meses que os juros abusivos do Banco Central impedem o crescimento econômico ao esmagar os investimentos e aumentam o custo da dívida pública do governo federal.

Gomes: Selic empobrece o país

“É inconcebível que um país tão rico como o Brasil, que oferece tanta segurança para o credor do Estado brasileiro, continue praticando taxas de juros tão mais altas do que os países com os quais competimos no cenário internacional”, advertiu, há poucas semanas, o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Josué Gomes, durante reunião da diretoria. 

Entramos em um círculo vicioso altamente danoso para a economia nacional”, lamentou Gomes. “Brasil precisa romper esse ciclo, sob pena de continuarmos empobrecendo”, destacou o presidente da Fiesp. Como o presidente Lula, Gomes defende um debate público em torno do assunto, retirando o verniz tecnicista que cobre os argumentos utilizados pela diretoria do Banco Central para segurar os juros nas alturas.

“O mundo olha para o Brasil e tem medo de investir aqui com essas taxas abusivas de juros”, criticou o líder do governo Lula na Câmara, José Guimarães (PT-CE). “O BC caminha na contramão dos esforços que o país faz para voltar ao crescimento econômico e desenvolvimento social”, condenou Guimarães, na segunda-feira (22), em entrevista ao Jornal GGN, apresentado por Luis Nassif.

Pacheco: juros inibem crescimento

No mesmo dia, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, voltou a se manifestar contra a atual política do Banco Central. Pacheco afirmou que os juros atuam para inibir o planejamento do governo de aceleração do crescimento.  “Deve haver sensibilidade social do Banco Central para as necessidades mais prementes do Brasil”, cobrou o senador, em seminário promovido pela Folha de S. Paulo.

Para Pacheco, é “compromisso do Banco Central compreender o momento em que estamos vivendo e promover a redução gradativa da taxa básica de juros”. Ainda segundo o parlamentar, “o Banco Central tem compromisso com a solidez do sistema financeiro e com a estabilidade da nossa moeda. Mas tem também com o bem-estar da população e o pleno emprego”.

Campos Neto confirma atuação política no BC

Presente no mesmo seminário que Pacheco, o presidente do Banco Central voltou a confirmar que atua politicamente na instituição ao fazer crítica aberta a Lula sobre suas falas a respeito dos juros no país. “O presidente tem direito de entrar num debate sobre taxa de juros”, declarou. “Eu confesso que, depois de ter subido os juros no ano eleitoral, na forma como a gente subiu, para garantir que, independente de quem ganhasse, fosse um mandato onde a inflação seria mais comportada, confesso que eu imaginei que isso fosse ser reconhecido”, delirou Neto.

“Acho que a personificação de uma pessoa demonstra a falta de conhecimento do processo que foi instalado e desse amadurecimento institucional por que o BC vem passando”, disse, referindo-se ao presidente. “Mas acho que isso vai, ao longo do tempo, ficando mais claro para a sociedade e para o Executivo”.

A tentativa de Neto de enquadrar Lula foi rebatida imediatamente pela presidenta Nacional do PT Gleisi Hoffmann. “Mas era só o que faltava, Campos Neto criticar Lula por reclamar dos juros altos”, reagiu Gleisi, pelo Twitter. “Falta de conhecimento é sua sobre o Brasil, a realidade do povo, o sofrimento, às necessidades”, escreveu Gleisi.

“Foram dois governos exitosos e exaltados no mundo todo e agora Lula voltou pelo povo de novo pra fazer ainda mais. Ele tem toda a propriedade para falar, assim como empresários e economistas que também detonam os juros absurdos”, reiterou a presidenta do PT.

Assista a série “Banco Central de Bolsonaro: sabotador da economia brasileira”

Da Redação

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