EUA pressionam Bolsonaro a barrar Huawei no mercado de 5G nacional
Lamentavelmente, decisão crucial para o futuro da economia e da soberania nacionais será tomada no momento em que o Brasil tem um governo submisso aos EUA e com visão enviesada da economia global
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A vinda do conselheiro de Segurança Nacional dos Estados Unidos, Jake Sullivan, ao Brasil, teve um objetivo principal: barrar a participação da Huawei no futuro mercado de 5G nacional. Segundo apuração da Folha de S. Paulo, Sullivan, que se reuniu na quinta-feira (5) com Jair Bolsonaro e o ministro da Defesa, Walter Braga Netto, ofereceu ajuda para que o Brasil entre na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) em troca do veto à empresa chinesa.
A proposta, que ocorre às vésperas de o Brasil finalmente dar início ao leilão das faixas de operação do 5G no território nacional, demonstra o imenso interesse dos norte-americanos no tema. “A viagem de Sullivan a Brasília é a segunda visita de alto nível de uma autoridade americana em menos de um mês para tratar do tema. No início de julho, o chefe da agência de inteligência americana (a CIA), William Burns, esteve na capital federal para uma série de reuniões, inclusive com Bolsonaro”, lembra a Folha. O jornal destaca ainda que ao acenar com a possibilidade de ingresso na Otan, os americanos buscam “seduzir” os militares que cercam Bolsonaro.
O mais preocupante nessa notícia é o fato de uma decisão crucial para o futuro da economia e da soberania nacionais ser tomada justamente no momento em que o Brasil tem um governo submisso aos Estados Unidos e com uma visão extremamente enviesada e equivocada do tabuleiro global. Jair Bolsonaro já deu sucessivas mostras de sua ignorância geopolítica e econômica ao atacar a China, parceira essencial para o país, pelos motivos mais esdrúxulos. É muito provável, portanto, que essa estupidez e submissão contaminem os passos a serem dados agora, comprometendo o caráter técnico do leilão.
É importante ter em mente que uma escolha errada na implementação do 5G pode custar muito caro ao Brasil, aprofundando o atraso tecnológico do país e acabando com nossas chances de nos tornarmos uma nação competitiva globalmente e, consequentemente, soberana.
Com velocidade até 20 vezes maior do que do 4G, a nova tecnologia está longe de ser uma mera “turbinada” nos aparelhos celulares. O 5G permite conexão instantânea e promete uma “revolução” capaz de produzir avanços inéditos na economia e nas relações sociais em qualquer país. Segundo especialistas, a tecnologia permitirá o desenvolvimento da telemedicina e o uso de carros não tripulados, com impactos até na automatização de processos no campo, entre outras novidades. A chamada ‘internet das coisas’ também depende da nova tecnologia para acionar TVs, geladeiras, carros, máquinas de lavar e câmeras de segurança.
Por tudo isso, escolher o melhor fornecedor dessa tecnologia e, mais, buscar a transferência de tecnologia para que o Brasil desenvolva sua própria indústria deveria estar no centro das preocupações do governo. Aceitar excluir de antemão uma das empresas líderes dessa evolução seria um erro gravíssimo. Além disso, o veto à Huawei pode prejudicar os negócios com a empresa, que atua há duas décadas no país e fornece tecnologia aos mais variados setores, inclusive o militar.
Da Redação