Fauci diz que Brasil deve considerar lockdown para conter vírus
Maior epidemiologista dos EUA afirma que “negar a gravidade do surto nunca ajuda”, em referência a Bolsonaro. País bateu 4 mil mortes diários na terça
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O médico Anthony Fauci, maior autoridade em doenças epidemiológicas dos EUA e coordenador da força-tarefa da administração Biden contra a Covid-19, avalia que a crise sanitária no Brasil é gravíssima. Em entrevista à BBC, nesta terça-feira (6), Fauci sugere que o governo deve considerar a adoção de um lockdown para conter a escalada desenfreada do vírus. Confirmando as preocupações do epidemiologista, no mesmo dia, o Brasil bateu mais um recorde de mortes diárias, ultrapassando os 4 mil óbitos. Sobre medidas de enfrentamento, Fauci afirmou que o negacionismo em torno da doença ajuda apenas o vírus.
“Para controlar uma epidemia, você precisa admitir que tem um problema sério. Depois de admitir que tem um problema sério, você pode começar a fazer as coisas para resolvê-lo”, afirmou Fauci, citando o lockdown. O texto de introdução da entrevista da BBC lembra que o ministro da Saúde Marcelo Queiroga, no entanto, praticamente descartou a política, afirmando que a ordem [de Bolsonaro] é evitar lockdown.
“Não há dúvida de que medidas severas de saúde pública, incluindo lockdowns, têm se mostrado muito bem-sucedidas em diminuir a expansão dos casos”, justificou Fauci. Então, essa é uma das coisas que o Brasil deveria pensar e considerar seriamente dado o período tão difícil que está passando”, explicou.
Diplomático, o especialista evitou usar a palavra “ameaça” para descrever o quadro brasileiro mas reconheceu o papel da nova variante P.1, descoberta em Manaus, na disseminação de uma nova onda da doença na América do Sul. “E esse é um dos motivos pelos quais é muito importante para a América do Sul e o Brasil, em particular, tentar vacinar o máximo de pessoas o mais rápido possível”, frisou.
EUA não cederão vacinas ao Brasil
Fauci fez questão de deixar claro, contudo, que os EUA descartam acordos bilaterais que garantam vacinas ao governo brasileiro. Isso, porque, para o especialista, a plataforma de distribuição equitativa de vacinas deve ser a Covax, o consórcio da Organização Mundial da Saúde (OMS) do qual os EUA fazem parte.
“Já deixamos bem claro que assim que levarmos as vacinas para a esmagadora maioria das pessoas nos EUA, além de termos o suficiente para reforços, colocaremos o excesso de vacina à disposição dos países em todo o mundo que precisarem”.
O problema, como lembrou a reportagem da BBC, é que o governo Bolsonaro optou por uma cobertura mínima de vacinação oferecida pelo consórcio, de apenas 10%, ou 42 milhões de doses de vacina. Ou seja, a estratégia de pedir ajuda diretamente aos EUA irá dar em nada.
Coordenação nacional e cooperação da população
Fauci afirmou que a saída da crise é aliar uma aceleração nas imunizações com a adoção de medidas integradas por todas as instâncias de governo e com adesão da população. Segundo o médico, “um país tem que se unir, e as pessoas têm que agir de forma uniforme, reconhecendo que o inimigo comum é o vírus e não ter conflitos sobre qual é a melhor abordagem”.
O cientista também advertiu sobre os perigos da realização de cultos religiosos presenciais, assunto inclusive de debate no âmbito do Supremo Tribunal Federal (STF), cujo plenário irá decidir sobre as atividades de igrejas na tarde desta quarta-feira (7).
A prática religiosa é importante, considera, “mas é preciso ter cuidado ao lidar com lugares lotados. Geralmente, é um local de disseminação do vírus”. E acrescentou: “Minha mensagem ao povo brasileiro é tentar ao máximo evitar aquelas coisas que levam à propagação do vírus, usar máscaras, evitar ir a ambientes lotados, manter distância física, lavar as mãos. Sempre que você puder. Esses são os elementos básicos de saúde que, se os brasileiros seguirem, poderão controlar a pandemia”.
Da Redação, com BBC