Fechamento da Ford provoca efeito cascata na cadeia produtiva do setor

A Arteb, empresa que fornece autopeças para a unidade da montadora em Camaçari (BA), já começou a demitir parte dos seus 800 empregados e o mesmo pode ocorrer com outras fábricas na região. Em audiência pública na Câmara, parlamentares da oposição, sindicalistas e representantes de entidades do setor debateram a crise e a busca de soluções diante do descaso do governo federal com o processo de desindustrialização do país

Site do PT

Como já havia sido anunciado por sindicalistas e analistas do setor, o fechamento das fábricas da Ford no Brasil começou a ter reflexos negativos sobre a cadeia produtiva da indústria automobilística, principalmente na região do Grande ABC paulista.

A Arteb, tradicional fabricante de faróis e lanternas para automóveis com sede em São Bernardo do Campo, que possui 800 trabalhadores em seus quadros, já iniciou um processo de demissões por causa do fechamento da unidade da Ford em Camaçari (BA), de quem ela é fornecedora de peças. Ainda não se tem informações sobre qual será o número total de demitidos pela Arteb.

Em resposta aos avisos de demissões, os trabalhadores da Arteb decidiram paralizar a produção em São Bernardo do Campo, após a realização de uma assembléia. A alegação da empresa é de que ela foi fortemente impactada pela decisão da Ford de encerrar suas atividades no Brasil em plena crise provocada pela pandemia do novocoronavírus.

De acordo com o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC serão realizadas novas rodadas de negociações com a Arteb para discutir o futuro da fábrica, que é uma unidade de grande importância para a região.

“Precisamos abordar uma série de questões, já que se trata de uma empresa em recuperação judicial. Queremos discutir inclusive o futuro da empresa, uma fábrica antiga, que emprega atualmente 800 trabalhadores e é importante para o ABC”, afirmou Moisés Selerges, secretário-geral do SMABC.

Empregados da Arteb decidem paralisar atividades após avisos de demissões. Foto: Reprodução

Busca de soluções para a crise

Durante a audiência pública na Câmara dos Deputados realizada na quarta-feira (27) para discutir o fechamento da Ford, por iniciativa dos deputados petistas Carlos Zarattini e Vicentinho, ambos de São Paulo, foi abordada a gravidade da situação e os seus reflexos imediatos na cadeia produtiva e na perda de milhares de empregos na indústria nacional.

Parlamentares de partidos de oposição, representantes de entidades, centrais sindicais e sindicatos do setor se uniram na busca de soluções para a crise, diante do descaso e da falta de ação do governo Bolsonaro para enfrentar o problema, que é só parte do processo de desindustrialização do país.

Para Paulo Cayres, presidente da Confederação Nacional dos Metalúrgicos (CNM) e secretário Sindical Nacional do PT, a Ford deveria devolver aos trabalhadores, em forma de benefícios, os incentivos governamentais que ela recebeu. Ele se referiu aos incentivos fiscais no valor de R$ 20 bilhões que a empresa vem recebendo desde 1999, segundo dados da Receita Federal.

O fechamento da montadora norte-americana é a ponta de um iceberg gigantesco e desastroso em que nós estamos colocados

Luís Paulo Bresciani, diretor do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos)

“Sobre o fechamento da Ford, num primeiro momento, nós queríamos a ocupação da planta. Não deixar sair um parafuso sequer, porque isso é um desrespeito. Ela teve incentivos, como foi dito aí, nessa magnitude e simplesmente vira as costas e, na maior cara de pau, diz não para o Brasil, mas queria continuar vendendo os produtos aqui”, enfatizou o dirigente sindical.

Segundo o diretor do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), Luís Paulo Bresciani, as 5.000 demissões anunciadas pela Ford significam uma perda de mais de 118.864 mil postos de trabalho (diretos, indiretos e induzidos). Para ele, essas demissões podem resultar em perda potencial de massa salarial da ordem de R$ 2,5 bilhões/ano, considerando-se os empregos diretos e indiretos.

Bresciani alertou também que haverá queda de arrecadação de tributos e contribuições em torno de R$ 3 bilhões/ano. “O processo de desindustrialização tende a se agravar, caso esse processo não for interrompido rapidamente”, sentenciou.

De acordo com ele, o fechamento da montadora norte-americana é “a ponta de um iceberg gigantesco e desastroso em que nós estamos colocados”.

Durante a audiência, o deputado Vicentinho informou que no encontro dos sindicalistas com o presidente do Senado Davi Alcolumbre (DEM-AP) e o senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG) foi aberta a “possibilidade real de se retomar, a partir do Congresso, a discussão do Inovar-Auto, que foi um projeto que assegurou condições para a produção com conteúdo nacional, com geração de emprego”.

O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Taubaté (SP), Cláudio Batista, o Claudião, também reafirmou a importância de se colocar o Inovar-Auto na pauta a partir da semana que vem, porque essa questão pode contribuir para remodelar o processo industrial.

Carreata para Aparecida

Nesta sexta-feira (26), os trabalhadores e trabalhadoras da unidade da Ford da cidade paulista de Taubaté realizam uma carreata para Aparecida em protesto contra o fechamento da fábrica. A concentração para o ato começa às 7h30 na fábrica.

A previsão do Sindicato dos Metalúrgicos de Taubaté e Região (Sindmetau) é de que os funcionários da montadora participem de uma missa às 12h na Basílica Nacional de Aparecida. A participação no ato é aberta à população.

Da Redação

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