Garcia: Vivemos na imprevisibilidade e problemas vão aumentar
Marco Aurélio Garcia alerta que o golpe trará ainda mais efeitos negativos para o Brasil, alem da criminalização crescente
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Diante do atual cenário político de golpe, perda de direitos e denúncias contra o usurpador Michel Temer, Marco Aurélio Garcia alerta que o Brasil vive uma conjuntura nacional e internacional de imprevisibilidade e enorme complexidade.
“Essa imprevisibilidade traz um grande efeito negativo porque é fruto de uma brutal derrota política. Mataram muitas esperanças e as principais consequências são o desemprego e a desilusão”, afirma o assessor especial de assuntos internacionais dos governos de Lula e Dilma Rousseff.
Ainda sobre o golpe, Garcia diz acreditar que os problemas vão se multiplicar, além da criminalização crescente.
“Eles conseguiram unificar a burguesia brasileira e ela teve um papel, nunca visto antes de monopólio dos meios de comunicação. Antes, os autores do golpe eram os participantes do aparelho do Estado, agora é a Polícia Federal, Ministério Público, tribunais de contas, ou seja, uma série de setores que pareciam neutros, mas estavam exercendo uma forte influência na classe média brasileira”, explica.
Garcia também explica que o Brasil vive em um cenário muito complicado de se avaliar, já que ele se modifica diariamente.
“Nesses últimos dias, ouvimos denúncias que apareceram por parte dos dirigentes da JBS e que têm uma gravidade extraordinária porque demonstra um envolvimento do Presidência da República e do candidato derrotado nas eleições (Aécio Neves) com fenômenos de corrupção gravíssimos. O argumento que eles usavam de combate à corrupção eram hipócritas, já que eles eram os corruptos”, diz.
O assessor lembra que os golpistas estão fracassando, inclusive, naquilo que se propuseram a fazer. “Eles diziam que iam corrigir a situação econômica e social que o país estava enfrentando, mas ela não foi corrigida e ainda piorou”, afirma.
Em contrapartida, para Garcia, os brasileiros saíram da perplexidade e passaram a lutar pela defesa de seus direitos. Exemplos disso, segundo ele, foram a Greve Geral, o acampamento em defesa da democracia e por Lula em Curitiba e o ato em defesa do polo naval no Rio Grande.
“Começamos a fazer o que eles fizeram: botamos o bloco na rua. A reação da sociedade tem sido muito grande. As questões da Previdência e trabalhista são gravíssimas. É a desvalorização do trabalho com a maximização dos lucros das empresas, além de colocar as pessoas na situação de indigência. Significa acabar com o bem-estar social, tornando-a privada, cada um que se vire”, afirma.
Marco Aurélio ainda lembra que “para realizar essa contrarreforma da Previdência eles são obrigados a violentar os termos do Estado democrático de Direito e implantar medidas de Estado de exceção”.
Para evitar efeitos mais drásticos no país, o ex-assessor especial de assuntos internacionais defende a necessidade de resgatar a previsibilidade para reduzir efeitos mais drásticos no país.
“Construir a previsibilidade significa entender em que Brasil vivemos, quais são as aspirações desse bloco e como podemos reverter isso. Nós perdemos essa perspectiva e essa análise é importante para discutirmos qual Brasil queremos”, diz.
Imprevisibilidade internacional
Marco Aurélio Garcia explica que a imprevisibilidade é um problema também notado em outros países democráticos.
“A imprevisibilidade é um problema real e tem tido como característica resultados eleitorais não esperados e que causam profundos abalos no sistema político dos países, abalos respeitáveis” diz.
Como exemplo, Garcia lembra as eleições nos Estados Unidos e na França. “Nos EUA, vimos uma imprevisibilidade até a madrugada e na França eu achava que ganharia François Fillon, mas ele ficou em terceiro lugar”.
Já na América Latina, Garcia comenta a eleição presidencial na Argentina e a eleição municipal em São Paulo. Para ele, a eleição do presidente da Argentina, Maurício Macri, e João Doria, prefeito da capital paulista, são semelhantes. “Foram eleições de grandes empresários”.
Garcia ainda complementa que essas eleições são exemplos de grandes mudanças econômicas e sociais. “Os jovens não se sentem mais representados pelos partidos e lideranças políticas”.
Da Redação da Agência PT de Notícias