Gás de cozinha fica mais caro e acumula alta de 57% com Bolsonaro
Produto sobe de preço a partir desta segunda-feira (14). Custo do GLP para os consumidores finais disparou após extinção da política de subsídios cruzados dos governos petistas
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A semana começou com o gás de cozinha mais caro. O preço médio do gás liquefeito de petróleo (GLP) sofreu reajuste de 5,9% nas distribuidoras, passando para R$ 3,40 por quilo. A Petrobras anunciou o aumento na última sexta-feira (11). Desde o início do desgoverno Bolsonaro, o GLP acumula alta de 57% nas refinarias da Petrobras, e, há tempos, o botijão de 13kg custa mais de R$ 100 para os consumidores na maioria das regiões metropolitanas.
Após um período de queda no início da pandemia, este é o décimo-quarto aumento consecutivo no preço do gás de cozinha, e o quinto em 2021. Em janeiro, a Petrobras elevou o preço em 6%. Em fevereiro, a alta foi de 5,1%. Em março, o reajuste médio foi de R$ 0,15 e, em abril, de 5%.
Em maio, mesmo sem reajuste nas refinarias, o preço do gás de cozinha subiu 1,24%, em média, em todo o Brasil, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Postagem na manhã desta segunda-feira (14) no perfil do líder da bancada do PT na Câmara dos Deputados, Elvino Bohn Gass (RS), resumiu o sentimento da maioria da população. “O gás de cozinha subiu 24%. A inflação do período foi de 8%. E o governo diz que não pode fazer nada. Carne, arroz, óleo de soja, ovo, feijão, tudo mais caro. E o governo diz que não pode fazer nada. Pode, sim. Pode pedir pra sair. E, se não o fizer, façamos nós. #ForaBolsonaro”, afirmou.
O gás de cozinha subiu 24%. A inflação do período foi de 8%. E o governo diz que não pode fazer nada.
Carne, arroz, óleo de soja, ovo, feijão, tudo mais caro. E o governo diz que não pode fazer nada.
Pode, sim. Pode pedir pra sair. E, se não o fizer, façamos nós. #ForaBolsonaro— Bohn Gass (@BohnGass) June 14, 2021
No início do ano, em meio a uma onda de descontentamento com a escalada de preços administrados pela Petrobras, Jair Bolsonaro, tentando se eximir de responsabilidade, nomeou o general Joaquim Silva e Luna para a presidência da estatal. Ao anunciar a demissão de Roberto Castello Branco, reclamou de reajustes “fora da curva”.
Em março, Bolsonaro chegou a zerar a alíquota de PIS e Cofins que incide sobre o gás de cozinha, mas a redução no preço não chegou ao consumidor. “Muitas companhias já avisaram que, analisando a planilha de custos, não poderão repassar a queda do imposto, ou seja, a medida só vai ajudar a aumentar a lucratividade das distribuidoras”, disse na ocasião o presidente da Associação Brasileira dos Revendedores de Gás Liquefeito de Petróleo (Asmirg), Alexandre Borjaili.
Ao anunciar o reajuste da vez, a Petrobras também tentou se eximir, argumentando que buscava evitar o repasse imediato para os preços internos da volatilidade externa causada por eventos conjunturais. “Nossos preços seguem buscando o equilíbrio com o mercado internacional e acompanham as variações do valor dos produtos e da taxa de câmbio, para cima e para baixo”, afirmou a companhia em comunicado.
“Os valores praticados nas refinarias são diferentes dos percebidos pelo consumidor final no varejo”, prosseguiu a empresa, lembrando que ao preço do GLP para o consumidor são acrescidos “tributos federais e estaduais, custos para envase pelas distribuidoras, além dos custos e margens das companhias distribuidoras e dos revendedores”.
O governador da Bahia, Rui Costa, respondeu nas redes sociais na manhã desta segunda. “A Bahia tem a menor tributação do País para o gás de cozinha. Infelizmente, o Governo Federal não tem uma política para combustíveis e energia no Brasil e o preço do gás segue subindo, um absurdo. Em qualquer lugar do mundo, energia é tratada como questão prioritária, menos aqui”, criticou Costa.
A #Bahia tem a menor tributação do País para o gás de cozinha. Infelizmente, o Gov. Federal não tem uma politica para combustíveis e energia no Brasil e o preço do gás segue subindo, um absurdo. Em qualquer lugar do mundo, energia é tratada como questão prioritária, menos aqui.
— Rui Costa (@costa_rui) June 14, 2021
Política de dolarização dos preços
É razoável supor que o desgoverno Bolsonaro até tem uma política para combustíveis: a da dolarização dos preços, “herança maldita” de Michel Temer. E as condições para a escalada de valores dos produtos administrados pela Petrobras se estabeleceram pouco mais de duas semanas após o afastamento da presidenta legitimamente eleita Dilma Rousseff, em 12 de maio de 2016.
Em 1º de junho, já tomava posse na presidência da Petrobras o ministro do “apagão tucano”, Pedro Parente, nomeado pelo usurpador Temer, que mal havia começado a esquentar a cadeira no Palácio do Planalto. Em outubro do mesmo ano, Parente iniciou a política de paridade de preços com o mercado internacional.
A política de Temer e Parente, que estabeleceu a cotação do barril do produto no mercado externo e o câmbio internacional como parâmetros para a definição do preço da gasolina e outros derivados, foi mantida sob Bolsonaro. A dolarização atingiu as raias do paroxismo em fevereiro passado, quando o preço final do botijão de gás atingiu recorde histórico no país.
Bolsonaro, ao posar de indignado com o preço do gás de cozinha, omite que ele foi o autor da pá de cal sobre a política de subsídio cruzado adotada por Luiz Inácio Lula da Silva a partir de 2005. A política petista manteve em limites razoáveis o preço dos botijões de 13kg ao longo de toda sua gestão e dos mandatos de Dilma Rousseff.
Foi sob Bolsonaro que uma resolução publicada em 29 de agosto de 2019 pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) pôs fim à política de subsídio dos governos petistas. “Esse movimento ao longo dos próximos seis meses levará a uma redução de preço para o consumidor final”, prometeu na época o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, presidente do CNPE. No entanto, desde que a medida se tornou permanente, em março de 2020, o que se vê é o aumento desenfreado dos preços dos combustíveis em geral.
Inflação e preços administrados
Em maio, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 0,83% foi o maior para o mês desde 1996. Boa parte do impacto sobre o indicador veio do grupo Habitação. A conta de luz subiu 5,73% e a conta de água e esgoto teve aumento de 1,61%, incrementando o índice em 0,28 ponto percentual. Gasolina e gás de cozinha também pesaram.
Esses itens fazem parte dos chamados preços administrados, aqueles serviços e produtos com reajustes definidos por contratos ou regulados pelo setor público. Em entrevista ao portal ‘Poder 360’, Pedro Kislanov, gerente do IPCA dentro do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), explicou que esses preços administrados representam um quarto do total do peso do índice.
“São itens bastante representativos, como a gasolina e a energia elétrica, que acabam pesando muito no bolso das famílias brasileiras“, afirmou Kislanov, acrescentando que, nos 12 meses até maio de 2021, esses itens acumularam alta de 13,08%. O IPCA chegou a 8,06% no mesmo período.
“É uma alta expressiva, bem acima do índice em geral”, afirmou o gerente do IBGE, lembrando que o resultado também está acima dos itens de serviços do IPCA. E com um agravante: “Inflação alta em geral prejudica principalmente as famílias mais pobres. Não tem muito como abrir mão de certos gastos. Principalmente de alimentícios, mas também de monitorados. Isso impacta muito as famílias de menor renda”, concluiu Kislanov.
Ao mesmo portal, o chefe da Divisão Econômica da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Carlos Thadeu de Freitas, explicou que a alta nos preços administrados “tira a renda dos consumidores“, pois eles gastam mais com esses itens e sobra menos renda para gastar com outros produtos e serviços.
O boletim Focus, relatório do Banco Central com previsões de analistas do mercado financeiro divulgado nesta segunda (14), projeta que o acumulado dos preços administrados em 2021 será de 9,05%. O valor está abaixo do acumulado de 12 meses em maio. É ver para crer.
Da Redação