Gastos com automóveis quase dobram em cinco anos

Com os preços dolarizados em 2016, combustíveis respondem por mais da metade dos custos com um veículo. Motoristas de aplicativo desistem e devolvem carros alugados

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Quem usa carro para ganhar a vida é mais prejudicado

Disseminada por toda a economia, a inflação da era Bolsonaro-Guedes está inviabilizando a posse de automóveis – mesmo para quem os utiliza com o propósito de garantir alguma renda. Da carestia dos preços dolarizados dos combustíveis à aceleração das despesas com manutenção, o custo para manter um veículo praticamente dobrou em sete anos e supera, em alguns casos, os gastos das famílias com educação.

A estimativa foi feita pelo Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec), a pedido do jornal O Globo. Professor de contabilidade da instituição, Paulo Henrique Pêgas afirma que combustíveis respondem por mais da metade dos custos com um veículo. IPVA, seguro, estacionamento e vistoria compartilham o peso restante sobre o resultado. Segundo Pêgas, o aumento das despesas nos últimos anos afeta tanto os donos de carros populares quanto os de modelos premium.

Um levantamento divulgado pela plataforma Cupom Válido revela que o Brasil é o quinto país mais caro para se manter um automóvel no mundo. O estudo compilou preços dos veículos da Tabela FIPE e dados da Scrap Car Comparison para medir a relação entre o preço da compra e manutenção de um automóvel e a renda média salarial de cada país. Os brasileiros precisam gastar 441,89% do rendimento médio anual para comprar e manter um carro zero, aponta o documento.

A gasolina acaba sendo o principal vilão. Lá em 2015, o litro custava R$ 3,51, em média, e hoje está em R$ 7, o dobro”, observa o professor do Ibmec, superado pelo ritmo da carestia. No Estado do Rio de Janeiro, a gasolina já rompe a barreira dos R$ 8 o litro, conforme a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).

Ano passado, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) registrou alta de 47,49% do preço da gasolina, 62,23% do etanol e 38,42% do Gás Natural Veicular (GNV), muito utilizado por motoristas profissionais em centros urbanos maiores. A carestia dos combustíveis – dolarizados por Michel Temer em 2016 e mantidos assim por Jair Bolsonaro – pesa mais para os donos de carros populares, diz Pêgas.

Manter um carro popular usado, como um Gol 2016, consome pouco mais de R$ 14,5 mil por ano, ou R$ 1.210 mensais. O salto de 90,5% em relação a 2015 é bem superior ao do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulado no período (50,7%). Praticamente o valor de um salário mínimo, esse gasto caberia apenas no orçamento de famílias com renda superior a R$ 6 mil por mês, já comprometido com itens como alimentação, habitação, educação e saúde, também inflacionados.

Já o custo mensal da manutenção de automóveis mais caros se aproxima de dois salários mínimos. O custo anual de um Renault Duster modelo 2022, por exemplo, é estimado em R$ 27 mil. O de outro veículo de valor médio, o Honda Fit, subiu 88,1% em sete anos.

Carros zero e usados disparam, puxando seguro e IPVA

O quadro desolador se completa com as altas dos preços dos veículos, tanto zero quilômetro quanto usados, puxando os valores também de seguro e IPVA. “Nunca a falta de carros novos pesou tanto no preço do seguro. Esse percentual de aumento (no seguro) não era visto nos últimos 30 anos”, observa Boris Ber, presidente do Sindicato de Profissionais Autônomos da Corretagem de Seguros de São Paulo.

A revisão dos veículos também sobe, proporcionalmente à depreciação do real. “Como a cadeia automotiva depende muito de importação, agora está sofrendo com o aumento de custos, e isso afeta o custo de autopeças. Quando precisar trocar o amortecedor ou freio, vai encarecer”, avisa Marco Antonio Rocha, professor de Economia da Unicamp.

A carestia no setor fez com que pelo menos 50 mil motoristas de aplicativos devolvessem veículos alugados no ano passado. O motivo, segundo levantamento da Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis (Abla), foi o aumento no preço dos combustíveis. O número de carros alugados pelos motoristas de aplicativos, afirma a entidade, caiu de 220 mil para 170 mil em 2021.

Para o presidente do Conselho Nacional da Abla, Paulo Miguel Junior, o percentual de devoluções (20%) é inédito num setor com potencial de alugar até 250 mil carros. A dolarização dos combustíveis e as tarifas cobradas pelos aplicativos, afirma, impedem que isso ocorra. “Estamos trabalhando com a possibilidade de recuo do preço do litro em 2022, voltando à média entre R$ 4 e R$ 5”, afirmou Miguel Junior em nota divulgada em dezembro.

Da Redação

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