Geovane Barone: A cultura do PT na luta de ideias

É preciso reforçar no PT o socialismo democrático, a internacionalização da luta de classes, pois precisamos defendê-la por razões estratégicas e programáticas

Lula Marques/Agência PT
Tribuna de Debates do PT

Foto: Lula Marques/Agência PT

 

“O horizonte deste pensamento é o socialismo, entendido como a perspectiva mais radical de democracia até agora formulada pela humanidade, que envolve, para além da democratização de todas as esferas da política, a democratização dos meios de produção, inclusive no plano da cultura.”

Iná Camargo Costa

Nunca antes no Brasil vimos os valores e ideias de classe tão acentuadas. O racismo, o preconceito, o machismo,  a misoginia expostos nas redes sociais e nas ruas. A luta entre o velho e o novo, entre a elite oligárquica e conservadora e os/as trabalhadores/as e intelectuais republicanos e progressistas de outro. Quem achava que a luta de classes era termo demodê, ficou redondamente enganado.

Os governos Lula e Dilma trouxeram alguma dignidade para os pais, as mães e os/as filhos/as da classe operária. O pobre estava andando de avião, estudando mais, frequentando os equipamentos culturais e produzindo sua cultura. O PT e os movimentos sociais de esquerda não fizeram revolução socialista é claro, mas começaram a inverter a prioridade do Estado brasileiro. Investimentos públicos em políticas de transferência de renda, acesso à educação via Fies, Prouni, Enem, estimulo ao crédito, aquecimento do mercado interno, acesso à moradia, pontos de cultura, sistema nacional de cultura, vale-cultura, conferências democráticas de diversas áreas carentes de política públicas para ouvir a população por todo o país. Uma tentativa de conciliação com o capital para garantir alguns direitos sociais vilipendiados por tanto tempo.

Esses avanços trouxeram um ódio de classe da elite brasileira. E pouco a pouco, após diversas derrotas eleitorais, os representantes da elite começaram a atribuir que o investimento do Estado era gasto excessivo, assistencialismo, populismo que  gerava corrupção, burocratização e aparelhamento. Primeiro o mensalão, depois a Lava Jato. E que era necessário modernizar o Estado, privatizando mais, reduzindo custos e flexibilizando leis previdenciárias, trabalhistas e, até mesmo, direitos sociais duramente conquistados. O bombardeio ao PT, o choque de ideias capitaneados pelos jornalistas, cronistas e colunistas de diversos veículos da mídia empresarial apontavam para o tema da corrupção e para o Partido dos Trabalhadores como o  seu representante. Das manifestações de junho de 2013, com direito a transmissão ao vivo pelo Jornal Nacional e caras pintadas de verde amarelo usando camisas da CBF com danças e músicas ironizando Dilma e Lula, até agora o discurso da corrupção e da limpeza da política vem ganhando força. Mas faltava um personagem para narrativa de direita: o herói da trama, o juiz Sergio Moro. Politicamente, o Judiciário e a mídia eram os poderes magnos da República brasileira, julgando e punindo políticos por convicções e não por fatos reais e provas. Culturalmente, os valores conservadores, não laicos, fascistas e antidemocráticos cresciam em musculatura. Golpe de Estado, impeachment de Dilma, Temer no poder.

No mundo,  cresce o xenofobismo, o terrorismo, a intolerância. Símbolo maior disso é a eleição do republicano Trump no EUA e das políticas antimigratórias na Europa. O ciclo de governos progressistas e de esquerda iniciado a partir de 1998 na América Latina e Caribe começou a entrar em declínio com a crise econômica de 2008: governos de Honduras, Paraguai e Brasil foram depostos. Na Venezuela, a oposição de direita ganhou força no Parlamento, e na Bolívia Evo Morales enfrenta um desgaste parecido.  E novamente, mais uma frase vem: “as ideias dominantes são as ideias da classe dominante.”

Foi exatamente aí, no debate de ideias, na divulgação de nossos valores, da nossa cultura, das políticas compensatórias que conseguimos com os governos liderados pelo PT, do objetivo de uma sociedade com justiça social, democracia e liberdade que vacilamos. Erramos ao não fazermos as reformas políticas, da comunicação e tributária principalmente. Ao não tocarmos nas feridas do capital.  Tentamos a conciliação e foram eles (a burguesia) que romperam com o pacto, não a classe trabalhadora. O que mostra que a não agressão aos interesses dos capitalistas, não garante que a classe trabalhadora possa garantir os seus direitos. O rentismo, o lucro, o capitalismo financeiro dependem das condições de exploração da mão de obra dos trabalhadores e trabalhadoras, na diminuição de direitos.  A burguesia brasileira não aceita nem mesmo uma revolução burguesa ao modo do Estado de bem-estar social. Faz-se necessário radicalizar a luta, acumular força, trazer a classe trabalhadora e os setores médios para a causa do PT e todos os movimentos e partidos de esquerda como foi iniciado com a Frente Brasil Popular e Povo Sem Medo.

É preciso reforçar no PT o socialismo democrático, a internacionalização da luta de classes, pois precisamos defendê-la por razões estratégicas e programáticas. O programa socialista do nosso partido precisa levar em consideração as vitórias da classe trabalhadora e das esquerdas pela superação da ordem capitalista globalizada. Somos fundamentais na formação de um bloco de resistência, a exemplo do Foro de São Paulo e dos Brics.

Mas o que o PT precisa fazer neste momento?  Investir em formação e na criação de um poder paralelo tal como foi o sindicalismo que deu origem ao nosso partido. O movimento da classe trabalhadora havia ficado tão forte que foi impossível não reconhecer como força política que precisava ser ouvida e levada em consideração. Já que em 2017 celebramos os 100 anos da Revolução Russa liderada pelos sovietes e bolcheviques, lembramos do que diz Trotsky sobre as condições pré-revolucionárias no seu livro “A História da Revolução Russa” quando aponta que “ o mecanismo político da revolução consiste na passagem de poder de uma classe a outra” e que “ a classe destinada a realizar o novo sistema social, sem ainda se tornar mestre do país, concentra nas suas mãos uma parte importante do poder do Estado.” Como disse o companheiro Lula, não basta ficarmos gritando FORA TEMER somente. Precisamos sim, retomar o trabalho de base do PT, a formação para luta de ideias, rearticular as forças progressistas e  fazer dos sindicatos, dos movimentos sociais, do nosso partido um espaço de resistência ao golpe. Um “soviete” ao nosso modo, do nosso jeito brasileiro.

Por Geovane Barone, ator, produtor cultural da Companhia Ensaio Aberto e membro do SeCult PT/RJ e militante da Democracia Socialista (DS), para a a Tribuna de Debates do 6º Congresso. Saiba como participar.

ATENÇÃO: ideias e opiniões emitidas nos artigos da Tribuna de Debates do PT são de exclusiva responsabilidade dos autores, não representando oficialmente a visão do Partido dos Trabalhadores

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