Grupo de Puebla alerta: crise não pode ser paga pelos pobres

Organização que reúne Alberto Fernández, Lula, Dilma, Lugo e Rafael Correia recomenda a integração entre governos e cooperação para combater pandemia. “Nossos povos sofrem não apenas com a ortodoxia conservadora, mas também com o obscurantismo ideológico e a negação da ciência”, diz nota

Divulgação/Grupo de Puebla

Reunião do Grupo de Puebla, com Alberto Fernández (centro) e Lula (na telinha): solidariedade aos povos da América Latina e alerta para que a crise não recaia sobre os mais pobres.

Mais de 40 líderes regionais da América Latina, reunidos no chamado Grupo de Puebla, manifestam preocupação com os desdobramentos da pandemia do coronavírus e seus impactos sobre os povos da região. Em nota divulgada nesta segunda-feira (13), a organização repudiou o bloqueio econômico imposto pelos Estados Unidos a Cuba e Venezuela e recomendou que os países da região promovam esforços de integração para reduzir os efeitos da crise do Covid-19. O Grupo de Puebla esteve reunido na sexta-feira (10) em videoconferência.

A preocupação da organização, composta por líderes políticos de todos os países da América Latina, é proteger os mais pobres e mais vulneráveis neste momento de dificuldades e da crise sanitária global. “O Grupo de Puebla pede que a crise não seja paga pelos mais pobres e que se diferencie mercado e agiotagem”, diz a nota. “Também é muito importante que seja dada atenção especial a grupos étnicos vulneráveis, como negros e indígenas”.

O documento é assinado, entre outras personalidades, pelo presidente da Argentina, Alberto Fernández, e pelos ex-presidentes brasileiros Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, além dos ex-mandatários Fernando Lugo (Paraguai) e Rafael Correa (Equador). Aloizio Mercadante, Fernando Haddad e Celso Amorim também estão entre os outros signatários.

O caso do Brasil e a conduta de presidente Jair Bolsonaro foram considerados “altamente preocupantes” pela organização. Diz a nota: “Os apelos do presidente Bolsonaro para quebrar medidas de segurança sanitária equivalem a um crime contra a humanidade”. Os signatários da organização expressam solidariedade às autoridades, aos governos estaduais e à sociedade civil do Brasil.“Tiveram que agir sob forte pressão do governo central para colocar a saúde e a vida de sua população como uma prioridade fundamental”.

Políticas anticíclicas

O Grupo de Puebla defende que sejam adotadas medidas na região que garantam uma saída da crise menos traumática. E cobra integração e apoio entre governos. “Será necessário um grande esforço internacional para a implementação de planos e políticas anticíclicas que visem promover o desenvolvimento sustentável”, destaca o grupo, que defende medidas de enfrentamento das principais vulnerabilidades que tornaram a pandemia tão perigosa e agressiva: desigualdade e fragilidade ou ausência de sistemas públicos de saúde.

Convidamos governos, organizações e povos do mundo a uma reflexão serena, quando a pandemia termina, sobre um Novo Modelo de Desenvolvimento, que coloca primeiro valores até então desconhecidos, como meio ambiente, inclusão social, redução de  desigualdade, segurança alimentar, desarmamento militar, multilateralismo e progressividade fiscal”, aponta. “O mundo globalizado após esta pandemia deve ser o mundo da colaboração e ação coletiva nacional e internacional”.

Viés ideológico perigoso

Na nota, os líderes políticos reconhecem que as principais economias do mundo estão aplicando medidas importantes de estímulo fiscal para enfrentar a crise. “Existe um consenso nos governos progressistas e conservadores de que os gastos públicos devem ser aumentados para diminuir a pressão da crise sobre os trabalhadores e as pequenas e médias empresas”, aponta a nota. 

“No entanto, vemos com preocupação como em alguns países de nossa região, especialmente aqueles com um acentuado viés ideológico neoliberal – como é o caso de Chile e Brasil –, estão sendo feitas tentativas de repassar os custos da crise aos trabalhadores”, advertem os líderes políticos da América Latina.

O Grupo de Puebla cita em nota que, nos anúncios econômicos feitos pelo governo de Sebastián Piñera, no Chile, as principais medidas de apoio aos setores mais vulneráveis ​​serão financiadas com suas próprias economias. “E os recursos para apoiar as pequenas e médias empresas comprometidas não passam de apoio financeiro para bancos comerciais concederem empréstimos com critérios e interesses de mercado”, lamenta.

A organização condenou a omissão da Organização dos Estados Americanos diante da pandemia. “O Grupo de Puebla protesta contra a total omissão da OEA na gestão da crise de Covid-19 e saúda os esforços do governo do México para recuperar o papel da Comunidade dos Estados da América Latina e do Caribe (CELAC) como espaço de coordenação e integração continental”, afirma o documento. 

“Nessa mesma linha, pedimos um verdadeiro debate sobre gastos militares”, recomenda o grupo. “Um acordo coordenado entre nossos governos para reduzi-los por vários anos, a fim de alocar esses recursos para fortalecer os sistemas de saúde e previdência social, seria um grande passo para as novas relações de cooperação que devemos construir em nosso continente”, defende. 

A íntegra da nota do Grupo de Puebla.

Declaracion Final Encuentro VIRTUAL Grupo de Puebla

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