Irmã de Paulo Guedes faz lobby para MEC sem ensino superior

Elizabeth Guedes é vice-presidente da Associação Nacional das Universidades Particulares (Anup) que representa grupos educacionais privados no país

Arte Agência PT

Jair Bolsonaro já avisou que o ensino superior não será prioridade no seu governo. Pelo menos as universidade públicas não, já que uma das suas propostas é cobrar mensalidade nas federais. Além disso, o presidente eleito vai reduzir os investimentos nas instituições ao tirar do Ministério da Educação a responsabilidade sobre as universidades e passar para o Ministério da Ciência e Tecnologia. A proposta, inclusive, agrada a vice-presidente da Associação Nacional das Universidades Particulares (Anup), Elizabeth Guedes.

Guedes? Exatamente. A vice-presidente da Anup é irmã do futuro ministro da Economia de Bolsonaro, o economista Paulo Guedes. Elizabeth, no entanto, disse ao O Globo que não vê conflito de interesse na sua atuação junto ao poder público por conta do parentesco com o “posto Ipiranga” de Bolsonaro, ainda que a associação represente grandes grupos educacionais privados, como Anhanguera, Uninove e Pitágoras.  Ela disse ainda ao jornal que não pretende integrar o governo, mas que seguirá “militando” na área do ensino superior.

Especialistas ouvidos pela Folha de S.Paulo apontam que a mudança para o Ministério da Ciência e Tecnologia pode levar a uma quebra no sistema educacional, uma vez que a alteração esvaziaria o orçamento do MEC. Dados do Tesouro Nacional mostram que o ensino superior – incluindo instituições federais, hospitais universitários, ProUni e Fies – representou 64% do gasto primário em educação, em 2017.

Para Elizabeth, por sua vez, é “uma questão meramente de dividir o orçamento”. Bolsonaro, inclusive, já anunciou que não pretende ampliar o orçamento da Educação, segundo a Folha. Apesar do não investimento, a vice-presidente da Anup diz que “pode ser que a gente tenha até mais atenção ao ensino superior do que hoje”.

Lobby do sistema privado de educação

A justificativa do futuro governo, defendida por Elizabeth, é que com a mudança será possível investir mais na educação básica. Ocorre, no entanto, que o Bolsonaro já deixou claro, ao longo da campanha, seus planos para incentivar o ensino fundamental à distância, o que contradiz a argumentação.

Para o pesquisador e professor aposentado da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Luiz Carlos de Freitas, o  ensino fundamental à distância causa prejuízos à formação da criança, já que limita a socialização e ainda pode representar uma dor de cabeça aos pais, que deixariam de contar com a estrutura física das escolas para abrigar crianças. “Não há paralelos em outros países de EaD aplicado no ensino infantil e fundamental. No ensino médio, experiências em alguns estados americanos carecem de um controle de qualidade e, na maioria dos casos, as escolas não têm boa avaliação”, disse ao El País Brasil.

Outra medida, no mínimo duvidosa, e que privilegia o sistema privado de ensino é a distribuição dos chamados “vouchers educação”. A ideia, defendida por Paulo Guedes, consiste em dar para as famílias vales para que escolham um colégio privado e matriculem seus filhos. Segundo os defensores do modelo, a maior participação de instituições privadas economizaria dinheiro com manutenção de escolas e a folha de pagamento dos professores.

Guedes foi mais uma vez buscar inspiração na ditadura de Pinochet, no Chile. O país sul-americano adotou os sistema de vouchers na década de 80, quando o militar governou. A medida não foi capaz de melhorar o ensino, segundo especialistas, e provocou um ‘apartheid educacional’, uma vez que, com a lógica de mercado dos vouchers, os alunos mais pobres e com mais carências de aprendizagem acabaram preteridos às piores escolhas. A separação foi causada pelo filtro dos processos seletivos ou pela incapacidade de muitas famílias de arcarem com as mensalidade superiores aos valores dos vouchers.

O pesquisador da Unicamp acredita que a adaptação do sistema ao Brasil pode causar profundas distorções.  “O voucher não garante que o aluno seja aceito em uma instituição de ensino subsidiada pelo Estado. Isso pode agravar a desigualdade e a segregação social nas escolas”, critica Freitas.

Da Redação da Agência PT de Notícias, com informações do O Globo e El País Brasil

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