Jefferson: Jovens serão os mais atingidos por golpe à democracia

Em entrevista à Agência PT, novo representante da Secretaria Nacional de Juventude disse que sem democracia não há avanços nas políticas para juventude

Foto: Lula Marques/AgênciaPT

Jovem negro, vindo do interior do Nordeste brasileiro, Jefferson Lima, ex-secretário de Juventude do PT, assumiu a Secretaria Nacional de Juventude da Presidência da República (SNJ) em um momento de acirramento político no País. Para ele, os jovens têm papel protagonista na defesa da democracia e sem o regime democrático não haverá avanços nas conquistas para esse segmento da população.

“Qualquer quebra da democracia nesse momento, quem será mais atingido será o jovem. Não é tirando a presidenta Dilma, não é fazendo um golpe no Brasil que vamos resolver os problemas do País. Alias, isso vai piorar. Vai intensificar uma crise institucional no nosso País e a juventude que vai ser mais afetada”, afirmou Jefferson.

Em entrevista à Agência PT de Notícias, o novo secretário falou das prioridades à frente da SNJ e destacou que a juventude não quer retrocessos, e sim mais avanços, mais conquistas sociais e, em especial, mais liberdades individuais e mais espaços democráticos.

Leia a entrevista completa:

Você assume da Secretaria Nacional de Juventude em um momento de acirramento político. Qual o papel da SNJ neste momento político pelo qual passa o País?
Nós estamos assumindo a Secretaria Nacional de Juventude para poder dialogar com a diversidade da juventude brasileira, em especial nesse atual cenário político de muita mobilização, de enfrentamento político muito forte, que a juventude vem participando de forma muito ativa, em especial desde 2013, mas nos últimos períodos com a presença muito forte nessa construção das mobilizações espalhadas pelo Brasil.

E a juventude indo às ruas, mais uma vez, um segmento importante, que também reforça a defesa da democracia nesse atual cenário político brasileiro. E a juventude, nesse momento, também apresenta um conjunto de demandas para poder enfatizar o papel de que o jovem quer construir nesse País. Então a gente assume esse papel no governo federal para contribuir com as políticas publicas de juventude e poder, dentro do governo e na relação com o conjunto dos movimentos, construir um cenário mais forte nas políticas públicas de juventude no Brasil. E, de forma emergencial, potencializar a defesa da democracia e a luta por mais conquistas para essa juventude brasileira.

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Foto: Lula Marques/Agência PT

Na sua avaliação, os jovens de hoje estão desinteressados por política?
Discordo plenamente. Na minha avaliação, a juventude da década de 80 teve o seu papel, na década de 90 também, e a nossa juventude atual, que representa quase 50 milhões de brasileiros e brasileiras, espalhados por diversos setores, por diversos segmentos, nos últimos anos vem demonstrando o desejo e enfatizando essa participação política e a construção do cenário político no Brasil.

Não foi à toa que, em 2013, a juventude protagonizou essas lutas, não foi à toa a Jornada de Lutas, também, da juventude brasileira no ano de 2014. No último período, teve as mobilizações dos estudantes nas escolas no estado de São Paulo, que se propagou por diversos estados no Brasil. E agora mais recente, nos últimos meses, a luta das jovens mulheres, a luta do movimento LGBT conduzido na sua grande maioria por jovens, a juventude indígena, quilombola, dos terreiros e, em especial, na defesa da democracia, a luta pelo ‘Fora Cunha’ e contra os retrocessos que o presidente da Câmara Eduardo Cunha representa para o Brasil, como a questão da redução da maioridade penal.

Ao invés de retroceder, o jovem hoje no Brasil quer mais avanços, mais conquistas sociais e mais espaços democráticos

E a juventude vem demonstrando essa capacidade de lutar e o desejo de construir e intensificar um processo de mobilização, diferente dos últimos anos, com novas perspectivas, com novas narrativas, com novas formas de mobilização que a juventude apresenta hoje, tanto nas ruas quanto nas redes, apresentando esse diálogo nas redes sociais e em todos os espaços, os jovens comunicadores contribuindo muito com isso.

A juventude, na minha avaliação, apresenta hoje esse desejo de reforçar e vem lutando muito pela defesa da democracia no Brasil, reafirmando as conquistas sociais dos últimos períodos, questionando algumas ações dos governos, tanto federal quanto os governos estaduais e municipais, mas mantendo esse processo de mobilização que é importante para gente poder intensificar mais conquistas, em especial para a juventude brasileira.

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Foto: Paulo Pinto/Agência PT

Qual o papel da juventude na defesa da democracia?
Hoje, infelizmente, alguns setores da classe política brasileira, alguns setores da sociedade, tentam atingir esse espaço estratégico e essa ação estratégica que é o regime democrático no Brasil, tão recente, tão jovem. A juventude hoje é fruto dessa democracia, não viveu o período da ditadura, não viveu o período de ataque aos direitos da sociedade como um todo. Mas tem uma ofensiva muito grande contra o regime democrático no Brasil, um processo de seletividade do Judiciário, um processo de ataque à presunção da inocência, um processo de atingir os direitos conquistados nos últimos períodos 10, 15 anos, com o presidente Lula e agora com a nossa presidenta Dilma.

Com isso, a juventude vem com esse sentimento de, ao invés de retroceder atingindo a democracia, o jovem hoje no Brasil quer mais avanços, mais conquistas sociais, em especial, mais liberdades individuais e mais espaços democráticos no nosso País. Foi assim em vários países e também aqui no nosso País.

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Foto: Lula Marques/Agência PT

Então a luta também é poder reforçar isso, de que todas as construções na política de juventude no nosso País sejam através de espaços democráticos, de diálogo, de consulta, de conferências, de seminários, de debates e mais debates, ouvindo a sociedade, ouvindo a opinião da sociedade, da juventude, para construir e reforçar esse regime democrático no Brasil.

Nós estamos em um processo de mobilização social muito grande porque tem uma onda conservadora e retrógrada no Brasil que tenta atingir a democracia. Mas também tem uma efervescência espalhada pelo Brasil, dos artistas, movimento de cultura, de juventude, em todos os cantos do País, em todos os municípios, em todas as cidades, na defesa da democracia e dizendo não a qualquer tentativa de quebra desse regime democrático que é algo mais importante na construção de qualquer governo, seja em qual esfera esteja situação.

O que está em jogo no nosso Brasil não é pouca coisa. E nós que somos jovens, precisamos ficar muito atentos. Não podemos nos deixar levar por uma manipulação midiática que tenta atacar todo dia a democracia no Brasil. Os mesmos que defenderam o golpe de 64 são os que hoje defendem a tentativa de golpe no nosso País.

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Foto: Lula Marques/Agência PT

Precisamos continuar com as mobilizações, com a força da juventude, com muita música, com muita arte, com muito colorido pelo Brasil, com todas as bandeiras, vamos dialogar com a sociedade brasileira. Só com mobilização social, com pressão nas ruas, nas redes, no parlamento e dando sustentação à democracia. Não é por um partido, não é pela presidenta Dilma somente, não é por um governo. É pela democracia no Brasil. Por algo que nossos pais, nossos avós, nossas famílias lutaram muito, e muito inclusive morreram naquela luta no período da ditadura no nosso País. O regime democrático é algo mais importante e mais estratégico no Brasil. A democracia precisa continuar firme e forte no Brasil, a institucionalidade respeitada e a juventude com voz e vez para continuar construindo o Brasil cada vez melhor.

Há uma efervescência espalhada pelo Brasil na defesa da democracia e dizendo não a qualquer tentativa de quebra desse regime democrático 

Como dialogar com a juventude que está indo para as ruas pedir o impeachment da presidenta Dilma?
Tem um setor significativo da juventude brasileira que acaba sendo influenciado muito fortemente pelos grandes meios de comunicação, pelos grandes jornais, pelas grandes redes de TV, e avaliam que o grande problema da crise política e econômica no Brasil é a presidenta Dilma. Infelizmente isso é um grande equívoco, na nossa avaliação.

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Foto: Amanda Silva

Nosso trabalho é fazer um processo mesmo de diálogo social de convencimento, de reconhecer os equívocos também, que existem em todos os governos, mas também apresentar o conjunto de ações e de medidas que foram vitoriosas para a juventude brasileira. Hoje, se o jovem tem acesso à educação de forma quase universal no Brasil, em especial a educação superior, com a expansão das universidades, com o ProUni, com o sistema do Pronatec no ensino profissionalizante, é graças a essas políticas mais recentes. Se hoje a gente consegue ter uma política voltada para a juventude rural, com assistência técnica de extensão rural para o jovem do campo, se a gente consegue ter um plano como o Juventude Viva, que tem o objetivo de diminuir o número de homicídios, em especial da juventude negra da periferia, se a gente hoje consegue ter um programa como o Cultura Viva, que dá oportunidades para os diversos segmentos da cultura que têm relação com a juventude, essas avanços aconteceram porque existe um governo que tem um olhar especial voltado para a juventude brasileira.

Então o nosso desafio é poder fazer a batalha da comunicação. É a batalha do diálogo, é a batalha do convencimento desses jovens e apresentar o que foi que de fato mudou na vida desses jovens. Se ele hoje tem um conjunto de oportunidades, não é porque caiu do céu. É porque é fruto de uma luta histórica de um segmento social, histórica de um campo que vem dirigindo o Brasil há quase 15 anos, e que apresentou um conjunto de oportunidades para a juventude brasileira.

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Foto: Lula Marques/Agência PT

A gente precisa, de fato, de um conjunto de ações, em nível municipal, estadual e federal, com o Parlamento, com os movimentos de juventude, com os movimentos sociais, com o conjunto da sociedade, para poder de fato ter mais avanços e mais melhorias. E não é tirando a presidenta Dilma, não é fazendo um golpe no Brasil, que isso vai se resolver. Aliás, isso vai piorar. Vai intensificar uma crise institucional no nosso País e a juventude que vai ser mais afetada.

A democracia precisa continuar firme e forte no Brasil, a institucionalidade respeitada e a juventude com voz e vez para continuar construindo o Brasil cada vez melhor

Quais as suas prioridades à frente da SNJ?
Nós temos um conjunto de ações que foram criadas desde o ano de 2005, quando criada a Secretaria Nacional de Juventude e o Conselho Nacional de Juventude. Nós já tivemos três Conferências Nacionais de Juventude, a última no final do ano passado, e essas conferências apresentaram um conjunto de prioridades. O emergencial é a gente fazer a defesa da democracia nesse atual momento de crise institucional, política e democrática no Brasil. Nós temos também um processo de diálogo e de reformulação do Plano Juventude Viva, em conjunto com os outros ministérios, com o governo federal como um todo, para apresentar para o público da juventude, em especial para a juventude negra, um programa, um plano, um conjunto de ações que possa diminuir esse alto índice de homicídios da nossa juventude. É inaceitável no Brasil e no nosso governo a gente ainda ter esses altos índices de violência e de assassinatos em relação à nossa juventude.

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Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Nós temos, por exemplo, o PL 4471, pelo fim dos autos de resistência, que é um PL que precisa ser aprovado na Câmara dos Deputados e depois no Senado, para ajudar a diminuir esses altos índices de assassinatos, porque grande parte da juventude negra que está sendo assassinada é assassinada pelo Estado, é assassinada pelas polícias, pela violência policial. Isso nós temos que combater, aprovando o fim dos autos de resistência. Junto com isso nós temos o Pacto Nacional de redução de homicídios da juventude, que está sendo debatido no Congresso Nacional, que já tem o Ministério da Justiça apresentando um conjunto de ações e de ideias, para que a gente possa fazer uma ação de todo o governo federal com a sociedade civil, com o parlamento, com os governos estaduais e municipais, para criar uma grande articulação nacional para poder enfrentar de fato esse extermínio da juventude negra que vem acontecendo no nosso País e apresentar um conjunto de oportunidades para esses jovens.

Nós estamos também dando início ao ID Jovem, que é a Identidade Jovem, com convênio com a Caixa Econômica Federal. E nos próximos quatro meses nós vamos fazer uma grande campanha nacional para divulgar na juventude essa grande conquista do segmento que foi conseguido no Estatuto da Juventude, que foi aprovado em 2013. Lá no Estatuto há duas questões importantes que foram aprovadas: a meia-entrada cultural para os jovens e a gratuidade para jovens de baixa renda no transporte interestadual.

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Foto: Lula Marques/Agência PT

O que representa para a juventude negra do Brasil ter agora um jovem negro a frente da Secretaria Nacional de Juventude?
Acho que é uma conquista. Eu vim do movimento negro, da juventude negra, do Nordeste brasileiro, do interior do nosso Nordeste, e acho que representa que a pauta da juventude negra vai ter muito mais prioridade na nossa gestão a frente da Secretaria Nacional de Juventude, sem esquecer as demais pautas, claro.

Isso representa, primeiro, mais diálogo com os diversos movimentos da juventude negra, nos espaços onde cada um constrói a sua militância, a sua atuação. Segundo, vamos abraçar o Plano Juventude Viva, que é uma conquista da primeira e da segunda Conferência da Juventude, que é uma conquista de um amplo diálogo com os movimentos de juventude negra, e fazer com que o nosso Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos, junto com o Ministério da Justiça e outros ministérios de forma transversal, com núcleo político de governo e com a própria presidenta a gente possa ter um olhar especial para essa pauta.

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Marcha da mulheres negras. (Foto: Lula Marques/Agência PT)

Representa também que nós vamos batalhar muito no Congresso Nacional para aprovar o PL 4471 que pede o fim dos autos de resistência. Nós vamos lutar muito contra a redução da maioridade penal, que atinge em especial a juventude negra, que vai ser encarcerada cada vez mais, e nós vamos apresentar um conjunto de ações também para a sociedade. E ouvir muito. Ouvir muito a juventude negra, o que eles estão pensando, quais são as prioridades de fato, com muita tranquilidade, com pé no chão, sabendo que nós não vamos resolver nos próximos períodos todos os problemas que existem em relação à juventude negra e ao extermínio que acontece hoje no Brasil, mas por eu ser fruto dessa luta, por eu construir essa luta desde o início da minha militância, nós vamos ter uma atenção muito especial e uma energia gasta importante para poder superar e diminuir… não vamos acabar ainda, porque infelizmente está muito enraizado o racismo institucional no Brasil, está muito enraizada essa violência contra a juventude negra. Mas nós vamos lutar para diminuir cada vez mais esses índices dessa vergonha nacional, na minha avaliação, que é o assassinato diário que acontece em todo os cantos do Brasil, principalmente nas periferias das grandes cidades.


Por Luana Spinillo
, da Agência PT de Notícias

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