Jefferson Lima: O Brasil entre o passado e o futuro 

Não se pode colocar a estabilidade do país abaixo do interesse político

Foto: Lula Marques/AgênciaPT

Uma frase dita há mais de 50 anos por Ernesto Che Guevara pode ser utilizada com muita pertinência para analisarmos o momento atual: “Um povo que não conhece a sua história está condenado a repeti-la”. A seção presidida pelo réu Eduardo Cunha levou nosso país a navegar em uma máquina do tempo e retroceder mais de 50 anos na direção do reencontro com o período que antecedeu ao golpe militar de 1964, com os mesmos argumentos, narrativas similares e interesses idênticos.

A cada justificativa de voto, a fuga para Deus e a família não esconderam a falta de elementos jurídicos que justificassem a mais radical decisão a ser tomado pelo poder legislativo em nosso sistema presidencialista, interromper um mandato conquistado nas urnas pelo sufrágio universal. A presidenta Dilma vive uma experiência igual à de Getúlio e Jango e isso porque nada mudou em relação aos agentes do golpismo, seus argumentos e objetivos. A única e grande diferença é o método utilizado, mais sofisticado, encaminhado por meio da falsa institucionalidade existente.

Logo após as eleições de 2014, chegamos à constatação de que essa seria a legislatura mais conservadora desde 1964. Neste domingo que passou pudemos ter outra constatação: este é também o parlamento mais pobre do ponto de vista intelectual e corrupto que o nosso país já teve. A sinalização para uma ruptura institucional e a crítica ao abandono do programa vitorioso nas urnas nos apresentam dois elementos centrais para que os próximos passos sejam dados. O primeiro é a falência do atual modelo politico e eleitoral e o segundo é de no possível governo golpista do Temer/Cunha a implementação do programa máximo derrotado nas urnas, não tendo qualquer legitimidade.

O impacto real do golpismo sobre a vida das pessoas residirá no fim das políticas sociais que sustentaram o importante momento vivido na última década, neste momento, defender a democracia é lutar pela continuidade e ampliação de programas como Prouni, Ciência sem Fronteiras, Juventude Viva, Reuni, Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida, investimentos na educação pública, o fortalecimento do SUS e a garantia de que não haja retrocessos nos direitos conquistados com muita luta pelas trabalhadoras e trabalhadores brasileiros.

O futuro para a juventude pobre era ser uma excelente babá, faxineira, ou empregada doméstica, mas, graças às lutas pela expansão da universidade pública e pelas políticas afirmativas do governo Dilma, como as cotas raciais e as destinadas aos estudantes da escola pública, pôde trilhar outro caminho. O possível governo golpista do Temer/Cunha irá reduzir investimento em políticas sociais para a juventude brasileira e teremos uma ruptura da institucionalidade das políticas de juventude no Brasil. É impossível construir ações para a juventude brasileira ao lado de Eduardo Cunha, Bolsonaro, Feliciano, Aécio Neves e cia. Eles deverão reproduzir o que de pior existe no discurso das instituições empresariais e de alguns articulistas da imprensa, acabando também com as políticas dos direitos humanos, LGTB, indígenas, povos e comunidades tradicionais, mulheres, negros etc.

Na área cultural teremos a criminalização de todas as expressões da juventude brasileira, principalmente da juventude pobre, negra da periferia. A criminalização do funk, do Rap, Hip-Hop, sua linguagem – “proibidão” – o “pancadão”, e o ataque às políticas e ao estilo musical como cultura da periferia.

Diante deste verdadeiro déjà vu, muitos desafios apresentam-se a maior geração de jovens que nosso país já teve. O momento mais importante da nossa história, é de muita mobilização pela democracia e por reformas capazes de zelar pela soberania do povo brasileiro e que abram caminhos para um novo ciclo de desenvolvimento econômico e social em nosso país. Esse é o sentimento presente nos atos em defesa da legalidade e o respeito ao resultado das urnas, é preciso mudar política com a realização de uma reforma politica profunda, uma reforma agraria que garanta o direito à terra e valorize a economia familiar, uma reforma urbana que compreenda as grandes cidades como um espaço de vivencia e trocas , politicas habitacionais que garantam o cumprimento da constituição, trabalho decente e uma ampla reforma da mídia no Brasil.

A decisão do futuro do país está na mão de uma briga de torcida e o brasileiro percebe isso. Não se pode colocar a estabilidade do país abaixo do interesse político. Ainda que as pessoas estejam insatisfeitas com o Governo elas se perguntam qual é o real interesse desse Golpe liderado pelo Temer/Cunha.

O povo brasileiro está em luta por novas bandeiras, mas também por tantas outras históricas. Neste momento de perigo a defesa da liberdade e o combate a todo e qualquer tipo de opressão nos aponta um norte a ser trilhado, na direção do sonho de viver em uma sociedade mais justa, fraterna e igualitária. Neste momento o que está em jogo são os nossos sonhos, direitos e riquezas.

Não podemos retroceder a concepção que nos conduziu aos tenebrosos anos de chumbo. As próximas ações tem que ser com muita mobilização social, no local de trabalho, nos bairros, povoados, favelas, cidades na construção da resistência junto ao povo do nosso país. O Brasil precisa de heróis e heroínas do século XXI e a nossa geração não falhará na defesa das conquistas obtidas até aqui e das muitas outras que virão.


Jefferson Lima é secretário nacional de Juventude do governo federal

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