Lara Resende: BC se considera quarto poder e quer enquadrar Congresso
“Achei uma expressão impressionante da arrogância do BC de extrapolar sua competência, suas atribuições jurídicas”, disse o economista, sobre a ata do Copom que manteve juros abusivos de 13,75%
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A última ata do Comitê de Política Monetária do Banco Central, divulgada na terça-feira (28), elevou o tom beligerante adotado pelo presidente Roberto Campos Neto sobre os juros básicos, mantidos em 13,75% e confirmando a agenda em curso de sabotagem ao crescimento do Brasil. As reações ao descolamento da realidade impresso no comunicado do banco, no entanto, soaram alto no país. Uma delas veio do economista André Lara Resende, um dos pais do Plano Real.
Em entrevista à jornalista Miriam Leitão, da GloboNews, na quarta-feira (29), Lara Resende não apenas considerou a medida do BC completamente equivocada, como nociva ao desenvolvimento do país. E mais: Campos Neto foi intoxicado por delírios de grandeza, ao interferir nas atribuições do Executivo e do Legislativo, extrapolando as atribuições legais da instituição.
“Achei uma expressão impressionante da arrogância do BC de extrapolar sua competência, suas atribuições jurídicas”, disse o banqueiro, sobre a ata do Copom emitida por Campos Neto. Em seguida, Lara Resende lembrou as reais atribuições do BC: “Por lei, autonomia operacional para garantir a estabilidade de preço e sustentabilidade do sistema financeiro e o pleno emprego”, pontuou.
“Mas o BC não tem o que dizer sobre questão fiscal, não é atribuição do Banco Central. O BC está se arvorando com uma equipe de jovens tecnocratas que acreditam piamente nos modelinhos equivocados que eles estão olhando e se acham no direito de passar pito no Congresso, o presidente eleito e o Judiciário”, lamentou o economista.
Em seguida, sentenciou: “O BC, com a autonomia que lhe foi concedida, passou a se considerar um quarto poder. É um quarto poder que dá lições de moral e se considera acima dos demais poderes. É muito preocupante”, advertiu o economista.
Sobre a política monetária, Resende apontou onde o Banco Central erra ao determinar a taxa de juros, justificada no patamar atual por um suposto temor inflacionário: “A inflação certamente não é de demanda no Brasil”, afirmou Resende.
Taxa de juros espreme economia
“É inequívoco que taxa de juros alta comprime, espreme a economia, provocando desemprego e recessão, mas isso não significa necessariamente capacidade de reduzir a inflação”, esclareceu o economista. “Muito pelo contrário, pode, inclusive se a inflação for de oferta, você pode agravar o problema de insuficiência de oferta e agravar a inflação”, alertou.
Resende encerrrou o debate inflacionário ao declarar: “A taxa de juros [do Brasil] é uma excrescência no mundo, é a mais alta do mundo, a taxa real é o dobro da segunda mais alta, que é a do México e do Chile, e não faz o menor sentido, é completamente estapafúrdia.
O economista condenou a visão hegemônica de economia no Brasil, segundo a qual a austeridade fiscal deve imperar sobre todos os aspectos macroeconômicos de um país. “Essa visão é dominante entre os economistas do mercado financeiro. Quem aparece na grande mídia são 99% os economistas que trabalham no mercado financeiro”, apontou. ‘
“A grande mídia está completamente dominada por essa percepção, essa visão de mundo”, fulminou. “É mercadismo. E nem o FMI acredita mais nisso. O Banco Mundial não acredita. Não é mais a visão hegemônica que foi até a crise de 2008”.
Da Redação